1. Cor do amor
Em casa, moram conosco seis cães. Cinco, em tempo integral – Domitila, Dominic, Bethânia, Bambino, Arya e Lolla, a visitante constante. Como característica comum, o fato de terem sido resgatados, exceto a Dominic, filha da Domitila, nascida em casa. Outra particularidade é a cor predominante de seus pelos: o caramelo. Quatro dos seis cães se situam nessa gradação. Aparentemente, essa é a cor de grande parte dos cachorros de rua, segundo um levantamento realizado. Em uma pesquisa rápida e informal, feita por mim mesmo, através de observação, confirmei o fato. Junto com o caramelo, a cor preta se faz bastante presente. Certa vez, li um artigo que informava que muitos cães pretos eram abandonados por seus cuidadores, pois “não saíam bem nas fotos”. A nossa preta, Penélope, faleceu depois de 14 anos de uma intensa convivência amorosa. Eventualmente, poderá haver uma explicação adaptativa. Amor não ter cor, mas cores. O caramelo talvez seja a cor matriz do mesclado cachorro de rua brasileiro – a cor comum do abandono… e do amor.

2. Cor caseira
Na periferia, a cor que se sobressai é a vermelha – cor de tijolos expostos – além do cinza-massa-corrida. A predileção por qualquer cor fica em segundo plano, por questões econômicas. O mais comum é o habitante da periferia não pintar suas fachadas, mas cobrir suas fachadas de cerâmica de cores neutras, de custo-benefício mais efetivo, principalmente por causa dos pichadores. Quando encontramos casas que as pinturas externas explodem em cores, é uma visão sempre agradável. A imagem acima exibe um conjunto de casas antigas em aquarela. Não fica na extremidade da cidade, mas na região central. Quanto a mim, a depender da incidência da luz, além da cobertura verde que me rodeia, posso dizer que moro no azul.

3. Cor paulistana
Se há uma cor que poderia expressar a cara de Sampa, essa é o cinza. Em dias nublados, horizonte, céu e chão asfaltado se confundem em uma amálgama que traduz nossas emoções de transeuntes presos no trânsito dos sentimentos movidos a combustão. O ir e vir monocromático entranha-se em nossa perspectiva e nos tornamos alegremente cinzentos, pontuados por uma plena sensação de conforto no caos.

4. Cores crepusculares
Quando o sol se inclina no horizonte, a sua luz incide sobre nuvens, águas, cidades, casas, coisas e corpos, a produzir expressões multicoloridas da palheta do pintor crepuscular. O entardecer guarda a melhor imagem do dia cumprido e a expectativa da noite que se avizinha, acolhedora. Eu tenho por mim que se há felicidade, ela se afigura nessa hora: vou embora em tarde ser feliz!

5. Cor da noite
A noite perdeu a cor original nas grandes cidades. O belo negro da tessitura noturna onde pontuam as estrelas e a Lua em céu limpo, recebe a luz indireta das luzes artificiais das metrópoles, que nos prende às suas limitações. Perdemos o mistério da penumbra – bênçãos e perigos. Basta nos afastarmos dos grandes centros, caminhar por descampados, para vislumbrarmos as possibilidades do Universo aberto à exploração de nossos olhos e mentes e a sensação de nos perdermos em nós.

6. Cor de feira
A feira é uma festa para os olhos. As cores básicas perdem o sentido no festival vibracional em frações e frequências coloridas. O vermelho não é só vermelho, mas vermelho-tomate, vermelho-cereja, vermelho-pimenta. O verde não é apenas verde, mas verde-limão, verde-abacate, verde-alface. A abóbora cobre a abóbora, a cenoura, o pêssego. Maracujás, mangas, mamões, tangerinas e laranjas se vestem de… laranja. Os roxos decoram cebolas, beterrabas, figos e, profundamente, a tez quase negra da jabuticaba. Outras cores, que variam do branco ao cinza, atendendo todas as gradações do espectro luminoso, dançam diante de nossos olhos, ao som dos pregões e bordões enviados pelos feirantes. Os sabores se adivinham de doces a ácidos, de fracos a fortes. As formas seduzem em curvas das mais suaves a mais rudes e ásperas ao toque. Os odores se misturam e ultrapassam os limites de cada barraca, entre intensos e abatidos, terrenos. Vitais, todas as feiras são verdadeiros festivais dos sentidos.

Darlene Regina — Isabelle Brum — Lucas Buchinger
Mariana Gouveia — Lunna Guedes