Projeto Fotográfico 6 On 6 / Bichos

Nesta postagem falarei de bichos. São projeções que já fiz sobre a figura de nossos companheiros de viagem, representados de forma icônica. Fui buscar lembranças que postei no Facebook ao longo dos anos. Além destas, às quais destaquei, existem muitas outras que já havia destacado em textos aqui no WordPress. São referências que me inspiraram de diversas formas – pela força, pelos predicados raros, pela beleza. Evitei falar dos outros animais, lembrando que também somos um, com os quais normalmente convivemos cotidianamente, como cães e gatos. No meu caso, por causa das minhas filhas, também já convivi com calopsitas, porquinhos-da-índia e Tortuga e a nossa tartaruga de dezenas de anos, ainda viva.

Compramos na beira da estrada, em uma das nossas viagens, alguns enfeites de jardim. Enquanto o próprio não fica totalmente pronto, as deixamos espalhados pela sala de jantar. As garças guardam uma das passagens e eu as acho bastante graciosas, pois exibem um permanente olhar de curiosidade. Os sapos bem que podiam consumir alguns pernilongos, que insistem em nos perturbar. Enquanto isso, o simpático burrinho carrega a sua eterna carga… (Março, 2015)

Durante o meu café da manhã, o tipo me olha de frente e me diz:

– Tu és muito burro, meu caro!

Sem me ater ao fato de que quem se dirigia a mim era um mero enfeite de jardim promovido a adorno caseiro, respondi de forma abrupta e ressentida:

– Sou caro e você é muito baratinho!

Rapidamente, o burrinho respondeu, sem pestanejar (e como conseguiria?):

– Sou baratinho, mas o maior burro entre nós dois, aqui, és tu!

Lembrando do que aconteceu no dia anterior, não pude deixar de concordar. Ainda surpreso pelo uso da segunda pessoa pelo burrinho para se expressar, me lembrei que foi comprado, baratinho, em terras fluminenses. No entanto, com certeza, da próxima vez que falar com ele, serei eu a chamá-lo de “meu caro”… (Abril, 2015)

Cena de sexta no centro da cidade – o eternamente empinado Cavalo Rampante – escultura do artista italiano Pericle Fazzini, doado para o Círcolo Italiano pelo governo italiano em 1974. Fica de frente para a Avenida Ipiranga com a São Luís, junto à Praça da República. O Círcolo Italiano, fundado em 1911, ocupa dois pequenos prédios anexos ao Edifício Itália e mantinha as suas instalações na área 40 anos antes da construção do prédio, em 1965. (2017)

Originalmente, o Cavalo Rampante era o símbolo do Conde Francesco Baracca, um lendário aviador da Força Aérea Italiana, que o pintava na parte lateral dos seus aviões. Baracca morreu muito jovem, a 19 de Junho de 1918. Baracca queria o cavalo nos seus aviões porque o seu esquadrão, os “Battaglione Aviatori”, estava incorporado num Regimento de Cavalaria e tinha fama de ser o melhor cavaleiro da sua equipe. Acabou por ser incorporado aos símbolos da Ferrari e da Porshe, máquinas movidas a muitos HPs. O cavalo é talvez o animal mais importante no desenvolvimento da História humana. Durante milênios, foi domesticado e usado para servir de transporte, auxiliar nos trabalhos pesados, esportes e nas seguidas guerras que forjaram as sociedades belicosas que formamos em todos os cantos da Terra.

Lagartos na parede – novos moradores de nossa casa. São répteis, mas quando eu era um garoto, me identificava com os anfíbios. Eu me sentia como um ser híbrido, meio marinho, meio terreno, porém inadaptado de modo geral. Hoje, que superei essa fase, vejo com alegria a chegada desses bichos trazidos pela Tânia e pela Lívia. (2016)

O burrinho, convencionamos meu irmão Humberto e eu, se tornar o símbolo ideal para nossa pequena empresa, colocado em nosso cartão de apresentação. Na época que começamos, havia um jovem jogador argentino chamado Ortega, que fora considerado mais um dos muitos sucessores do Maradona. Seu apelido era “Burrito” Ortega e como trabalhávamos na base da produção de eventos na montagem de som e luz, consideramos que a imagem do burro de carga é, antes que um anátema, mais um elogio.

O meu lado literato fez com que colocasse a imagem do burrinho na página da Ortega Luz & Som como imagem do perfil no perfil. Diz respeito ao conto “Burrinho Pedrês”, em Sagarana, de Guimarães Rosa. Sete de Ouros, nome do burrinho, já idoso, foi o único que se salvou, num transporte de gado, na travessia do Córrego da Fome que, pela cheia, transformara-se em rio perigoso. Vaqueiros e cavalos se afogaram, exceto Badu e Francolim, um montado e outro pendurado no rabo do burrinho. Qual foi o seu segredo? Sem poder lutar contra a correnteza, o bicho deixou-se levar a seu favor… (2011)

Pela estrada a fora, o pássaro da manhã bateu asas e voou… (2019)

Não é incomum vermos bichos desenhados nas nuvens. Quando crianças, olhamos muito mais para o céu do que quando envelhecemos. Bem, eu não deixo de exercitar o poder juvenil de sonhar e desvendar segredos celestes. Gosto de horizontes nebulosos e de reflexos solares a construir imagens que, após passar pelo fundo dos meus olhos, criá-las ou referendá-las.

Texto participante do BEDA: Blog Every Day August

Lunna Guedes / Bob F / Roseli Pedroso / Mariana Gouveia / Cláudia Leonardi / Denise Gals / Suzana Martins

BEDA / Amor & Ser

Ah, o milagre do amor…

Eu, desde muito cedo, me acostumei a separar Amor de amor. Amor designaria aquele gerado sem segundas intenções, puro e autônomo, existente mesmo sem ser correspondido, mesmo porque é generalizante. O de fundo “romântico”, baseado no afeto mútuo, vive no raso das emoções, mais “fácil” de ser correspondido, assim como descartado. Origina-se na simpatia e expresso de maneira menos elaborada. Normalmente pede envolvimento físico, mas pode se colocar numa condição superior através da convivência. Também comecei distinguir Ser de ser, em que o primeiro significaria alcançar a plena capacidade de existir, Sendo. Neste caso, “ser” representaria a situação transitória da existência.

Quando falo do milagre do Amor, deve-se ao esforço que devemos fazer para ultrapassar as muitas barreiras que muitas vezes erguemos para conseguirmos desenvolver tamanha empatia a ponto de vir proporcionar sentimentos mais elevados. Para dificultar, entra em jogo as diferenças inerentes à nossa presença no mundo – que mais separam do que unem as pessoas. Muitas vezes, para darmos vazão ao amor que nos move intimamente, desenvolvemos relações mais profundas com outros seres que não os humanos. 

No amor romântico, assumimos formas relacionais que geram emoções alteradas, aflitivas, geradoras de conflitos entre as partes correspondentes. O sistema sob o qual a Sociedade se desenvolveu impede que seja diferente. É comum que não progridam, a não ser que o relacionamento seja reinventado de comum acordo. É algo que tem ganhado maior número de adeptos abandonar os arranjos tradicionais, buscando novos feitios que muitas vezes incorporam mais do que dois componentes no convívio mútuo. No entanto, dado ao aumento da violência entre os casais, principalmente do homem contra a mulher, têm-se desejado evitar uniões tradicionais, prioritariamente por elas.

Esforço maior ainda é saber o que seja esse tal de amor romântico. Aliás, sei. Que se resume em não saber de si. Acho que esse amor tem o papel de nos perdermos. Descobrirmos as nossas fraquezas, abaixarmos as nossas defesas, sofrermos os ataques do “inimigo”, nos rendermos ao sentimento. Poderia se dizer que não precisaria ser assim. Concordo, mas a intensidade tem tanto a nos ensinar. Sem ela, não vale a pena vivê-lo. Não amarmos com todo o ardor, nos desmontarmos, é um bem-vindo exercício de humildade. Podemos vir a morrer. Mas tenho por mim que renascemos melhores.

Muito recentemente, percebi que para Amar ao próximo como a nós mesmos, recomendado por um grande Avatar como mandamento precípuo, nos Amarmos é fundamental. Não pode haver correspondência sem que nos aceitemos com todas as nossas falhas. Sabermos que Somos, ainda que imperfeitos neste instante que são as nossas momentâneas vidas terrenas. Enfim, amar, apesar de tudo, é uma introdução a um movimento que abarca um sentido bem mais complexo, superior… enquanto não alcançamos o Amor.

Foto por lil artsy em Pexels.com

Texto participante do BEDA: Blog Every Day August

Roseli Peixoto / Claudia Leonardi / Bob F / Lunna Guedes / Suzana Martins / Mariana Gouveia

BEDA / Instantâneos Paulistanos*

Em *2011 escrevi: “Castelinho da Rua Apa, ponto tenebroso da cidade, não só pela história bastante sombria do lugar, onde ocorreu um duplo assassinato — mãe e dois filhos advogados. Mesmo antes da edificação do prédio, na área aconteceram episódios estranhos. Atualmente, é símbolo do descaso com que foi tratada esta região de São Paulo“. Revisando o que foi dito na última sentença, o edifício foi restaurado e desde 1996, a ONG Clube das Mães do Brasil tem a concessão para utilização do local.

Amizade. Enquanto o cão descansa com a amiga no colchão, o terceiro do grupo espera que o tempo passe… *2014

Na academia, estava entretido nos exercícios de supino. Entre um intervalo e outro, você, vestida de amarelo, chamou a minha atenção. Entre tanto movimento, o seu corpo posava lindamente para uma foto roubada. *2011

Vista da Praça Princesa Isabel, onde vemos Duque de Caxias estacionado com o seu cavalo e seu braço em riste com uma espada a mão… para sempre. À esquerda, abaixo, um catador de papel, figura onipresente na região. Mais ao longe, no horizonte, Cristo, no topo do prédio do Colégio Sagrado Coração de Jesus, observa o domingo na Cracolândia. Bem ao fundo, temos o perfil da Serra da Cantareira.*2009

Participante de BEDABlog Every Day August

Roseli Pedroso / Mariana Gouveia / Suzana Martins / Lunna Guedes / Claudia Leonardi / Bob F / Denise Gals

BEDA / Certo & Errado*

Somos o casal errado,

a viver um amor ilegal…

Porém, no momento certo,

porque para amar

é sempre o tempo ideal…

Vivemos a paixão exata

para esta era incerta –

turbulenta,

absurda,

contumaz…

Porque estar apaixonado

é viver sem um traço de paz…

Sentimo-nos rejuvenescidos

pelo fogo que nos forja…

Queimamo-nos em nossa fuga

pontual – data marcada –

instante fugaz,

ainda que eternizado…

Entre o certo e o errado,

batemos como o pêndulo

de um relógio orgânico,

de um lado para o outro,

ao ritmo de nossos corações,

à espera da hora que expiremos

o nosso último fôlego…

*Poema de 2016

Participante do BEDA: Blog Every Day August

Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Bob F / Suzana Martins / Roseli Pedroso / Claudia Leonardi / Denise Gals

BEDA / Deseducação

De acordo com uma reportagem de O Globo, “O Governo de São Paulo recusou livros didáticos do MEC para usar apenas seu próprio material digital em alunos do 6º ao 9ºano do Primeiro Grau. O Estado alegou que possui material didático próprio para manter a ‘coerência pedagógica’ e que escolas têm a orientação de providenciar a impressão do conteúdo digital sempre que houver necessidade.

O governo de São Paulo decidiu não aderir ao Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD), do triênio de 2024 a 2027, para o segundo ciclo do ensino fundamental (entre o 6º e o 9º ano). Segundo Ângelo Xavier, da Associação Brasileira de Editores e Produtores de Conteúdo e Tecnologia Educacional (Abrelivros), essa é a primeira vez que isso acontece desde a criação do programa, há mais de 80 anos. Com isso, os estudantes de São Paulo, a partir do 6º ano, só terão material digital. Para os anos iniciais, material digital com suporte físico; nos anos finais e ensino médio 100% material digital”.

Lembrando que não há custo do Estado no recebimento do material didático, foi decidido aderir apenas à compra de obras literárias para o PNLD e do material didático para a educação de jovens e adultos (EJA). Foi uma tomada de decisão unilateral, sem consulta às escolas ou especialistas, pelo Secretário da Educação paulista, Renato Feder. Obviamente, alinhado à orientação do Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

O carioca e bolsonarista Tarcísio foi uma invenção do ex-presidente brasileiro para concorrer ao Estado que se constitui no segundo orçamento nacional, atrás apenas do Brasil. Antes de ser colocado no jogo, não conhecia São Paulo e não saberia distinguir localizações tão distantes quanto São José dos Campos e São José do Rio Preto. Eleito pela população paulista majoritariamente conservadora do Interior, está tentando implementar uma visão programática à Direita.

O sujeito disse a que veio ao trazer a visão belicista à Segurança Pública inefetiva no Rio de Janeiro. Permitiu e abençoou uma operação gigantesca, utilizando uma força composta por 600 homens na invasão a uma favela no Guarujá, em resposta à morte de um PM da ROTA. Até o momento, a operação gerou 14 mortos e contando, com a acusação recorrente de moradores na prática de torturas para obtenção de informações e execuções.

No Litoral Paulista, devido ao Porto de Santos, grandes traficantes com ramificação internacional, mantém o domínio de comunidades que recorrentemente foram deixadas de lado pela Administração Pública com relação aos investimentos em melhorias da infraestrutura. Seria o caso de uma operação que envolvesse a utilização de inteligência policial (o que no Brasil parece ser uma contradição em si) do Estado e da Polícia Federal. Mas Tarcísio pretende que São Paulo se torne um enclave opositor às políticas governamentais do Governo Federal.

O que parece contraditório é que o avanço tecnológico no combate à letalidade na condução da segurança – o uso de câmeras nos uniformes policiais pretende impor o material didático virtual como única alternativa de ensino.  No caso da Educação, o que parece ser um avanço, esbarra na precária rede de Internet nas escolas, além da falta pura e simples de tablets, laptops e computadores de mesa suficientes para todos os alunos nos próprios escolares. Mas quando ocorre uma ação dessa turma dessa magnitude, não podemos deixar de perceber que o custeio de novos apetrechos terá um gasto bastante atraente para alguns agentes da área digital ligados ao financiamento da sua campanha ao governo paulista.

Eu conheço um pouco da realidade de escolas estaduais na Capital e sei que ainda que sejam fornecidos aparelhos suficientes, a estrutura digital é deficiente para atender a esse plano que visa, prioritariamente, o afastamento da orientação do Governo Federal na área didática. É uma guerra ideológica escamoteada pelo termo “manutenção da coerência pedagógica” paulista. Sei que o futuro será a utilização cada vez maior de recursos digitais. O que não quer dizer que seja exatamente um progresso humano, mas o subdesenvolvimento de funções mentais, físicas e psicológicas de nossos jovens.

A experiência sueca, que buscou a mesma orientação agora preconizada, deu meia volta, já que os índices de aprendizagem caíram drasticamente. A começar com a quase extinção da escrita à mão, já referenciada como excelente para o desenvolvimento motor e cognitivo. Uma decadência de mão única para a queima virtual de bibliotecas inteiras e tentativa do controle absoluto sobre o comportamento humano, finalmente condicionado à virtualidade.

Texto participante de BEDA: Blog Every Day August

Bob F / Roseli Pedroso / Suzana Martins / Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Claudia Leonardi