Tânia*

Tânia e eu, em 2018, completamos mais de 30 anos de mútuo “conhecimento”. Quando convivemos com alguém por tanto tempo, talvez possamos identificar certas características básicas e dizer: essa é fulana. No caso dela, eu diria que ainda se conseguisse elencar todas as suas capacidades, talvez não fossem esses os dados pelos quais ela gostaria de ser reconhecida como ser humano. Apesar de sabê-la capaz de várias ações, em várias frentes, algo me diz que os cursos que fez e competências nas diversas áreas de atuação não é o reconhecimento que quer.

Mulher do interior do Rio, soube enfrentar São Paulo e desvendá-la, a ponto de talvez conhecê-la melhor do que eu, que nasci aqui. Conseguiu avançar em proficiência e qualidade em sua atividade na área da Saúde, comprovada e certificada. Chegou a atuar no órgão máximo regional de sua profissão e continua a trabalhar, agora nacionalmente, para a melhoria das condições de trabalho de seus pares. Mas ainda acho que não seja por isso que gostaria de ser lembrada.

Sendo uma mulher de opiniões fortes, que não se escusa de colocar o que pensa, encontrou oposição e refutação às suas colocações. Combateu o bom combate de ideias sempre com clareza de posicionamentos e inteligência. Mostrou aptidão para saber conciliar as partes envolvidas em vários embates e não foge à luta quando é chamada para tal, defendendo quem com ela estiver ao lado. Por isso talvez seja rememorada, porém não creio seja apenas por isso que seu nome ecoará por ouvidos de combatentes futuros.

Ao acompanhá-la de perto por todos esses anos de convívio íntimo, percebi que ela tem mudado a perspectiva com a qual visualizava a vida, antes. Garotinha impedida de ter cachorros por seu pai, hoje se compadece por cada cãozinho que vê ao relento, perdido por aí. Começou a se aproximar de nossas amigas plantas e tem percebido cada vez mais fortemente que elas retribuem em energia o amor que a elas devota. Suas conversas têm sido cada vez mais frequentes. Mãe abnegada, com a mesma facilidade que briga com as nossas meninas — Romy, Ingrid e Lívia — se desdobra para realizar como puder suas necessidades e desejos. Acho que mora definitivamente nos seus corações.

Por fim, o que poderia dizer este seu companheiro de jornada em mais da metade de nossas vidas senão que nosso amor tem evoluído para formas simples/complexas de manifestação. Pode ser o mimo mínimo, apenas para agradar ou o esforço sem medida para fazer concretizar um sonho maior, como deixar nossa casa um lugar aprazível para recebermos amigos e amigos das filhas. Ainda temos arranca-rabos e terminamos muitas vezes como lagartixas que se recolhem no mesmo ninho, a espera que nossas partes perdidas voltem a crescer mais fortes. Enquanto tivermos essa dinâmica entrópica que criamos para sermos inteiros numa relação una, seremos um casal que se importa um com o outro.

Tenho certeza que é pelo amor que a Tânia tem espalhado pelo mundo ao cuidar, como Enfermeira, daqueles que sofrem, os curando ou, minimamente, aliviando suas dores, que terá o seu nome reconhecido. Pelo amor dos nossos amigos cachorros que receberam abrigo, alimento e carinho em sua casa, muitos que depois foram para outros lares e os que estão conosco que receberá lambidas eternas em seu coração. Pelo amor que devotou a quem está próximo, tão próximos que já não sabem viver sem ela em suas vidas.

*Texto de 2018, por ocasião de seu aniversário, a 24 de Novembro.

5.5*

Às portas de completar 62 anos, posto esta minha interpretação sobre viver, realizada no dia 9 de Outubro de 2016*, data do meu aniversário. Talvez, faça outras. São como exegeses da história de um sujeito contraditório em busca de uma identidade coesa.

O que e viver, exatamente?

Estar a consumir o ar? Apenas deglutir, digerir comida e excretar substratos? Mover-se de um lado para o outro, em busca de visões que lhe comovam? Escutar sons que lhe movam, tocar peles que lhe aqueçam, beijar sabores em bocas outras, cheirar perfumes vários?

O que é viver, por certo?

Amanhecer nascido, entardecer adulto, anoitecer velho, descer ao túmulo no final do dia? Trabalhar para morrer cansado? Chorar, sorrir, tossir, engolir e vomitar, beber e maldizer a sorte de ser sem ter, de ter sem aproveitar? Gerar e criar filhos, enterrar os pais?

O que é viver, afinal?

Para mim, viver é poder fazer perguntas fundamentais… E ser respondido com melhores e mais profundos questionamentos… E obter como saldo uma única certeza todos nós fomos criados para amar! Esse é um testemunho de alguém que sempre duvidou do amor, porque não se permitia amar. Sofri e fiz sofrer por não me aceitar como sou um homem que ama… De todas as questões que me coloquei, chego ao resultado de que quero ser cinco vezes cinco mais cinco vezes cinco mais cinco um amante e amoroso ser…

Tarado*

Em 7 de Janeiro de 2022*, em entrevista à TV Nova Nordeste, de Pernambuco, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) questionou o interesse dos técnicos da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que aprovaram a vacina contra a Covid-19 para crianças. “O que está por trás? Qual é o interesse da ANVISA por trás disso aí? Qual o interesse daquelas pessoas taradas por vacina? É pela sua vida? É pela sua saúde? Se fosse, estariam preocupados com outras doenças no Brasil, que não estão”, disse o chefe do Executivo. Falácia atrás de falácia, o atual ex-presidente e futuro presidiário por crimes de todos os níveis e proporções, apresentava uma lógica distorcida ao negar a emergência sanitária que então vivíamos. Logo após a essa declaração, surgiu “Tarado“, a qual publico aqui.

“tarado…
sou tarado por viver!
por vezes, essa tara diminui
e não me importaria de morrer
mas quando estou na boa vibração
sou tarado por estudar
sou tarado por escrever
sou tarado por saber
sou tarado por conhecimento
sou tarado por encontrar pessoas
sou tarado por rir por rir
sou tarado por amar
sou tarado por beijar
familiares, amigos, amantes, amáveis seres
sou tarado por bichos
sou tarado por ver gente feliz
sou tarado por ajudar o próximo
sou tarado por fazer o melhor
sou tarado por inspirar o bem
sou tarado por plantas
sou tarado pela Natureza
sou tarado por meu planeta
sou tarado por Cultura
sou tarado por cantar e dançar, apesar não saber
sou tarado por diversidade
sou tarado por múltiplas expressões
sou tarado pelo cheiro da terra
sou tarado pela água do mar
sou tarado pela brisa
sou tarado pela chuva
sou tarado pelo Sol
sou tarado por igualdade de oportunidades
sou tarado por ver uma sociedade igualitária
sou tarado por viajar fisicamente e pela mente
sou tarado por comer
sou tarado por arroz e feijão
sou tarado por frutas
sou tarado por beber (principalmente água)
sou tarado por ver nascer
sou tarado por chorar ao ver morrer
sou tarado por mudar para me aprimorar
sou tarado por atividade física
sou tarado por Saúde
sou tarado por proporcionar a alegria
sou tarado por lutar
sou tarado pela Ciência
e pela consciência
sou tarado por me vacinar
sou tarado por querer um País melhor
não sou tarado por me satisfazer com o mal
não sou tarado por armas
não sou tarado por deixar morrer
homens, mulheres e crianças
não sou tarado por matar
pessoas e o meio ambiente
não sou tarado por eliminar as minorias
não sou tarado por destruir o equilíbrio humano
não sou tarado por causar a desunião
não sou tarado pelo atual sistema
político, econômico e social
sou tarado pela Democracia
sou tarado por retirar o maléfico do Poder
sou tarado por reafirmar a Vida
sou tarado por viver!”

O Reverso*

O reverso da medalha…

O outro lado da moeda…

O tempo que retorna…

O Clima que responde…

Aos efeitos reiterados

Dos delirantes

E alienados!

A Terra gira se transforma!

Mas mantém a lei constante

De que tudo é inconstante

Incluindo o Homem

Que sobre ela pisa…

Volto no Tempo transmudo

A noite em dia

Trago o Sol

Para mais perto da chuva

De ontem

Mais longe da água que verterá

Amanhã

Festejo o interregno

Que hoje faz descansar

A cidade de pedra…

*Poema publicado em 2015

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Passos

Revolvendo o baú de fotos e fatos do Facebook, encontrei algumas das minhas passadas pelo calendário em imagens e locuções. Foi uma reportagem interessante. Dei de frente com situações das quais não me lembrava tanto. Ou quase esquecidas. Percebi que, de alguma maneira, tenho uma linha de pensamento e comportamento que tenta flagrar o que é incomum no comum dos dias. Talvez possam não ser interessantes, mas por algum motivo, muito me interessaram.

“Quem conhece a casa onde mora? A resposta parece ser óbvia, no entanto poucas pessoas dão-se a saber sobre o seu próprio corpo e de suas necessidades básicas, para além das usuais – comer, beber, dormir, excretar. Normalmente, isso só ocorre quando tentamos reparar algum dano causado por um acidente ou por nosso estilo de vida que possa gerar danos como a obesidade ou a Diabetes. Para quem quer colocar a sua casa em ordem, antes que algum mal lhe aconteça, procure um Educador Físico“. Este #TBT de 2011sobre uma foto de 2010, mostra uma pequena parte da minha turma na preparação de atividades práticas. Ao centro, dois de nossos professores. Dois anos depois, me tornaria Bacharel Em Educação Física.

Rua Santa Ephigênia, onde as antigas construções abrigam lojas de equipamentos de ponta em vários setores da tecnologia. É uma festa para os meus olhos, mas não nesse aspecto. Para mim, o que é precioso reside nas edificações… É comum aproveitar a abertura de algum portal do Tempo e viajar para o Passado. São breves instantes de percepção extrassensorial em que capturo algum momento especial, testemunho a História a acontecer em décimos de milissegundos e volto a caminhar entre carros, pessoas e luzes de LED nestes dias de 2016…”.

“A Luz foi engolida por grossas camadas de nuvens escuras, repentinamente! O calor ameno deu lugar ao frio que se projetou por nossas peles desprotegidas. O ser humano vem a perceber, nesses momentos de humor ciclotímico do tempo, que é muito frágil diante do clima, diante da Terra. Será por inveja que queremos destrui-la?” – Em 2015.

“Antes, não bastava iluminar. Em algum momento, perdemos o dom de iludir. Agora, tudo é real e feio. Trocou-se a sinceridade da imaginação pela franqueza do fato. Descobri que sou um homem passadiço em um mundo pós-moderno.” – Em 2017, no Clube União Fraterna, fundado em 1925.

“Apesar de tudo, ainda temos a Lua…” – escrevi sobre uma imagem sacada às 6h40 da manhã do dia 5 de setembro de 2012, enquanto eu esperava o ônibus para ir à faculdade. Utilizava o meu celular que, mesmo sem tantos recursos, me dava a chance de capturar o momento. Criticaram a feiura da imagem. A imagem não é feia, mas o que mostra, sim. Respondi que “esquisito que sou, primeiro vi a Lua. O entorno só se revelou depois, quando passei a imagem para o computador. A Lua é linda, limpa, mas inóspita”.

“Ontem, a caminho do evento que fizemos na região da Paulista, antes da chuvarada que se abateu sobre São Paulo, me perdia em pensamentos velozes entre os carros parados. Em dado momento, vi refletido no vidro traseiro do táxi à minha frente o céu azul carregado de nuvens que se precipitariam em água logo depois. Naquele momento, pareceu-me que adentrava em outra dimensão espelhada da nossa. Eu me lembrei de algo que escrevi quando garoto: “Quem tem miopia e imaginação, cria e crê idiocrasias…” – Em 2011

Participam:


Claudia Leonardi / Mariana GouveiaLunna Guedes / Roseli PedrosoSilvana / Suzana Martins