Rebelião*

Bethânia, na mureta. Embaixo, da esquerda para a direita: Domitila, Dominic e Arya.

— Então, cachorrada, precisamos nos organizar para exigir certas regalias!

— Quem é você para liderar a turma, Bethânia? Eu sou a mais velha aqui!

— Eu sou a queridinha do papai e da mamãe, Domitila! Você sabe disso!

— Eu não gosto de você! Você implica comigo!

— Ah! Desculpa, Dominic… Tenho ciúme! Perco o controle!

Tudo bem! Qual o seu plano? Como é que voltaremos a dormir na sala?

— Vocês, na sala! E eu, no quarto! É simples! Vamos recusar carinho!

— Eu gosto tanto de dar e receber carinho!

— Ah, Arya! Você é tão carente!

— Mas eu gosto…

— Todas nós temos que estar de acordo, Arya!

— Tá bom! Vou me esforçar…

— Ainda bem que ele não entende o que estamos latindo… Tá lá, tirando foto… Ele nos ama…

— Nossa! Ele é tão fofo!

— E cuida de nós! Prepara e dá ração com misturinha…

— E faz um carinho tão gostoso! Olha! Ele vai descer…

— E aí, meninas? Está tudo bem com vocês? Vamos descer?

— Au! Au! Au! Sim! Sim! Sim!

— Au! Au! Quero carinho na cabeça, como só você sabe fazer!

— Au! Au! Passa a mão no meu pelo?

— Au! Au! Eu quero comidinha, de novo!

— Au! Au! Sai de perto dele, Dominic!

*Tentativa de rebelião realizada em 2021

Temporizador*

Com o temporizador.
Como contemporizar o tempo com o corpo e a mente?
Como, quando muitas vezes a mente voa para além e o seu corpo começa a sentir o peso dos anos, retardando o seu passo?
Como temporizar a dor, para que saibamos o seu tempo e lugar?
Como continuar, quando em tantas oportunidades, devemos priorizar o compromisso marcado no tempo para depois apostarmos no dia em que teremos tempo para estarmos juntos de quem amamos?
Ao final de tudo, creio que haja um temporizador universal que adia o tempo fatal para o nosso corpo, enquanto eterniza o nosso espírito ele se chama amor…

*Texto e imagem de 2014