BEDA / Paixões & Loucura

Assim como águas passadas movem moinhos…
Quando me encontro perdido é quando me encontro
Porque não me canso de me procurar
Em meu âmago sinto que prefiro me arrepender
Do que fiz do que não fiz
As consequências são escolhas por mais que não as controlemos
Mesmo porque quase nunca controlamos nada
“Sempre” e “nunca” decidi não usar mais certa vez
E por isso vivo me contradizendo
Quase sei o que não sei… aprendi
Desconhecer é um caminho sem volta
Desconhecer o mundo, o outro, a si
É como renascer a cada manhã
Novo e ignorante de sua essência
Mas ciente do que seja essencial… respirar
Como se sabe?… respirando
De obviedades também se vive
Como morrer, a maior obviedade que existe…

BEDA / Profissão: Brasileiro

Em Agosto de 2011, eu usei esta imagem acima, extraída de um grafite realizado num muro da minha região, como foto de perfil. Justifiquei desta forma: “Imagem de nossa identidade pública, por autor anônimo. Cá, para mim, a chamo de “Brasileiro, uma profissão”. Completei: “Usamos fantasias, jogamos jogos de azar, acendemos velas para falsos deuses, rimos sarcasticamente da nossa “má sorte” e empunhamos a bandeira nacional como um estandarte de guerra!”

Talvez eu já sentisse no ar a guerra surda nos bastidores do poder ou constatasse cabalmente que agíamos contra nós mesmos desde os lares mais simples até os mais glamourizados numa espécie de autossabotagem de nosso destino futuro — hoje. Industrialmente, pelejamos para derrubarmos as nossas melhores chances de melhorar a nossa qualidade de vida como um todo. Quem chegou ao patamar desejável de estabilidade parece ir contra quem queira alcançar esse status, como se não tivesse lugar para todos. Fruto do egoísmo, talvez, é uma opção burra em rumo ao nosso subdesenvolvimento permanente. E que foi transformado em projeto ideológico por parte da população.

Enquanto existem ilhas de bem-estar em vários setores sociais, há aquelas frequentemente açoitadas por tempestades e furacões. Não apenas no sentido figurado, mas igualmente literal, graças ao desequilíbrio ambiental, para qual estou atento há 50 anos, desde o começo da minha adolescência, com a produção de textos pessoais e redações escolares em que insistia mostrar a opção tenebrosa de trabalharmos contra a Natureza. É como se o fato de sermos “brasileiros” — atividade de extração do pau-brasil — se configurasse em um destino irreversível. Atualmente, já liquidamos com 1/3 da nossa cobertura vegetal original. Como fumantes inveterados, estamos queimando o nosso pulmão, a Amazônia. Ao mesmo tempo que reduzimos a cobertura aquática do Pantanal a 4% de antes (!).

Enquanto certos setores produtivos vinculados à produção de comodities jogam contra o patrimônio universal dos ricos biomas, respiramos um ar pior, seco e poluído. Vivemos um clima instável, em que somos impedidos de nos locomovermos por causa das enchentes. Isso, quando não perdemos a vida, simplesmente. Enfim, construímos o paraíso da barbárie na Terra. No chão e fora das cercas que impedem (aparentemente) que os moradores de condomínios sejam afetados, vivendo fora da realidade da maioria. Mas quando se aventuram fora da proteção ilusória, muitos acabam vítimas da violência por causa de suas próprias escolhas na manutenção do elitismo segregacionista, ainda que supostamente inconscientes.

Nunca fui tão pessimista num futuro incerto quanto à sanidade de nossa sociedade. Ainda que muitos de nós procuremos agir de maneira diferente, somos afetados pela produção avassaladora de um modelo de vida que nos levará à catástrofe. Só os loucos de pedra, sobreviverão…

BEDA / Luz & Sombra

Há dias de luz que nos ofuscam a visão
Enquanto estamos quase cegos
Sombras nos cercam como que atraídas
Para o abismo que nos tornamos
Antes, evitava pensar estando assim
Agora prefiro mergulhar em queda livre
Penetrar em profundidade no meu eu
Saborear a falta de referências sobre a vida
Beijar a possibilidade da morte na boca
Fazer amor com o obscuro e a impermanência
Num triângulo amoroso com a imortalidade
Voltar a respirar acima da superfície
Me assenhorar de mim e dizer simplesmente
Sim!

BEDA / Mares & Humores

Mares

Em março de 2012, a Tânia e eu embarcamos em um cruzeiro pelo litoral de São Paulo e Rio, ida e volta. Eu, que considero morrer no mar bastante poético, à bordo do Navio Costa Fortuna usufruí de facilidades e serviços que evitaram que a minha experiência com o poderoso reino de Poseidon fosse mais íntima e muito mais cômoda do que em muitos lugares em terra neste planeta Água. Não mareei, assisti a espetáculos, brinquei na piscina, frequentei à academia, consumi bons jantares e sequer pus o pé longe do barco nas paradas. Foram três dias intensos e inesquecíveis.

Texto de 2021

Foto por Prayag Bhowmik em Pexels.com

Maus Humores

Estou sem nenhuma paciência com certos tipos. Bloqueei preventivamente um sujeito que talvez nunca visse na minha vida. Nos comentários de uma postagem sobre a viúva de Theo Van Gogh, irmão de Vicent, que foi quem guardou e depois divulgou a obra do grandíssimo pintor, tenta minimizar seu trabalho. Ele se diz conservador. Como se esse tipo de postura o isentasse de ser minimamente plausível, coerente ou perspicaz. Tenta desvalorizar a contribuição de Joanna para não dar protagonismo a uma mulher…

Texto de 2023

BEDA / A Natu…Reza

Os abraços que recebemos…
As amarras que a vida tece…
Somos silhuetas sob o Céu e o Sol
Somos sombras vivas…
O que é nebuloso?
O que é claro?
O que passa?
O que fica?
O que temos?
O que vemos?
O que somos?…
Talvez, a soma de tudo isso…
Talvez, nada…