25 / 04 / 2025 / BEDA / Horto*

Ontem, precisava estar comigo mesmo e sentir vibrar o meu corpo de uma maneira que pudesse me sentir vivo, apesar da catástrofe que se abateu sobre o País nos últimos dois anos e meio por escolha da maioria de nós.

A Pandemia de Covid-19 realçou a fratura exposta da sociedade brasileira, como se fôssemos um paciente em coma após um acidente. Se vamos nos recuperar coletivamente? Eu, não sei… Mas pessoalmente, estou tentando sobreviver da maneira que posso. Busquei estar comigo mesmo ao mesmo tempo que percebesse a minha conexão com o exterior natural.

Para isso, fiz o percurso de cerca de 4 Km a pé até o Parque Estadual Alberto Löfgreen e por lá caminhei outros 5 ou 6 Km e voltei. O acesso é permitido apenas com uso de máscara e a prática do distanciamento social, o que é fácil já que o espaço é amplo.

O sol inclinado da tarde outonal ajudava a tornar tudo mais belo e prazeroso. As indicações dos percursos são claras, mas isso não impediu que eu entrasse por um trecho fechado e “me perdesse”. Isolado, pude registrar uma foto sem máscara em meio a Mata Atlântica preservada do Horto Florestal.

O mais importante para mim foi conseguir me reconectar com a vida para além das notícias tenebrosas não apenas vindas do Brasil, mas do mundo afora. Nunca foi tão imprescindível buscar vida mundo adentro…

*Postagem de 2021

24 / 04 / 2025 / BEDA / Refugiado*

O meu lugar de refúgio preferido era o galinheiro, onde ficava muito tempo a observar o movimento desses seres que passei a admirar muito mais quando os descobri descendentes de dinossauros — as galinhas. No início, escolhia um ponto equidistante para que pudesse apreciar seus movimentos, além de pintinhos e galos, sem assustá-los. Quer dizer, um galo e jovens frangos que logo deixariam o ambiente para impedir que entrassem em luta com o pai pelo comando da galinhada. Sempre desconfiados, os galos não se deixavam tocar, mas com o tempo algumas galinhas começavam a se aproximar justamente para receberem um carinho nas diminutas cabeças. O que ocorria quando colocava ração e quirela nos comedouros. Uma parte que especialmente me divertia era quando as soltava para o quintal mais amplo. Elas saíam em desabada e desconexa carreira, como se fossem adentrar ao paraíso. Era algo frequente, mas sim quando precisávamos que os matinhos que cresciam fossem aparados.

Em certa época também passamos a criar patos. A pataquada tinha um comportamento diverso, mais arredio. Ver os patinhos entrarem na piscininha improvisada com bacia que coloquei no terreno me divertia. Ajudei a nascer diversos pintinhos e patinhos. Só intervinha quando os bichinhos demoravam um pouco demais na quebra das cascas. Muitas vezes, quando percebia que uma galinha sumia, procurava esconderijos em lugares insuspeitos até descobrir ninhos de dez a quatorze ovos sendo chocados há dias suficientes para que não servissem mais ao consumo. A espera para a eclosão dos pintos eu verificava cotidianamente. A evolução da choca era uma tarefa que me entretinha. Pedia licença à mãe para verificar como estavam os ovos, ao qual ela normalmente respondia com um típico som de reclamação. Aliás, através da minha experiência com as galinhas e patos, passei a distinguir as suas várias formas de expressão.

Os galináceos são aves que normalmente não voam ou têm voo curto, a não ser que deixemos que lhe cresçam as asas, às quais cortava com todo o cuidado para atingir apenas as penas. Aos dezesseis para dezessete anos, me tornei abstêmio de carne. A primeira que deixei de comer foi justamente a de galinha. Uma homenagem tardia àquelas que foram tão importantes na minha infância e adolescência. Com a criação delas, sobrevivemos graças aos ovos, além da venda para consumo de sua carne. Houve um período em que eu pensei ser granjeiro ou dono de sítio com pequenas produções de alfaces hidropônicas, bichos da seda, com a produção de energia através de biodigestores. Comprava edições com novidades da produção rural e mantive esse desejo durante anos. Enfim, o menino da cidade, acabou por vencer o imaginário homem do campo.

*Esses momentos de refugiado do mundo normal me foi despertado pelo belo texto de Lunna GuedesUm antigo esconderijo. Quando a resposta começou a ficar longa demais, decidi colocá-lo neste formato.

Foto por Brett Jordan em Pexels.com

23 / 04 / 2025 / BEDA / Dia Do Livro*

Hoje é o Dia Mundial do Livro. Se bem que modernamente possa ser acessado por equipamentos eletrônicos — como computadores, tablets, celulares e, mais especificamente, ebooks — o objeto livro, por si só, é algo simples. Primitivamente, são páginas de papel unidas umas às outras que expressam mensagens imagéticas e ideias por imagens e/ou palavras. A estas últimas as quais me filio como escritor, rendo as minhas homenagens. Principalmente neste momento que há um projeto para taxação de publicações literárias por considerá-las elitistas. E se isso acontece é porque o investimento na Educação tem declinado gradativamente. É como se fosse o paradigma do biscoito ao contrário: como a Educação é elitista, os livros — instrumentos fundamentais do ensino — também devem ser. Considerando que a leitura é um dos eficazes expedientes para o desenvolvimento do aprendizado e do conhecimento, a formulação do projeto deveria ser o oposto.

É o empobrecimento da Educação como projeto de separar os bem-educados dos que irão servi-los. No livro que tenho à mão na foto — a coletânea de setes escritores com sete textos cada, chamada Sete Pecados — há um texto meu chamado Governante Supremo, em que o referido personagem odiava a Literatura. Seu projeto secreto é o de tornar a todos equalizados a um nível menor de inteligência. Em certa passagem, está expresso: “Ao contrário do que se propagava de que uma imagem valesse por mil palavras, intimamente sabia que uma só palavra poderia equivaler a mil interpretações diferentes, se o leitor tiver capacidade de interpretação aprimorada. Como evitar que uma comunicação simples ou ordem direta não fosse corrompida por pensamentos espúrios quando se escrevesse ou lesse a palavra ‘amor’, por exemplo?”

*Texto de 2021, por ocasião do desgoverno do Ignominioso Miliciano.

22 / 04 / 2025 / BEDA / Natureza No Asfalto*

Onde estou?… Em São Paulo, junto à Represa de Guarapiranga. Esta cidade é imensa e plural, onde podemos conviver com a decadência arquitetônica do Centro, por descuido dos administradores ou percorrer caminhos juntos à novos edifícios, construídos feitos Torres de Babel, nas marginais do Rio Pinheiros, poluído e mal cheiroso… ou apreciar a Natureza em todo o seu esplendor de força e beleza, como aqui pode se perceber — em Clube Atlético Indiano.

*Texto de 2013

20 / 04 / 2025 / BEDA / Ciclo*

Varrer o quintal pode ser uma tarefa enfadonha, mas a faço com o prazer. No chão, jaz restos de processos biológicos que, antes que pareçam vestígios da morte, perfazem uma etapa da vida, que sempre se renova!… Eu não sei se conseguiria viver em apartamento, por esse e por outros motivos. Varrer me ajuda a meditar. Limpar o jardim externo ou um quintal é como varrer o nosso jardim interno e retirar vestígios que nos atrapalham. Colocarei as folhagens em um local onde faremos um novo canteiro. De volta à terra, ciclo vivo. apenas de reposição de matéria orgânica natural. Eu, há muito tempo, li um livro chamado “A Vida Secreta das Plantas”, em que os autores, dois botânicos, inferiam, pela pesquisa que realizaram, que esses seres, aparentemente inertes e sem vontade, empregavam algum tipo de comunicação química ou sensorial entre eles e desenvolveram algo parecido com “emoções” ou “sentimentos”, aspectos que qualquer dona-de-casa que cuida com amor de suas flores ou jardineiro de longa data já perceberam.

*Postagem de 2011.