20 / 06 / 2025 / Sabatina da Marineide*

Normalmente não participo deste tipo de sabatina. Não mais. Há pessoas que não gostam de devassar suas particularidades, por mais prosaicas que sejam. Respeito tanto, que não acionarei o 15º quesito: “15. Oito pessoas que acha que também irão brincar?”

Mas, um pedido da minha querida amiga Marineide, não tenho como negar. Sei do seu prazer em brincar, feito eterna criança que é. Apenas não sei se poderei atender a solicitação: “Consegue preencher sem mentir?”. Afinal, no próprio Facebook, apresento como divisa, a frase: “Sou escritor — digo a verdade, mesmo quando minto… Minto, ainda que diga a verdade…” — parece uma moeda com duas caras, mas a outra face é coroa.

01. Qual foi a última coisa que comeu?
R: Salada de fruta.

02. Onde foi tirada sua foto de perfil?
R: Na varanda da minha casa, olhando o pôr do sol.

03. Pior dor física que teve na vida?
R: Dor na parede intestinal, devido a uma colonoscopia.

04. Lugar preferido que já esteve?
R: Sou da praia, gosto da montanha, mas a visita preferida foi ao Planalto Central, a Brasília de Marineide e Luiz Coutinho, onde redefini o conceito que tinha da capital brasileira. Como em Sodoma e Gomorra, pediria ao anjo para salvá-la da hecatombe por causa de algumas pessoas que vivem lá.

05. Até que horas ficou acordado na noite passada?
R: Três horas da manhã, aliás a média do horário que tenho dormido. Tenho acordado às 9h.

06. Se pudesse se mudar para um outro lugar, onde seria?
R: Sou paulistano da Periferia. São Paulo é o meu lugar.

07 – Doce preferido?
R: Doce de banana.

08. Sente saudades da época da escola?
R: Não, especialmente, a não ser por algumas pessoas das quais recordo até hoje. Eu era um estranhíssimo fora do ninho.

09. Você é normal?
R: Normalíssimo. Não somos todos nós?

10. Qual a sua estação do ano favorita?
R: As que vierem, eu traço!

11. Abacaxi fica bom na pizza?
R: Adoro abacaxi. Vou tentar fazer uma com esse ingrediente.

12. Comida favorita?
R: Arroz (por baixo), feijão (na mesma quantidade, por cima), com farofa e banana.

13. Lugar que gostaria de conhecer?
R: Lugar de origem da família da minha mãe — creio que a Andaluzia — na Espanha. Se bem que seria apenas um déja-vù.

14. Último filme que assistiu?
R: Acabei de assistir a “triquetra” filosófica alemã, chamada DARK. Afinal, como todo mundo sabe e já disse Caetano, “só é possível filosofar em alemão”.

19 / 06 / 2025 / Indie*

Domingo primaveril… frio e nublado. Do meu lado, no sofá, elas descansam. Uma, Maria Bethânia, um ser estranho — um longo pescoço com rabo — mais velhinha na casa e na idade, deixa de provocar por um tempo a recém-chegada Pomarolla Indie Quitéria Mary Kay — nomes estampados nas caixas de produtos que fazem as vezes de caminhas provisórias. Indie e Quitéria são opções surgidas para dar identidade a uma cachorrinha resgatada na rua pela Lívia.

Peladinha, enrugada, com feridinhas causadas pela coceiras constantes, Indie apresenta um quadro de desnutrição. Nós a estamos tratando para que se recupere e possa ser adotada por alguém. Da maneira que está, parece mais um “filhote de cruz-credo” — um termo antigo que significa algo feio, eu acho… Mas, a seu modo, ela é bonitinha, talvez por parecer tão desamparada.

O que me impressiona é que, mesmo estando há apenas uma semana em casa, ela já passeia pelos cômodos com a confiança de quem sabe que é aceita. Brincalhona, como qualquer criança, Bethânia encontrou um par para as suas estripulias. Devido à lotação praticamente esgotada aqui em casa, essa fêmea abandonada terá que ir para outro lar que a receba com carinho que merece. Por enquanto, que esteja confortável enquanto estiver conosco e que fique logo saudável para alegrar a quem cativar com o seu olhar de anjo.

E, mais uma vez, aconteceu. A Indie Quitéria Janjão, oficialmente apenas de passagem por nossa casa, buscou e conseguiu a proteção amorosa da velha Penélope. De espírito aberto e carinhoso, mesmo que de início venha a estranhar a nova companhia, logo se rende à aproximação dos novos amigos. A Penélope tem o coração maior que o mundo!

*Texto de 2018

17 / 06 / 2025 / Sofá À Venda*

Em Junho de 2019*, publiquei: “Vende-se um sofá para cachorros novos, que gostam de morder, roer e estraçalhar coisas como móveis, objetos de plástico e aparelhos eletrônicos distraidamente deixados por aí. Quase inteiro mesmo depois de ser utilizado pela Bethânia e pela Arya (na foto), com encosto preservado para ser devidamente devorado”.

16 / 06 / 2026 / 15 Fatos Sobre Mim*

Fui desafiado a postar 15 curiosidades sobre mim. Sinceramente, não vejo em que isso possa interessar a alguém, mas percebo que esta possa ser uma oportunidade de não levar as coisas tão a sério. Quando falamos de nós, tendemos a melhorar o nosso perfil, principalmente neste espaço do Facebook. Olhando retrospectivamente, há alguns detalhes curiosos que acho indicativos do caminho que percorri até aqui…

1 – Nasci a fórceps. Eu estava invertido, sentado. Esse detalhe serviu de piada para que em casa se justificasse a minha aparente falta de vontade de fazer as coisas que pediam –– pai e mãe. Em verdade, quase sempre estava ausente, viajando para bem longe…

2 – Nascido no centro de São Paulo, vivi no Largo do Arouche até os meus 5 anos de idade. Eu me lembro de ter sido feliz e conversava com fantasmas.

3 – Também fui feliz ao me mudar para a Penha. Vivi no bairro por três anos. Lá, aprendi a empinar pipas, a andar de bicicleta, subir em árvores e a escrever. Foi lá também que tive as primeiras experiências de carnaval de rua, na Vila Esperança. Queimei o meu rosto quando joguei gasolina em uma fogueira onde o meu tio cozinhou um tatu. Levei uns tapas da minha mãe.

4 – Ainda na Penha, como a minha mãe demorava em nos pegar na escolinha do bairro, a mim e meus irmãos, decidi levá-los de volta para casa. Andei pela antiga Estrada de São Miguel Paulista por dois quilômetros e quase matei a minha mãe do coração quando não nos encontrou. Devo ter levado outros tapas! Perdoa, mãe!

5 – Até os meus oito anos, a minha mãe dava o meu café com leite na mamadeira.

6 – Tive incontinência urinária noturna até os 9 anos de idade. Somatizo. Fiquei com a boca torta quando garoto e, quando adulto, tive lesão cervical por estresse emocional. Quase morri duas vezes — uma, por conta de uma gastrite hemorrágica e em outra por ocasião de uma crise hiperglicêmica. Desenvolvi Diabetes.

7 – O que se chama atualmente de “pakour”, praticava nas lajes do bairro no qual vivo até hoje, dos 8 (quando mudamos) até os 12 anos de idade, quando comecei engordar além da conta.

8 – Junto com o meu pai, fui catador de papel. Nós íamos com a Gertrudes (nossa Kombi) para os bairros mais nobres de São Paulo onde recolhíamos papel e papelão, além de alguns metais, para revender. Acho que isso durou até os meus 14 ou 15 anos.

9 – Graças à função de catador de papel, recolhi vários livros que guardo até hoje, aos quais devorava. Essa circunstância deu ensejo para que o meu pai vivesse pegando no meu pé, pois atrasava o nosso serviço, além de diminuir a receita que auferíamos.

10 – Nem sempre fui míope! A minha personalidade ganhou óculos aos 12 anos. Graças a isso, deixei o meu sonho de jogador de futebol de lado. Tudo bem! Sempre fui um jogador apenas razoável, apesar do chute forte e bem colocado…

11 – Fui granjeiro, criador de galinhas, patos e vendedor de ovos produzidos em nosso quintal. Um projeto de minha mãe. Também trabalhei nos dois bares que ela montou por alguns anos até os 21 anos.

12 – Aos 21 anos, depois de crises existenciais, leve síndrome do pânico (hoje, eu sei que passei por isso), três repetições de séries, um ano sabático fora da escola, passei na FFLCH-USP, no curso de História. Deixei História e entrei para o curso de Português, na mesma faculdade. Depois de outras crises, incluindo financeiras, também saí da USP.

13 – O principal motivo foi porque casei, aos 27 anos, com a minha mulher, Tânia, e precisava trabalhar. Ela estava grávida e eu, desempregado. Havia deixado de trabalhar como “roadie” em uma banda e tentei entrar na TV como técnico em iluminação. Como não deu certo, voltei a trabalhar depois de algum tempo com sonorização e iluminação, locando equipamentos através da nossa pequena empresa, acompanhado de meu sócio e irmão, Humberto. Completamos, neste ano, 25 anos de empreitada com a Ortega Luz & Som.

14 – Até os 16 anos, fui ateu ou agnóstico, a depender da amplitude do conceito. Um livro mudou a minha percepção do mundo: “Autobiografia De Um Yogue Contemporâneo”, de Paramahansa Yogananda. Eu me tornei vegetariano aos 17 e o fui durante dez anos. Estava, então, bastante influenciado por filosofias orientais. Estudei várias religiões –– Budismo, Hinduísmo, Espiritismo, Cristianismo –– e mesmo não sendo católico de alma (estudei História, lembram?), quase entrei para a Igreja, na intenção de vestir o hábito franciscano. Por essas e por outras motivações, apenas com a Tânia tive a minha primeira relação sexual. Casei de branco, mas a Romy já estava a caminho. O meu casamento completou 27 anos, em maio.

15 – Eu sou um homem muito rico: tenho uma linda família, que eu amo! Sou feliz por poder ter dado ensejo à expressão e compartilhamento das vidas das minhas filhas RomyIngrid e Lívia

*Texto de 2016