19 / 10 / 2025 / Librianos*

*2016. Dois desses cinco, nasceram no dia 9 de outubro. Um, em 1940. Outro, em 1961.

Quando mais novo, aos 8 anos, fiz uma versão para “Hey, Jude“, dos The Beatles. Não entendia nada de inglês, e a cadência da canção dava a entender que fosse de amor romântico. Mais tarde, soube que foi feita por Paul McCartney para Julian Lennon, filho de John, por causa do divórcio de seus pais, encorajando-o a enfrentar a vida e buscar na tristeza motivação para superá-la. Quando soube que Lennon nascera no dia 9 de outubro, assim como eu, o transformei em meu espelho.

Por algum motivo, eu achava que fosse morrer cedo, aos 33, como Cristo. Ou aos 40, quando Lennon foi assassinado. Poderia ser mais tarde, como Mário de Andrade, outro que nasceu na mesma data e nome do Parque Infantil que frequentei até os 12 anos — projeto dele quando foi Secretário da Educação do Município de São Paulo. No entanto, tendo já chegado aos 64 anos, já superei os 62 da morte do autor de Macunaíma. Esse desejo de identificação com meus ídolos, incluindo o Nazareno, um dos meus avatares favoritos, já superei. Mas a influência que exercem em mim continua forte e espero que possa ser minimamente interessante para honrar o dia em que nasceram.

18 / 10 / 2025 / Três Estações

Hoje, não presenciarei este poente… El Niño nublou o dia (tudo é culpa do El Niño desde sempre!) e a nebulosidade impedirá a visão do Sol boiando feito uma bolinha dourada nas águas avermelhadas do sangue da tarde que está a morrer… A não ser, é claro, que tenhamos uma terceira estação climática desde que se inaugurou a manhã…

17 / 10 / 2025 / Os Olhos Dela

como se entrasse num labirinto
dei de me perder nos olhos dela
parece que me tragavam para dentro de um mundo novo
perdido em antigas tramas de atração fatal
embarcado em nau amarrado ao mastro central
ouvia como que um canto de sereia em calmo mar
da boca que movia os lábios como se fossem ondas
de luz das águas profundas de seu olhar
meu coração batia como se montado em corcovo
de indomável cavalo selvagem em campos de pleno sol
bastava ver bater os cílios de seus olhos em miragem de morte
como se buscasse sugar a minha seiva de depauperada árvore
que tomba como se tivesse cortados caule e ramagem
forças naturais que se avultam em poder e vingança
ao mundo que tenta destruir a vida que palpita
no meu peito de homem velho
parte daqueles que sangram o sangue de escuro vermelho
marcando o chão da estrada na caminhada da terra de perdido brilho…

Foto por Ennie Horvath em Pexels.com

16 / 10 / 2025 / Gratidão*

Quando alguém demonstra por ações claras a gratidão que sente por chegar onde chegou, muita gente critica.

Vejam só, anistiar quem deixou de usar máscara de proteção em meio a uma Pandemia que matou (oficialmente) mais de 700 mil pessoas, ainda mais sendo a autoridade suprema do País, dando um exemplo negativo, é apenas ser grato ao seu padrinho. Eu acho lindo!

Anistiar multas lavradas às concessionárias que prestaram péssimos serviços à população do Estado, deixando de arrecadar milhões de Reais, eu acho justo! Afinal, estamos nadando em dinheiro. Somos um Estado rico e estamos sinalizando que podem continuar a fazer o que não fazem.

Assim como querer entregar nas mãos da iniciativa privada uma empresa superavitaria para cumprir promessa de campanha e devolver o investimento feito no seu projeto, tudo bem! São exemplos de gratidão. Quem critica, são pessoas que não entendem que ao receber, é digno ter que devolver.

*Postagem de Outubro de 2023

15 / 10 / 2025 / Professar

Eu professo. Não como profissão, ainda que seja uma profissão de fé no espargir do conhecimento. Sempre que posso, tento transmitir o que sei, o que aprendi, mas não deixo de conjecturar que seja uma imposição de “saberes” aos quais a quem atinjo com a minha suposta sabedoria não requerida. Fico pensando que o meu entendimento possa ser mal compreendido como algo supérfluo. Ou que eu mesmo o transmita de modo a parecer uma imposição. No entanto, há professores que agem com arrogância por atingir um patamar de conhecimento certificado. Antes, eram tratados como semideuses em uma sociedade que respeitava o estudo. Ao mesmo tempo, com o passar dos tempos e as mudanças sociais e tecnológicas, há quem olhe para o estudo como algo anacrônico numa época em que o acesso à Internet transformou as relações de acesso ao “saber” imediato.

Algo que é mais recente, a IA, em menos de dois anos revolucionou a identificação da realidade com a possibilidade de certo grau de ficcional. Se tudo é possível, quase nada possa ser afiançado como verdadeiro. Distinguir entre o que é relevante e o que não é num cenário que passa a ser suspeito de manipulação, ultrapassa os limites aceitáveis de estabilidade social em que as disputas políticas atingem níveis extremos de radicalização. Ou seja, as versões ganham patamar de suspeição de lado a lado. O conhecimento perde valor dessa maneira, porque é manipulável como, aliás, sempre foi. Apenas que a manipulação atingiu um nível de ciência nunca antes alcançado. Ou seja, chegamos ao paradoxo de que desenvolvemos tanto conhecimento tecnológico que, num apertar de botões, podemos torná-lo obsoleto como meio de vivenciarmos a realidade.

Como me chamam de um sujeito professoral e que, em última instância seria a profissão pela qual gostaria de ser reconhecido — Professor — homenageio àqueles que têm a dura tarefa de transmitir a seus alunos as condições necessárias para que possam escolher o caminho que queiram tomar entre tantas variantes atraentes, mas suspeitas de serem insatisfatórias para as suas vidas.

Foto por Pixabay em Pexels.com