caminho por ruas calmas de uma primavera indecisa como são todas primaveras não é a toa que nasci em outubro a estação parece mimetizar a minha personalidade em desatino ou sou eu a imitar suas preferências titubeantes entre chover ou queimar as cabeças dos transeuntes com o sol a pino passo por casas antigas que imitam um tempo passadiço por algum motivo lembro de minha mãe deslizo de alegria nos cortes de alegria que o silêncio impõe numa época que o novo deus é chamado de inteligência artificial numa delas um velho casal se surpreende por sua cachorrinha vir em minha direção abanando o rabo como se me conhecesse de outra vida perguntou a ela (não a mim) se já me conhecia respondi que talvez tenha reconhecido a minha aura massageei o seu pescoço de pelo cor de cobre com um carinho paternal fui pai de outros tantos durante toda a minha vida que não duvido que ela seja a reencarnação de um deles mais à frente passo por um jardim composto com requintes de simplicidade duas rolinhas se posicionam descansando da faina de trazer alimento para os filhotes parei para observá-las se deixaram fotografar registrei como quem escreve uma cena de uma tarde que arrefece entre o tudo e o nada direciono o meu olhar escolho a composição da página eternizo o verso e reverso do casal de poesia alada…
Há várias maneiras de viajar. É comum eu viajar mentalmente por lugares que apenas crio em minha imaginação. Esse é um expediente que utilizei muito quando mais novo, impedido por questões típicas de quem mal tinha recursos para me transportar de um bairro a outro. Vivia na Periferia (como ainda vivo), se bem que agora em condições de ir a muitos lugares que somente teria contato por imagens. O que me impede, como acontece com tantos, é a falta de tempo. Ao mesmo tempo, em meu trabalho me locomovo para várias cidades do Estado e até fora, mas ainda próximos em distância. Neste dia 6, estivemos em Votorantim, na região de Sorocaba em que estava em um lindo recanto onde sonorizamos pela Ortega Luz & Som uma festa de casamento.
Na antiga fazenda, transformada em local de evento, encontramos uma Figueira centenária. O local todo é bonito, mas ter contato com essa Figueira foi emocionante. Testemunha de tempos em que a dor dos escravizados sustentava a alegria dos fazendeiros, toquei o seu caule e conversei mentalmente com ela. Fiquei comovido.
A Marineide foi uma irmã reencontrada através do Facebook. Costumamos dizer que fomos deixados aqui neste planeta — ela, na Bahia, eu, em São Paulo — pela Nave-Mãe de nosso planeta original. Além dela, em Brasília, onde ela reside, havia Luiz Coutinho, também “encontrado” pelo Facebook através de seus textos perspicazes e bem escritos. Um veneziano nascido em Minhas Gerais, estivemos todos juntos no chão da Capital Federal em 2016. Na imagem acima, escolhi esta foto do crepúsculo no Planalto Central, diferente das suas referências arquitetônicas. Além de mim e as duas pessoas já citadas, Tânia e Lourival, esposo da Marineide também comparecem.
Em 2012 foi realizado o 1º ENBRATE, um Cruzeiro curto entre Santos e Rio de Janeiro, ida e volta pelo Litoral com a programação tendo como pauta a realização de palestras para atualização de profissionais de enfermagem de nível médio, aliado à diversão à bordo do Costa Fortuna, proporcionado pela ABRATE. A Tânia, profissional de Enfermagem, me levou para esse evento. Foram alguns dias em que relaxei e tive contato com o poder do Mar afastado da costa, além da vastidão do horizonte tendo o Sol durante o dia e a Lua e das Estrelas durante a noite.
Essa imagem foi realizada no passeio de escuna que fizemos — Tânia e eu — no início de outubro de 2021, por ocasião da comemoração dos meus 60 anos. Presente dado por minhas filhas, foram momentos memoráveis que espero um dia renovar em que passei alguns dias em Paraty. Além do mergulho pela história da região, mergulhei nas águas do Mar que banha a cidade que veio a se tornar Patrimônio da Humanidade.
Durante alguns anos, nosso pai, Sr. Ortega, eu e meu irmão, Humberto, fizemos viagens para Posadas, capital da província de Missiones, norte da Argentina, fronteira com o Paraguay. Nesta imagem, realizada em 1985, estávamos em Foz do Iguaçu, local de registro de nascimento do meu pai. Na verdade, ele era de origem paraguaia e seu pai, Sr. Humberto, o registrou em Foz. Essa viagem também é temporal, como quase todas que aqui coloquei.
As viagens mais frequentes que realizo são para encontrar o Mar. Vou ao Litoral Sul, mais especificamente à Praia Grande — que um dia foi chamada de Cidade dos Farofeiros por ser o ponto mais visitado pelos paulistanos em ônibus de excursão. Eles lotavam as ruas com eles e há uma imagem icônica em eles invadiam parte das praias. Atualmente, Praia Grande é uma cidade com grandes empreendimentos imobiliários, escolhidos por pessoas de poder maior aquisitivo. Foi uma grande transformação ao longo dos anos. Apesar da grande mudança da rua de areia ladeada por mangues até se tornar numa apinhada de prédios residenciais, ainda é por ela que volto a ser menino, o mesmo que vivia o dia inteiro vestido apenas com o calção de banho, passando boa parte do tempo na areia, a mergulhar seguidas vezes nas ondas que sempre que adentro, me carregam para os momentos mais felizes da minha vida.
*Texto e fotos postadas um dia depois por estar, justamente, em viagem de trabalho.
Ao me debruçar sobre o tema acima, fiquei imaginando quais imagens poderia colocar dentre as muitas que produzi de lugares e pessoas. Mas como estou a me sentir um tanto introspectivo sobre a passagem do tempo, decidi colocar a mim como alvo de elocubrações quanto à passagem do tempo marcado no olhar.
Nesta imagem de Janeiro de 2018 estou no camarim de um clube em Campinas, onde logo mais à noite, haveria um baile de salão. Faria a sonorização da Banda Ópera Show. Formada por Tânia Mayra e João Soares como cantores (dos melhores no estilo), permanecemos por mais dois anos, até o advento do isolamento social para conter a temível Covid-19. O resto é uma triste história, incluindo a passagem de João Sorriso, como o chamava, por causa de um câncer no Pâncreas.
Esta segunda foto ocorreu em Fevereiro de 2016. Usei um aplicativo para criar o tom rubro da imagem que já se destacava pela incidência dos raios solares do crepúsculo. Gosto dela porque prospecta o meu olhar de quem quer enxergar para além do imediato, apesar de tentar viver o agora.
Foto da minha primeira identidade com cara de terrorista. Eu a retirei em Março de 1979, tinha 17 anos e uma nascente barbicha. Logo, por efeito de ter me tornado vegetariano, começaria a emagrecer bastante até ficar um tanto irreconhecível. Depois de me adaptar pouco a pouco à alimentação sem carnes de qualquer tipo, consegui ficar menos magro. Essa fase, durou cerca de dez anos, até me casar, em 1989.
Esta imagem tem três anos. Talvez estivesse tentando me levar mais à sério naquele Abril de 2022. Apesar de ser séria a situação do País em que as ações do então (des)governante estava a progredir para a tentativa de Golpe de Estado colocada em pauta dia sim, dia não. A estratégia então empreendida era a de esticar a corda e agir no sentido de alicerçar a sua continuação no poder, obstada por aquele que hoje é o seu algoz quando estava no TSE. O interessante é que, preocupado com um eventual Golpe de Estado por parte da esquerda, promulgou no ano anterior a Lei 14197 que acabou por levar a ele próprio às barras do tribunal do STF.
Um pouco antes do início do Inverno em Maio de 2023, o País já havia superado uma tentativa de Golpe de Estado em 08 de Janeiro. Os raios do entardecer me aqueciam às primeiras brisas frias. Tanto eu quanto a Bethânia apreciávamos os crepúsculos que espero continuar a usufruir num Futuro mais promissor.
Chegamos a Junho de 2025 e esta é a minha última mutação. Envelheço com certa dignidade, escrevendo planos para o Presente, que é como eu vejo o Futuro. Sinto-me bem, mas algumas dores se fazem evidentes no corpo que são menores que as da alma. Assim como no Passado, nada de novo…. Vamos em frente!
O tempo urge. De tal maneira que ele nos atropela e 24 horas já não são suficientes para conseguir fazer tudo o que queremos, principalmente se somos pressionados por limitações temporais. É o caso deste “6 On 6“, em que acrescentei outro “On 6“, por estarmos no mês seis, o último do primeiro semestre de 2025. O tema remeteria aos textos e livros que eu tenho lido nesta estação do ano em que a temperatura começa a baixar, mas que os sinais de sua chegada haviam se antecipado, com a queda das folhas das árvores já em meados do último Verão. Esse atropelo temporal, também ocorre no Clima, cada vez mais instável e imprevisível. Mesmo a edição deste coletivo faço um dia depois, como se fosse parte do processo. Estava ocupado com o meu trabalho e não houve como publicá-lo na data correta, ontem. Para arrematar esta introdução, pensei em relatar as minhas leituras de livros, mas como tenho me dedicado a “pescar” os meus próprios textos em publicações no mar das redes sociais ao longo dos anos, decidi colocar parte delas, ainda que sejam pequenas notas, para ilustrar o projeto fotográfico. São pequenos capítulos de minha trajetória como escritor-repórter do meu tempo.
Bem me quer?
O medo de não ser querido impede que eu faça à margarida a pergunta decisiva: “bem me quer?… Ou mal me quer?”… Ainda que o amor me diga “sim!” ou “não!, jazerá, a branca flor, tristemente despetalada ao chão…
Há, dentro de mim, uma briga Momentos em que o meu coração grita Esperneia dentro do peito Com o pulmão se atrita Rebela-se contra os órgãos que abastece de sangue Veja se pode?
Autoritário, tenta impor as suas certezas Rumar contra as correntezas Chega a sugerir que sonhe a mente Mente que aguentará outras aventuras Que não sofrerá com outra aversão Confia na sua característica demente A da mente que se engana facilmente
Porque sabe que ela não se exprime Para além dos sentidos Aprecia pela visão Enternece-se pelo som Subjuga-se pelo toque Submete-se pelo gosto É uma mente limitada Ao mundo que apreende pelas demandas do corpo
Onde está a minha alma, que não toma o controle? Por que não assume a posição de senhora? No conjunto, creio que saibamos a resposta Buscamos todos Ainda que pela experiência sensorial Pelas vidas afora Encontrar outra alma perdida De mim, para mim Amém!
LONGO MAL SÚBITO
Ronco de motores rodovia movimentada motoqueiro fantasma sem capacete deve ser parado pária da sociedade calção chinelos camiseta pobre desce do cavalo se posiciona com respeito aqui é autoridade autoritarismo práticas de tempos passados por chefes no poder incensados não reclama não fala se cala continua sem voz além das muitas na sua cabeça tomo remédio olha as cartelas não queremos saber você é fora da lei eu só quero respeito não cometi crime nenhum está sem capacete nós estamos protegidos com os nossos somos senhores da vida e da morte você deve aprender e quem nos observa também fica assolado no chão nossas botas na sua canga vamos aplicar a nossa sentença culpado por ser brasileiro sem rumo sem ganho sem profissão para ganhar o pão um verme como tantos outros porque essa tortura? queria voltar para a casa vai para a nossa casa ambulante receberá a lição estamos em guerra contra quem nos interpõe representamos o topo do poder nunca mais repetirá a ousadia de contestar mataram mais de vinte no Rio um a mais ou a menos não sou bandido sou trabalhador tenho família filhos pai mãe primos todos tem ratos que se multiplicam olha a nossa viatura a chamamos de carro de dedetização eliminamos pragas as degustamos com pimenta me tirem daqui me desamarrem abram a caçamba não sou lixo sequer indigente sou gente ah! meus filhos mulher não estou aguentando me perdoem não consigo respirar estou deixando a escuridão vou para um lugar sem Luz e sem resposta mesmo sendo de Santos Jesus até quando?
Umbaúba, Sergipe, em 26 de Maio de 2022 – dois anos depois da morte de George Floyd, em outro Hemisfério e outro “não consigo respirar”.
Imagem de 20 anos antes…
UM DIA DEPOIS (10 de Agosto de 2020)
Um dia depois do Dia dos Pais, o que mudou no País? Para tantos pais, filhos e famílias, o segundo domingo de agosto não foi comemorado. Pais não receberam seus filhos, filhos não abraçaram quem os gerou cuidou, trabalhou, viveu por… Muitos, estavam vivos, mas distantes e distanciados, por força do isolamento ou pela desavença e litígio. Eu, mesmo, passei os últimos anos de meu pai, alienado da sua presença. Outros, partiram pela doença do descaso. Cem mil vezes pranteados. Há ainda os que estão acamados, entubados, estratificados. Todos, marcados por estatísticas macabras. Eu pude estar com as minhas filhas. Percebi o quanto sou agraciado por ser beijado, abraçado, por me sentir amado, entrelaçado pelo enredo familiar. A minha alegria carregava um travo. Em domingos sequenciais, vivemos dentro de uma bolha boçalizada, em ilhas isoladas, de mar que se nega a aprofundar. É como se o oceano não fosse salgado, suas águas não quebrassem em ondas ao chegarem às praias, não se permitisse abrigar sereias, miríades de outros seres, tesouros naufragados e continentes perdidos — raso de vida, mistérios e poesia. Contudo, se aproveitam da crença no fantástico e renegam a profundidade da Ciência. Existimos em realidade paralela, afirmando nossa indecência. Negamos o conhecimento e festejamos a morte. Entre plantas — coqueiros e bambuzais — o supremo mandatário deglute a nossa humanidade. À caminho da segunda centena de milhar, o chefe do jogo do bicho medonho continua sem paradeiro. Quem o impedirá o testa de ferro insubordinado de continuar a jogar? Há remédio para evitar que muitos mais pais e filhos estejam separados no próximo Dia dos Pais, por arte e obra da desconsideração por brasileiros, por arte e obra da estultice de eleitores brasileiros?
Ao varrer esta plataforma, encontrei marcas que não havia percebido antes. Como faz alguns anos que foi feita, fiquei me perguntando quem teria deixado este registro para a posteridade. Lembrei das amigas que nos deixaram fisicamente. Não deve ter sido a Penélope, labradora que tinha o corpo e o coração grandes demais. Talvez fosse da Dorô, tão doce e amada por ter crescido junto com as crianças humanas. Ou da Frida, as de olhos de avelãs, quieta ilusionista, que surgia do nada em algum ponto da casa. Da Domitila, que ainda está conosco, também não, pelo tamanho maior do que está marcado. Enfim, o que sei é que daquele patamar as marcas poderão sumir um dia por alguma reforma no piso. Do meu coração, enquanto eu existir, jamais!
Natural (Outubro de 2021)
Nascido há 60 anos em terra, no centro de São Paulo, na maternidade de mesmo nome (hoje demolida), sob Libra, signo do Ar, é na Água que me sinto em meu elemento. Adorei saltar, flutuar em queda, atravessar o azul, mas ao mergulhar é que me percebo um com a Natureza…
Em 2019, escrevi: “Quem tem cachorros (na verdade, são eles que têm a nós), não deveria usar roupa preta. Ou não se importar com demonstrações de carinho. Pelo amor, nunca pelo contrário, só a favor…