Caçador De Bruxas*

Autografando Confissões, em 2021

*Trecho de “Confissões“, meu terceiro livro pela Scenarium Plural – Livros Artesanais:


“Junto aos nossos desejos de sermos bruxas, dentro de nós atua um inquisidor… um matador de diferentes. Um aniquilador de sonhos. Ao lado da puta que somos. Quem não vende o seu corpo e mente em troca de dinheiro?

Existe aquele que atirou a primeira pedra.

Ser contraditório, mentiroso e hipócrita é condição básica para sobrevivermos nesta sociedade. E, no entanto, não nos falta fôlego para vociferarmos contra o Sistema.

Estar aqui a denunciar nossa pequenez, não deixa de ser uma tentativa de não parecer um minúsculo ser. Não me excluo de todo esse processo em que morremos de vontade de matarmos o que não gostamos, como se não suportássemos o contrário.

Somos caçadores de bruxas. Ainda que filhos de bruxas. Queremos quebrar os nossos espelhos. Reproduzimos os nossos produtores. Produzimos podridões – amores malparidos.

Momento de devaneio, sonho com um mundo que aceite o irmão. Que aceite o mal, o identifique e o reverta. Que sejamos bruxas. Façamos uma poção mágica. Uma porção básica que contamine a escuridão de verdadeira claridade. Peito aberto, mamas e sexos à mostra, barriga prenha de filhos livres da maldição de sermos tão humanamente menores.

Quero ser, além de ser, Ser.”

BEDA / Não Passei Vontade (Confissões)

Lia CONFISSÕES, de minha autoria, lançada pela Scenariumlivros, quando fui interrompido por Arya. Como a guerreira de Games Of Trones, enfrentou a quase 100% fatal Cinomose e venceu. Apresenta alguns efeitos colaterais, mas muito poucos. No mais, é carinhosa e pede sempre carinho a quem puder. Gosta de gente e tem as unhas pintadas de preto mais bem feitas que alguém poderia ter. Antes de ser chamado para acarinhá-la, passava pela página 61, onde lia:

“No ônibus, apartado do mundo exterior, lia Vermelho Por Dentro. Uma das personagens declara que tinha coisas dentro de si que “se pudesse, enterraria-esqueceria-apagaria, mas que vez ou outra tudo emerge”, a afogá-la naquelas lembranças.

Como ‘nasci’ me sentindo culpado, qualquer coisa em minha vida adquire tons escuros-graves. Conjecturei que talvez não quisesse esquecer de situações e ações que me definiram como sou, ainda que não goste tanto de mim.

E, enquanto pensava essas realidades oferecidas lado a lado… como um comentário aos meus pensamentos, penetrou em minha redoma uma frase-bala-perdida que me atingiu no peito – não passei vontade… fui atrás do amor, onde ele estivesse!….

A autora-pessoa-personagem da vida real estava sentada no banco à frente, mulher de 40 – talvez – 50… longos cabelos brancos, com a altivez de alguém que sabe quem é. Conversava ao celular.

Eu, fui a vítima, nada inocente. Se existe alguém que se sente culpado por ter passado vontades não realizadas – esse sou eu. Mas, eu prefiro me arrepender do que fiz a me martirizar pelo desejo não realizado. O sentido de libertação que a vontade atendida expressa é inebriante. Como abraço o pecado original da culpa, o peso da satisfação pessoal tende a carregar a carga indesejada de incriminação.

Jovem ainda, fui aumentando a lista de restrições pessoais. Qualquer coisa ‘perigosa’, geralmente que envolvesse prazer – do sexo à gula, evitava. Deixei de beijar, tocar, namorar meninas que queriam me conhecer. Topavam com um indivíduo esquisito, que atraía-sorria-recusava com a desenvoltura de um paquiderme.

Chego a sentir horror daquele sujeito que oferecia a inocência de um ser amoral. Espero ter melhorado e me distanciado do cara que se feria por não dar vazão às suas vontades.

A mulher ao celular, demonstrou personalidade uma vez mais, ao dizer: ‘não vamos nos ver hoje‘. Queria ficar sozinha naquele dia. ‘Não!‘ – afirmou, sem se preocupar com quem a ouvia, afirmando com uma sutileza peculiar –, ‘não estou punindo ninguém! Apenas quero estar comigo...’.

Encantado com a postura-firmeza… acompanhei seu caminhar pelo corredor do ônibus e vi quando desceu – no ponto seguinte. Acompanhei em seu andar entre humanos, passo a passo.  Não vi o seu rosto.

E ao chegar ao meu destino – Terminal Vila Nova Cachoeirinha – pus os pés no chão, sem as dores de anos vividos com unhas encravadas, consciente de que continuo a tropeçar em sentimentos dúbios…”.

Participam do BEDAMariana Gouveia / Lunna Guedes / Suzana Martins / Darlene Regina Roseli Pedroso