24 / 11 / 2025 / Blogvember / Chegou Outra Carta No Quarto De Hora

passava quinze minutos depois da meia-noite a carta
chegou colocada por debaixo da porta do quarto
estava acordado e percebi uma sombra se afastando pelo corredor do hotel
não era a primeira vez e me levantei do sofá a tempo de ver alguém dobrando a esquina
era mais um texto quase indecifrável porque a letra era trêmula e oscilante
não sei qual a pretensão do autor ou autora do texto
mas entendi se tratar de um aviso sobre a minha esposa que ficou em casa
o fato de ser uma carta tradicional deu um tom de coisa solene e grave
feito um drama de novela de amor daqueles com sobressaltos e revelações
de traição e denúncia de amores não correspondidos ciúme e dor
nada disso eu senti
sabia que mariana tinha alguém com quem se reunia nas minhas ausências
por viagem de negócios
eu mesmo deixei de amá-la há algum tempo
mas não tenho ninguém apenas casos avulsos encontros fortuitos
mulheres que são amigas e com quem tenho identificação
mariana de saber aliás ciúme já não há levamos a vida dessa maneira solta
sem ataduras compreensão de nossas faltas e predicados
amigos casados e satisfeitos com a desunião de corpos…

Participação: Lunna Guedes

Foto por Jess Bailey Designs em Pexels.com

23 / 11 / 2025 / Blogvember / Rindo-Me De Dentro De Um Silêncio Que Me Apraz

estou em casa sentado no sofá ao lado de amigos que apenas desejam estar junto a mim
sorrio um sorriso tímido de que quem se sente amparado por afeição genuína
e ciúme de tanta atenção por outros seres
o prazer se deixa espraiar pelo dia sonolento e morno de primavera
não falar nada é também um doce aliado ao som da chuva que começa a me dizer
que é tempo de prosperar folhas novas galhos mais grossos frutas maduras
ar renovado
mente acalmada
alma acalentada…

Participação: Lunna Guedes

22 / 11 / 2025 / Blogvember / Os Telhados Estão Molhados…

… para quem tem telhado para se abrigar
porque as casas são modelos nas cabeças das crianças
mesmo as mais pobres as desenham em folhas sujas
em noites escuras à luz de velas
bruxuleantes
sendo tão pequenas acreditam em bruxas voando seus telhados
molhados
mas os monstros estão por perto
são humanos
armados de ódio e maledicência
não gostam dos desvalidos
não suportam a ideia de que tenham residência
um lugar para ficar
ainda mais perto de si
querem distância de tudo que revele a sua pequenez
seres abjetos
em suas mentes carregam dejetos
mas pela eternidade crianças continuarão a desenhar
em folhas de papel suas casas de telhados
molhados…

Participação: Lunna Guedes

21 / 11 / 2025 / Blogvember / Tarde Da Noite Recoloco A Casa Toda Em Seu Lugar

teria que sair logo cedo às 5h da manhã
às 4h os pássaros já iniciam os seus cantos primaveris
percebo que não tinha dormido um pouco sequer
mas mesmo assim sinto necessidade de deixar a casa arrumada
varro passo pano com detergente lavo a louça
quando saio para colocar o lixo para fora entrevejo a lua entre as folhas
a trilha sonora dos seres alados é a ideal para compor o cenário idílico
bocejarei o resto do dia mas ao respirar o ar da manhã imaculado
dos odores humanos produzidos por suas máquinas
me sinto recompensado pelo resto do dia…

Participação: Lunna Guedes

20 / 11 / 2025 / Blogvember / Fiz Misérias Nos Caminhos Do Conhecer

a mais difícil jornada do conhecimento é conhecer a si mesmo
sou um ser curioso quero saber (as versões) de tudo
a ideia do que fazem de mim por minhas exterioridades e intimidades
estão no plural por sou muitos ao longo dos tempos
tanto que muitas vezes não me reconheço
ao acordar tento comprovar se estou mesmo lidando comigo
ou um outro que se esqueceu de mim apesar de estarmos no mesmo corpo
fico espantado com o sol estrelas a lua fico a registrá-los imageticamente
a me atrair magneticamente
por suas versões ilusórias são meus sóis minhas estrelas luas
minhas ideias de mundos não apenas as referências deste que comungamos
estamos juntos mas separados nós mesmos mundos estanques
saber que somos múltiplos iguais mas diferentes
e que o conhecer é um processo infinito de infinitos espaços-tempos
e só seremos plenos de conhecer ao nos tornamos igualmente infindos…

Participação: Lunna Guedes