05 / 11 / 2025 / Blogvember / Todas As Manhãs Travar o Mesmo Duelo

certa vez ouvi que acordar se assemelhava com um parto
mas poderia dizer que sendo adulto travo um duelo com quem é refletido
no espelho
nunca venço porque aquele que se parece comigo tem argumentos irrefutáveis
e me con…vence que deveria voltar para o cama… ou berço… ou útero
do qual fui literalmente arrancado
me pergunto… por que?
por que a razão de tudo…
por que nascemos se morremos?
por que crescemos se envelhecemos?
por que caminhamos se caímos?
por que casamos se separamos?
por que desejamos se sofremos?
por que sonhamos se acordamos?
por que amamos se somos deixados?
sairei para mais um dia
como se vivesse uma vida antiga
sorrirei conversarei beijarei o rosto dela
agora
só minha amiga…

Participação: Lunna Guedes / Mariana Gouveia

Foto por Lucas Pezeta em Pexels.com

04 / 11 / 2025 / Blogvember / Noite Romântica

noite de lua quase cheia
quando a vejo penso em romance
da minha mente com o universo
é com ele que eu converso
esse mínimo esplendor de um astro
que se veste de luz emprestada já é suficiente
para fazer me apaixonar pela escuridão que a envolve
que aliás é a mesma na qual também estamos mergulhados
me sinto de amor abastado
pois é o amor que move tudo ao nosso redor
por mais que o reduzamos a toque de pele
que apenas nos dão prazer e sofrimento
o amor pelo universo é mais puro ainda que esgarçado
imenso e incorruptível
explosões e apagões
nascimentos e oclusões
regidos pela força de buracos negros
sentinelas da criação
abro os meus braços por alguns minutos
sinto a vibração da energia cósmica me atravessar
e ainda que seja puramente mental
gozo
e esparjo poeiras de estrelas rumo ao céu descomunal…

Participação: Lunna Guedes / Mariana Gouveia




03 / 11 / 2025 / Blogvember / Deslizar De Alegria Nos Cortes Que O Silêncio Impõe

caminho por ruas calmas de uma primavera indecisa
como são todas primaveras
não é a toa que nasci em outubro
a estação parece mimetizar a minha personalidade em desatino
ou sou eu a imitar suas preferências titubeantes
entre chover ou queimar as cabeças dos transeuntes
com o sol a pino
passo por casas antigas que imitam um tempo passadiço
por algum motivo lembro de minha mãe
deslizo de alegria nos cortes de alegria que o silêncio impõe
numa época que o novo deus é chamado de inteligência artificial
numa delas um velho casal se surpreende por sua cachorrinha vir em minha direção
abanando o rabo como se me conhecesse de outra vida
perguntou a ela (não a mim) se já me conhecia
respondi que talvez tenha reconhecido a minha aura
massageei o seu pescoço de pelo cor de cobre com um carinho paternal
fui pai de outros tantos durante toda a minha vida
que não duvido que ela seja a reencarnação de um deles
mais à frente passo por um jardim composto com requintes de simplicidade
duas rolinhas se posicionam descansando da faina de trazer alimento para os filhotes
parei para observá-las se deixaram fotografar
registrei como quem escreve uma cena de uma tarde que arrefece
entre o tudo e o nada
direciono o meu olhar escolho a composição da página
eternizo o verso e reverso do casal de poesia alada…

Participação: Lunna Guedes / Mariana Gouveia

02 / 11 / 2025 / Blogvember / O Rei

sentado em meu trono me pergunto
ora quem é o dono de meu destino
aproveito para forçar a saída e em um segundo
defino que é meu intestino
evacuar definiu o caminho da humanidade
civilizações que criaram meios de como recolher nossos dejetos
e encaminhá-los para longe de nós
se tornaram as mais desenvolvidas
as mais aptas a dominar às outras
por saber lidar com seu cocô
o intestino que bem funciona impulsiona o poder mental
de quem o carrega não há intriga
não há dúvidas nem desvios o sorriso prevalece
se sente feliz por poder evacuar com regularidade
com o prazer de deixar marcas em barro por onde passa
constato o que é claro o que sempre se soube
quem é senhor de sua mente não desmente —
sabe que tem o rei na barriga.

Foto por Gratisography em Pexels.com

Participação: Lunna Guedes / Mariana Gouveia