*Ah, as mães da Periferia…
Não sei sobre outras mães, mas as da Periferia guardam algumas semelhanças entre elas que vejo desfilar pelas ruas há décadas. Essa impressão veio a se confirmar em minha mente quando fui à padaria comprar pãezinhos quentes para o lanche da tarde. O horário das 18h30 coincide com a chegada das jovens senhoras do trabalho. Por todas pelas quais passava, percebia uma característica que sempre me foi familiar e que se sobressaia sobre as outras. Todas carregavam sacolas – uma, duas, quatro, tantas – que não entendo como conseguiam com apenas dois braços.
Imediatamente, viajei para o passado e me vi como o menino que esperava mamãe chegar do trabalho, carregando as suas sacolas com algumas surpresas. Isso não ocorria todas as vezes, é claro. Os dias em questão deviam ser especiais… e eram – dias de pagamento.
As mães da Periferia sabem que o dinheiro não durará muito, mas logo que o recebem, compram de imediato alguns itens que necessitam de forma mais premente. Entre as urgências se encontram pequenos presentes para os seus filhos. Pode ser uma lembrancinha boba ou uma necessidade real – roupa ou material escolar – mas alguma coisa preciosa acabava por chegar. Era preciosa porque, mesmo sem uma importância aparente, carregava uma mensagem maior: “Meus filhos, eu amo vocês!”.
Passados os anos, como a conclusão de um ciclo que se completa, já avós, se desdobram nos cuidados aos netos, pedacinhos de seus pedacinhos em forma de gente. Nós, seus filhos, vemos reproduzidas as mesmas cenas – nossos filhos a aguardarem a chegada desses seres especiais, sendo eles mesmos, o presente que desejam – multiplicadores do amor de geração em geração – como a reafirmar a vida: “Minhas netas, eu amo vocês!”.
*Texto de 2012
No centro da foto acima, de uns 25 anos, mais ou menos, vemos a minha mãe, Dona Madalena, chegando com comprinhas, tendo duas das minhas filhas à sua espera.