caminho só mas acompanhado circunspecto quem bem eu quero não está por perto sei que ela pensa em mim assim como penso nela sim em nossos encontros esporádicos erráticos arrancados feito saborosas goiabas no pé aos quais nós comemos até o caroço deixamos os lençóis em alvoroço passeamos sem culpa por avenidas e ruas baixo a sóis e além de luas quase alcançadas mas nunca vivenciadas quem sabe um dia? enquanto isso nos servimos de ambrosia para mitigar da distância as dores para nos alimentarmos de sabores saudosos de beijos e ventanias que nos abatem por onde formos porque somos o que somos a soma de desejo e paixão e bem querer em demasia em cortejo de procissão adoradores do coração caminhantes e amantes se quero uma vida alternativa a que tenho vou em frente não me detenho sonho e componho na ausência do toque de sua boca um poema que me acompanhe…
Março, Abril e Maio, até agora, tem sido meses em que não li mais do que algumas páginas, aqui e ali, enquanto nos dois primeiros meses do ano os meus olhos pousaram em pelo menos quinze obras. Eu estava fazendo um esforço imenso para voltar a exercitar a leitura de forma continuada e sair da pasmaceira em que vivia desde meados de 2020, que ainda não terminou, não importa que o calendário diga.
Isso ocorreu durante o mês de Fevereiro, em que passei uma temporada em Ubatuba, no litoral. Tive tempo para me dedicar à reconstrução de minha sanidade e ler cabia muito bem nesse processo. Ao voltar para São Paulo e para a rotina repetitiva (com o pleonasmo e tudo), tenho envidado em minimamente manter o equilíbrio mental. Tenho escrito bastante, apesar de sentir a queda da qualidade no artesanato da palavra. Ler seria uma saída sã, mas a falta de “tempo mental” tem me impedido.
Porém, antes do eminente fim do mundo, tive a oportunidade de ter em mãos quatro livros produzidos pela Scenarium. Escritas por mulheres, sentia que precisava da toque criativo feminino em minh’alma. Em sequência, fui até a “varanda para abrigar o tempo”, enfrentar “a equação infinda” “aos sábados” e em outros dias da semana, enquanto fazia “desvios para atravessar quintais” — escritos por Aden Leonardo, Roseli Pedroso, Lunna Guedes e Mariana Gouveia.
Abrigado junto ao Tempo e a Aden em sua varanda, sofri intimamente com a arquitetura que me acolhia. Eu lia as suas palavras como se já tivesse as tivesse pronunciado muitas vezes como mantra: “sou um espelho por dentro que fica ao contrário”.
Roseli me levou para conhecer quatro vidas — seres humanos em procissão pelos anos — por quatro estações em décadas, em desdobramentos-personagens que se misturam atravessados pela linha tênue do destino — determinado ou casual — entre amores, ódios, abandonos, entregas, alegrias e dores. Os meridianos não interferiam nas suas existências. Apenas as localizavam.
Com Lunna, “aos sábados”, enfrentei chuvas, dias mornos, quentes, outros “ontens”, manhãs, noites, sem adjetivos… mas sempre carregados de significados para ela, para quem a lê, para quem consegue mergulhar na tentativa de descobrir a si mesmo diante da vida e seus enigmas.
Com Mariana, os desvios que faz atravessa não apenas quintais, mas a existência inteira. A energia de todo o universo contido em mínimas linhas: “As ervas no jardim, criando sementes — as flores sendo colo para a vida — e da semente, a flor… fruto”.
Essas últimas leituras, feita em pouco tempo, quase concomitantemente, como se quisesse matar uma fome invencível, se foi as últimas que tenha feito antes que tudo acabe, pelo menos me abasteceu de sol tanto quanto ao da praia. Aclarou as minhas contradições, fez doer minhas feridas, acalmou meus dissabores. Fugi para outras vidas e me senti muito bem acompanhado.