Poeminhas

Larga
Vida larga
Sempre se impondo
Sobre a morte amarga
A corajosa largatixinha
Larga a antiga casa
Larga a vidinha
Rasa
Fechada
Que tinha
E se torna
Do seu destino
Rainha.

Igreja nossa que estais na terra
Onde um ritual divino se celebra
Se eleva a alma e desce a lágrima
Que seja o amor a sua obra prima.

Caminho…
a cada passo no chão,
deixo marcas dos meus pés
nas nuvens…

BEDA / Labaredas

não há uma labareda igual a outra…
serpentes dançantes que queimam
a imaginação de quem é água
fulgurantes figuras que se imiscuem
umas às outras em ardência
seus corpos fluidos em travessuras
se devorando em envolvente quentura
são amores flamejantes sem mágoa
que alimentam o seu fogo
com crepitantes achas de lenha
enquanto o oxigênio silenciosamente
entrega a sua alma à extinção
os acordes de estalidos e pausas
marcam a canção da última dança
antes que tudo termine em cinzas
mas qual destino melhor
do que morrer consumidas de amor?

Poema participante do BEDA: Blog Every Day August

Denise Gals Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Lunna Guedes / Bob F / Suzana Martins Cláudia Leonardi

BEDA / O Mineiro*

O mineiro é o brasileiro típico, segundo eu penso. Longe das influências vindas pelo mar, construiu uma personalidade montanhesa — íngreme como os picos, profunda como os vales que compõe o relevo das Minas Gerais. Tem, com certeza, a melhor e a mais variada cozinha do Brasil e as mulheres mais graciosas, na minha opinião. O falar é suave, quase um canto. Como é um povo desconfiado, tem que se enveredar por sua alma para compreendê-lo. A tradução melhor de sua grandeza se dá através de um dos meus escritores favoritos: Guimarães Rosa

Imagem: Mariana / MG

*Postagem de 2012 (Facebook)

P.S.: Originalmente, mantive a antiga apresentação neste texto. O que coloquei depois é que o mineiro apresenta as características típicas do brasileiro do interior. Mas que também não deixa de ser um aspecto diferente da realidade. A multiplicidade de personalidades dos cidadãos brasileiros, devido ao tamanho do País e aos perfis culturais variados, garantem que o jeito carioca de ser é apenas “para inglês ver”.

Participam: Roseli Pedroso / Lunna Guedes / Mariana Gouveia Suzana Martins / Alê Helga / Claudia Leonardi Lucas Armelim / Dose de Poesia / Danielle SV

Livre Pensador*

Alexandre, O Pequeno (resgatado na rua) e eu…

Sou franciscano. Porém, não sou católico. Tenho certeza que São Francisco me permite essa rebeldia. Ele mesmo se rebelou contra o que era imposto como regramentos que impedissem viver o que o seu coração mandava vivenciar. Homem do mundo, foi transformado pelas experiências do mundo. A violência, a fome, a precariedade da vida, todas essas facetas vividas enquanto servia em uma das guerras de ocasião, o transformaram. Ele começou a se conectar consigo mesmo, a se abrir para as coisas tangíveis e intangíveis, a ouvir vozes interiores e exteriores – expressões para quais normalmente fechamos os sentidos d’alma.

Ele teve coragem para empreender a viagem mais árdua, que quando se inicia, não há volta – ser pequeno. Um dia, pensei em seguir o seu caminho. Tentei seguir os mandamentos da Igreja para tal percurso. Cheguei a visitar um seminário franciscano que me influenciou de maneira decisiva. Gostei do ambiente, dos estudantes, dos objetivos propostos, mas… ainda mantinha dúvidas de qual sentido seguir. Lá mesmo, em um canto dos muitos corredores do prédio estava uma maquete que mostrava os vários caminhos para chegar a Deus. Um desses caminhos era a formação de uma família. Eu tinha 26 anos e desde os 16 havia enveredado profundamente por uma religiosidade que não respeitava limites. Estudei o Cristianismo, o Maometismo, o Hinduísmo, o Budismo, as demais filosofias orientais, as crenças africanas e tudo mais que dissesse respeito à transcendência do espírito. Construí uma crença amalgamada que só fazia sentido para mim. O que fizesse o meu coração bater mais forte eu me identificava. Percebi que a Verdade tem muitas facetas, tal qual um diamante que reflete uma luminância diferente dependendo da forma que a luz o toca.

Naquela altura da minha vida, eu estava dividido entre a vida monástica e o conhecimento do mundo que havia rejeitado até então – a familiar. Sabia que enfrentaria grandes obstáculos para manter o controle sobre a minha sanidade ao escolher tanto um quanto outro caminho. Hoje, depois de estabelecer uma profissão, conhecer a minha mulher, Tânia; conceber as minhas três filhas – Romy, Ingrid e Lívia –; construir uma casa, cuidar de cães, passarinhos, tartarugas, porquinhos da Índia e plantas – formei um lar. É um desafio constante manter o equilíbrio entre tantas demandas pessoais e profissionais, mas creio que tenho caminhado cada vez mais para dentro de mim e para fora do meu próprio corpo. É como voltar da guerra todos os dias e me reformular. Sei que sou, fundamentalmente, um franciscano em meu procedimento. Desde que ouvi o chamado de Francisco de Assis, nunca deixarei de ser, idealmente, um frade menor…

*Texto de 2016

Amanteamigo

Estou consigo e você, comigo
Estou na sua vida porque sou
Aquele a quem sempre buscou
Sou seu amante e seu amigo

Tenho o Sol por testemunha
O mesmo astro que iluminou
E o primeiro homem avivou
Amor por inteiro, do cabelo à unha

Vem a tarde, vai o Sol, chega a Lua
Se aproxima a hora de dividir
Corpo e alma, o mesmo rir
O mesmo ar, a paixão mútua

Que se consuma o fogo, enfim
Que renasce com a luz da manhã
Todos os dias, com a força irmã
Da criação do mundo e do seu fim.