Projeto Fotográfico 6 On 6 / Paleta Urbana

Originalmente, paleta designa a peça de madeira ou louça, geralmente oval, com um orifício para enfiar o polegar, onde os pintores põem e misturam as tintas. Mas com o tempo, devido ao fato de haver sobreposições de tintas, passou a designar justamente gradações de cores percebidos em objetos, paisagens, pinturas e ideias que, convenhamos, são tão variadas e díspares que observamos que há pensamentos que vão da escuridão à luz plena.

A luz é o diferencial para expressar as cores de múltiplas formas. Nossos olhos a percebemos e a interpretamos a depender do que vivenciamos, ou seja, a maneira de olhar. Muitos de nós estão mais abertos à percepção da paleta que se nos apresenta a todo instante. Basta buscar com interesse especial, para além de vermos, para enxergarmos o inusitado, o diferente, mas não apenas. Porque contemplar o óbvio nem sempre é tão fácil.

Caminhando por aí, um olhada lateral e lá está algo que destoa do cinza imperante. Este registro foi feito numa área da região central de São Paulo, entre construções mais antigas e mais recentes, mas que não deixam de ter pelo menos trinta anos de construção. Uma surpresa bem vinda mais ou menos próximo ao Ponto Zero da cidade.

Há momentos em que o meu olhar viaja carregando a mim à bordo. Luz e Sombra se misturam a formas que podem não significar nada, a não ser fruição artística. Aqui, é como se o Sol e a Lua estivessem do lado de fora da janela contribuindo para que a imagem se revele como delírio.

Queria muito que São Paulo fosse conhecida como a cidade dos grafites. As diversas linguagens artísticas nesse campo trazem sempre expressões que vão do alucinação ao realismo. O que não significa que possa brincar com o entorno para criar algo novo.

Esta cruz fica na região de Guarulhos, cidade ao lado da região norte de São Paulo. A paleta que apresenta é simbólica. Fica em frente a uma igreja, do lado de um teatro onde trabalhei em alguns eventos. Fiquei bem impressionado não apenas pelo Teatro Padre Bento, mas pelo antigo estádio e as instalações do antigo hospital construído para tratar os hansenianos. O teatro foi construído pelos próprios internos e inaugurado em 1936, no bairro Gopoúva. Já o Hospital Padre Bento, de 1931, foi um sanatório referência no tratamento da hanseníase (conhecida na época como lepra). O modo escolhido para tratar os hansenianos foi a internação compulsória, oficializada por meio de medida decretada em 1933 por Getúlio Vargas. Os pacientes eram obrigados a ficar em lugares como o Padre Bento, construídos especialmente para abrigá-los. Passaram a serem liberados de locais como esse a partir da década de 1960. A simples adoção de um medicamento, a Poliquimioterapia (PQT) passou a curar a hanseníase, interrompendo a transmissão e prevenindo deformidades. Atualmente, está disponível gratuitamente em todos os postos, centros de saúde e unidades de saúde da família.

Esta imagem eu colhi perto de casa. É uma vista lateral de uma imensa árvore que pertence ao Piscinão Guaraú, onde ficava uma antiga plantação de hortaliças do sítio de japoneses, responsáveis por vários negócios na região. Havia também uma olaria e um lago, que recebia as águas de riachos que formavam a bacia do Guaraú, que desagua no Tietê. A paleta em gradações em verde é um refresco para os meus olhos todas as vezes que volto do centro cinzento.

Esse registro é tão aleatório que nem me lembro quando ou onde o fiz. Apenas gosto dele. São reflexos produzidos ao acaso pela passagem da luz filtrada por uma janela, porta ou algum objeto pendurado ou posicionado numa mesa. Não me lembro. Mas aí está porque foi produzido num local onde moram pessoas, na cidade que moro. Urbaníssima.

Participam>

Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Roseli Pedroso – Cláudia Leonardi