
Nesta época do ano, em que se fala muito do amor universal, talvez não se perceba que a carência humana nos assalta em todos os sentidos, incluindo os sentidos físicos. Esta parede em ruínas fez parte de um conjunto de pequenos prédios que foram demolidos para dar lugar a um projeto cultural, na região da Avenida Duque de Caxias, perto da Sala São Paulo, no Centrão. Com o tempo e as mudanças na administração municipal, o que seria um centro de arte, transformou-se em conjunto residencial.
Datada de 2014, fico a imaginar o ambiente da qual essa construção fazia parte, imerso à meia-luz, em que homens buscavam o amor material oferecido de forma tão direta. Gosto muito da pintura, apesar de tosca, em que o braço da moça, de fisionomia tristonha, cabelos longos-encaracolados e peito pequeno, indica o caminho para a satisfação dos desejos mundanos.
Descortinada à luz do dia, desprotegida aos olhos dos passantes, afigura-se ainda mais frágil a se considerar as tenebrosas condições às quais ela e suas colegas ficavam expostas. Eu me lembro que relutei em fotografar-capturar sua imagem antes que se tornasse pó, como se invadisse sua intimidade. Agora, permanece viva em minha imaginação e a ela rendo minhas homenagens.