Tarde de início de Primavera
em tons monocórdicos…
Essa estação é parecida comigo…
É o tempo do talvez…
Talvez chova, talvez não,
talvez o vento derrube árvores,
destelhe as coberturas,
talvez o ar pare de circular…
Frutas frutificarão,
pássaros e outros bichos procriarão,
uivos, coaxares, cânticos serão entoados,
quase dá para ouvir outros seres que rastejam,
em intervalos de quando e quando são devorados
enquanto trabalham para sobreviverem.
A Primavera não é uma estação casta.
Vibra a vida, afirma a morte, tempo de renovação,
momentos de contemplação ao incógnito, à voragem
e devoção ao crescimento,
à crise,
à dor,
à cor,
ao coração…
Etiqueta: ar
10 / 05 / 2025 / Imagens
A Lua de ontem me disse que só aparece
para quem a vê.
Parece algo redundante,
mas é apenas uma verdade
retumbante…
A minha cidade,
de espaços abertos,
ruas lotadas,
corações fechados
e história em decadência…
Ainda assim, a amo!
Sopra o vento nas alturas…
No mesmo sentido,
navega o mais pesado que o ar…
Percorrem ares limpos,
acima das humanas agruras,
acima dos homens ímpios…
21 / 03 / 2025 / Cabelos Brancos
A bela da tarde continua a encantar…
A flor de girassol ainda está em seus cabelos…
Ela continua a apaixonar quem a conhece…
Ousadamente
deixa que o branco se assenhore de sua fronte
e marque presença em seu pentear.
Pela cidade onde passeia
está sempre a demonstrar o seu poder
que tem a idade do tempo que passa
O seu corpo de serpente transpira
massas de energia a ondular
o entorno
a queimar os imprudentes e o ar…
A sua figura ensolarada
transforma as paragens em tempestades de luz
reflexo direto da sua personalidade doirada
ainda que os fios leitosos avisem a sua permanência
feito um rio impetuoso
a deixar rastros de paixão enluarada
em fios caudalosos…
Foto por Anastasia Kolykhalkina em Pexels.com
O Ar
Quantas montanhas tiveste que escalar
Para chegar até aqui e agora, neste patamar?
Por quantos vales tiveste que passar?
Por quanta lama tiveste que chafurdar?
Quantas mentiras tiveste que revelar?
Quantas verdades tiveste que relevar?
Quanto amor tiveste que reivindicar?
Quanto amor tiveste que recusar?
Para ser o que és, quanto ódio tiveste que provocar?
Quanto ódio tiveste que aceitar?
Quantas vezes pintaste a boca de carmim para beijar?
Quanta boca carmim procuraste para borrar?
Quantas vezes tiveste o bom senso de evitar
O desejo que te condenaria ao eterno regurgitar?
Quantas vezes tiveste a loucura de se entregar
Ao fogo que te salvaria do instante perpétuo de amar?
Quanto ar tiveste que respirar
Para simplesmente, no fim, o expirar?
#Blogvember / Cara Mia
… ela pensou que algumas viagens são mais partidas que chegadas. (Mariana Gouveia)

Lunna Guedes, que bom que você aqui chegou! A moça que veio de longe, acostumada mais a partidas do que a chegadas, aportou no altiplano paulistano, vinda de um porto do Mediterrâneo, mar do mundo velho. Mas no mundo novo também encontrou velhas práticas, antigos preconceitos, impedimentos à mulher de opinião forte. Que noite quase manhã dia feito decidiu mexer com as mentes, o artesanato da palavra em caracteres, papeis enlaçados feito o destino do pé de feijão no campo, que envolve o pé de milho? Em que momento decidiu empreender em terra brasilis (terra incógnita) a editoria de escritas pelas mãos de autores indecisos de suas lavras? Que impulso a levou a buscar-me entre outros como componente de seu Scenarium, ator novato na boca de cena da Literatura?
No mundo – Ásia, África, na América dos povos originários – as entidades ligadas à Água são femininas. Talvez seja sintomático que na Europa de onde veio, seja masculino. Ainda assim, ou talvez por isso mesmo, cresceu autônoma, cercada das pressões de uma sociedade machista, mas com uma mãe que a influencia até hoje, nas rememorações cotidianas.
Ontem, estive junto ao Mar. Permaneci por quase duas horas mergulhado em pensamentos aquosos. O Mar me pensava. Nele, absorvido e absolvido de minhas falhas, me sentia Um. Sou do Ar, mas brinco com a Água, ando pela Terra e brinco com o Fogo. Saio chamuscado, invariavelmente. Mas como o barro que é forjado imagem de ser humano, me levanto e ando. Agradecido por seu trabalho de artesã, pensando no texto que ora coloco em tela, repentinamente me apartei do elemento e vislumbrei as minhas mãos com os dedos enrugados. Decidi voltar ao Ar. Leve e purificado.
Participam: Mariana Gouveia / Lunna Guedes





