17 / 08 / 2025 / BEDA / Roy Lichtenstein

Em 2012, escrevi numa postagem do Facebook: “Sempre que passo por aqui, na Avenida Tiradentes, na altura da Passarela da Rua das Noivas, imagino que este grafite seja uma homenagem indireta ao grande Carlos Zéfiro… — em Avenida Tiradentes.

Porém, um amigo, conhecedor emérito de arte, Nilton Jorge, respondeu: “Grande, não tenho certeza, mas a referência não é a Roy Lichtenstein? Claro que preferiria que fosse a Carlos Zéfiro, mas foi quem me veio à cabeça primeiro… de qualquer forma, ótima postagem, adoro seus álbuns e olhares!”

Respondi: “A minha filha, Romy, que não conhece o Zéfiro, identificou a imagem como um trabalho de Roy Lichtenstein, um artista da Pop Art. O americano Lichtenstein utilizava referências de outros quadrinistas. O brasileiro tinha um trabalho original, mas em preto e branco. Ele confeccionou os famosos “Catecismos”, de cunho erótico.

23 / 06 / 2025 / O Cachecol Listrado

Ontem, o meu pensamento girava em torno de um sofá acolhedor, de onde assistiria à Copa de Mundo de Clubes e assistir a uma das séries que acompanho. Trabalhei por vinte horas no dia anterior em um evento no interior do Estado, mais propriamente em Cerquilho. Deixei-me dormir demais já que não havia nenhum compromisso agendado para o dia, a não ser o citado acima. Eis que lá pelas 14h fui informado que a família sairia, à pedido da mais nova que iria a uma festa junina perto de onde reside, no Tatuapé.

Este homem de família se sente impelido a interagir, mesmo quando não se sente à vontade para isso. Normalmente, estou ocupado nos finais de semana devido à minha atividade de sonorização e iluminação de eventos. Ontem, eu estava livre e lá fomos nós atravessar a cidade da Zona Norte até à Leste em dia de retorno de feriadão de Corpus Christi prolongado e de Parada Gay.

Excesso de veículos na Marginal Tietê, além de trechos interditados, chegamos além do horário programado, mas à tempo de aproveitar a quermesse de rua da igreja local. Noite tépida, 16ºC. Muita gente em movimento constante e em filas para consumir as guloseimas oferecidas. A decoração, colorida, girava em torno das franjas e bandeirinhas de papel, balões alegóricos, fogueiras de luzes. Percebi que paulistano gosta de pagar caro para comer comida em pratos de plástico, vasilhas térmicas e copos descartáveis. Uma jovem bandinha de garagem tocava músicas dos Anos 80. Uma volta no tempo em uma rua que ainda preservava construções da época em uma região que passa por um forte processo de gentrificação. Aliás, como em toda São Paulo.

Consumi um bom caldo verde. Após pegarmos mais um salgado, visualizei um brechó aberto entre as barracas. Visualizei um cachecol listrado que me chamava desde dentro da loja. Ele me remeteu a um quê de nostalgia de algo que não havia vivido, mas sendo de brechó, alguém o usou com propriedade e ocasião. Aproveitando que esfriava, logo o coloquei. Eu me senti distinto. E esquisito, segundo o resto da família.

Mas o calor que me protegia o pescoço compensava qualquer observação adversa. Quando fui pagar, a senhora perguntou se eu era músico. Respondi que trabalhava com eventos musicais. Ela disse que era atriz e sabia distinguir os tipos envolvidos em arte. Já em casa, a Romy me agradeceu a noite. E eu, com o meu cachecol listrado, intrigado conjecturei que simplesmente estar presente tenha sido suficiente pelo agradecimento. O que remeteu ao meu pai, um senhor ausente.

21 / 02 / 2025 / De G… Para J…*

Este quadro, eu encontrei na rua, jogado junto ao lixo para ser levado dali a pouco. Tela simples, traços básicos, paisagem típica de uma marinha. Quase não o trago para casa, mas percebi que havia algo escrito à lápis atrás da tela, que se iniciava assim:
“De G… para J
É um prazer muito grande estar lhe presenteando com um pedacinho de mim”. Era uma declaração de uma funcionária para a sua “chefe” que acabou por se tornar amiga. Discorre sobre as razões pelas quais a admira. E se encerra desta maneira: “Continue sempre assim. Te desejo muita paz de espírito e felicidade e a todos que convivem com você. Beijos!”
G… 15/03/01″. Imagino que quem quer que tenha jogado fora, não foi J… Talvez, um filho ou neto que não tenha conexão com a arte… da amizade…

*Texto de 2019

BEDA / Abril De 2013 Revisitado

As Rachaduras

Um interessante painel de arte à frente e eu só conseguia olhar para as linhas de rachaduras sinalizadas com giz, marcando o tamanho que apresentavam no túnel do Metrô Consolação, enquanto esperava o trem que me conduziria ao Paraíso. Que mal me assola que me faz olhar para além do que deveria ser o principal alvo de minha atenção? O que me conduz, me condiz?

* Postagem de 2013

A Ilhota

Onde estou?… Em São Paulo, junto à Represa de Guarapiranga. Esta cidade é imensa e plural, onde podemos conviver com a decadência arquitetônica do Centrão por descuido dos administradores ou percorrer caminhos juntos à novos edifícios, construídos feitos Torres de Babel, nas marginais do Rio Pinheiros, poluído e mal cheiroso… ou apreciar a Natureza em todo o seu esplendor de força e beleza, como aqui pode se perceber. — em Clube Atletico Indiano

As Mexeriqueiras

Além da Penélope, Dorô, Domitila e Frida aguardam que eu distribua a mexerica que tanto gostam. Como não tenho certeza sobre o efeito que causam o seu consumo para elas, apenas distribuo um quarto da fruta para cada uma…

Observação: nenhumas delas está mais conosco fisicamente. Até a mexeriqueira deixou de produzir. Mas todas passeiam por nossas lembranças, imagens e coração até que nós também deixemos de atuar neste plano. Em um outro, nos encontraremos, ainda que sejamos somente pura energia compartilhada alhures.

A Intrusa

Cerca de 75% do peso de um músculo de um ser humano é composto por água. O sangue, por sua vez, contém 95% de água, a gordura corporal, 14%, e o tecido ósseo, 22%. Pelos resquícios da festa de ontem, creio que algumas pessoas estão mal informadas a respeito… 

Participação: Lunna Guedes Mariana Gouveia / Claudia Leonardi Roseli Pedroso / Bob F.