Ar De Louco

Em 2015, registrei no Facebook*: “Resultado após o futebol de sábado — ganhei algumas partidas, perdi outras, fiquei com dores musculares, o cabelo eriçado e um sorriso no rosto!”. Ao observar essa foto percebi o ar de louco, que realmente sou. Não quero parecer que menosprezo a quem realmente sofre de demência que, entre coisas, se isola em seu próprio mundo de certezas.

Diferente desse sintoma alienado, o meu caminho é de incertezas. Mantenho, por outro lado, uma coluna vertebral de parâmetros que me sustenta em pé, não sem sentir muitas dores, verbalizada fisicamente por uma hérnia de disco, entre outros efeitos. Essa é outra forte constante em minha existência material — somatizo o meu sofrimento psicológico mental em episódios que perigosamente já quase me levaram à extinção. De qualquer forma, sou funcional neste mundo de loucuras reproduzidas aos bilhões.

Mantenho uma família, “amigos”, colegas de trabalho e relações interpessoais. Nunca sei como sou visto e quando me descrevem, descreio dessas impressões. Percebo o quando se enganam sobre mim, ao ser contextualizado em relação à minha própria visão. É certo que a minha autocrítica é um tanto ácida. O que não impede que me zangue quando percebem as minhas falhas. Talvez, efeitos do senso de autoproteção. A diferença é que busco atenuar a eventual falha, ainda que de início possa brigar com quem a aponta.

Essa foto, posada, mostra pelo menos uma certeza — não sei sorrir. Eu me lembro que, frequentemente envolto em crises existenciais, não via sentido em sorrir por nada. Não que não o fizesse, mas ocorria de forma episódica e imprevista. Como queria me ver agir de maneira natural… Não que eu fingisse… Apenas não sabia como me colocar diante dos outros. Quando jogava bola, ao contrário, eu sentia me exprimir como se cada movimento fosse necessário e justificado — consequência óbvia das necessidades em realizar o objetivo proposto — fazer o gol ou defender de tomar um. Não jogo mais futebol, apesar de amar a atividade. Mesmo nos sonhos em que jogo bola, sofro por não conseguir sequer chutar a bola.

O que vejo com ironia é que mesmo estando “feliz”, eu não conseguia expressar essa suposta felicidade. Eu sou daqueles que tentam objetivar o momento que passa. Tudo é passageiro, incluindo a nós mesmos. Estabelecida a contradição de tentar segurar a água com as mãos sem vazá-la entre os dedos, como a contrapor a nossa efemeridade, de alguma maneira eu encontro pretextos para torná-la “eterna”.

Sou daqueles que acredita na existência de uma Consciência Universal (que alguns chamariam de Deus). E de que ela guarda absolutamente tudo do que acontece em todos recantos dos muitos universos. Afastada a tese de que não haja prova de sequer ter havido um Big Crunch, esse repositório de sucessos inconsequentes, são consequentes e guardam conexões que talvez nunca venhamos a desvendar, a não ser fora do corpo material. Estando com o olhar de quem observa de fora, talvez tenhamos uma ideia da totalidade da Ideia. Não se esqueçam de que, sendo louco, tenho licença para criar…

*Eu costumo me referenciar a aplicativos como o Facebook, porque sou um historicista. Há coisas que achamos que durarão uma eternidade, sendo que a própria Eternidade possa ser contestada, a depender de qual escola de Física o sujeito pertença. Um dia, acaso alguém venha querer saber o que foi o “Livro de Perfis“, talvez se interesse por esse baú de assuntos tanto menores quanto maiores.

Participamos, todos, de uma grande e louca comédia — eu, você e o melhor de todos Charles Chaplin.

A Chegada Da Páscoa Ou Análise Do “Big Crunch” Pelo Efeito Comercial-Temporal Observável*

O Big Crunch não haverá! “O Big Crunch é uma teoria segundo a qual o Universo começará no futuro a contrair-se, devido à atração gravitacional, até entrar em colapso sobre si mesmo. Até 1998, pensava-se que a velocidade com a qual as galáxias se afastam deveria diminuir com o tempo, devido à atração gravitacional entre elas. A este princípio, alguns astrofísicos chamam de ‘memória elástica’ universal.” (Wikipédia).

A partir de 1998, através da observação de supernovas muito distantes, os cosmólogos descobriram que a velocidade da expansão universal está cada vez mais rápida e aparentemente não há condições de ser revertida. Estudos recentes tentam buscar explicação na implicação da matéria escura e energia escura.

De qualquer maneira, um possível efeito que podemos observar em nosso cotidiano é a sensação da passagem cada vez mais acelerada do Tempo, associado à estrutura espacial. Essa sensação é corroborada pelo apelo comercial que, com maior frequência, oferta-nos cada vez mais cedo campanhas publicitárias exaltando a próxima temporada de comemorações. Normalmente de origens religiosas, com o avanço do Capitalismo, ganharam contornos mercantis com o passar do Tempo. Aliás, a associação entre Fé e Comércio é tão antiga que, há mais de dois mil anos, um certo Profeta se revoltou contra isso e expulsou os vendilhões do Templo.

Nos supermercados — templos designados à outros deuses — já podemos observar a chegada dos ovos de Páscoa, enquanto sobras de panetones do Natal dividem espaço com os enfeites de Carnaval. Mais um pouco, os doces e temperos das Festas Juninas conviverão com os chocolates de Abril, enquanto as chamadas para o Dia das Crianças e do Halloween, estarão coladas a do Natal, com o indefectível Papai Noel à frente, a disputar espaço entre as gôndolas, em uma briga colossal, digna do Final dos Tempos.

Por essa e por outras, é que uma dona-de-casa ou qualquer outro cidadão comum, têm muito a ensinar a qualquer teórico físico quântico ou astrônomo que vive a observar galáxias distantes, sobre a aceleração da expansão do Tempo-Espaço…

*Texto de 2016

Foto por Foto por André Moura em Pexels.com