O mineiro é o brasileiro típico, segundo eu penso. Longe das influências vindas pelo mar, construiu uma personalidade montanhesa — íngreme como os picos, profunda como os vales que compõe o relevo das Minas Gerais. Tem, com certeza, a melhor e a mais variada cozinha do Brasil e as mulheres mais graciosas, na minha opinião. O falar é suave, quase um canto. Como é um povo desconfiado, tem que se enveredar por sua alma para compreendê-lo. A tradução melhor de sua grandeza se dá através de um dos meus escritores favoritos: Guimarães Rosa…
Imagem: Mariana / MG
*Postagem de 2012 (Facebook)
P.S.: Originalmente, mantive a antiga apresentação neste texto. O que coloquei depois é que o mineiro apresenta as características típicas do brasileiro do interior. Mas que também não deixa de ser um aspecto diferente da realidade. A multiplicidade de personalidades dos cidadãos brasileiros, devido ao tamanho do País e aos perfis culturais variados, garantem que o jeito carioca de ser é apenas “para inglês ver”.
Quando presenciamos uma cena de violência individual, costumamos senti-la como pessoal. Quando ocorre uma tragédia com grande número de mortos, o caráter coletivo acaba por o torná-la sem rosto. Neste país, o óbito de quase duzentos mil seres por Covid-19 parece não sensibilizar boa parte das pessoas. Quem não ainda foi infectado ou teve alguém conhecido que tenha sido, age como se fosse um fato corriqueiro e distante em possibilidade. Nesses momentos, quem nega o mal, ganha seguidores, como se tudo representasse um fato da vida. Mas não precisava ser. Porém, para que houvesse uma mudança de parâmetro, teríamos que enfrentar nosso principal inimigo — nós mesmos, brasileiros — que acreditamos sermos predestinados ao sucesso (seja lá o que isso signifique), ainda que façamos tudo errado. Negar a Ciência, o planejamento, o conhecimento de causa, nossas contradições, é eficientemente aceito como empecilhos do bem-estar coletivo. A ignorância chega a ser vista como a uma benção concedida como um cartão de crédito sem limites. Piora tudo quando a visão ideológica serve de esteio para que compremos ideias aparentemente baratas, mas que carregam juros altíssimos. No final de tudo, ficamos devendo os olhos da cara, aqueles mesmos que não enxergam um palmo diante do nariz.
Decidi deixar de seguir um amigo porque postou a entrevista de um médico cirurgião em um programa de uma rádio que deixei ouvir depois de 50 anos porque nos últimos 3 tornou-se ponta de lança de uma visão retrógrada e alienante. No programa, o sujeito com ares professorais, garantido por títulos e experiência comprovada, tenta relativizar as mortes por Covid-19 informando que a mortandade pela doença era menor que as ocorridas pela fome, pela AIDS e outras causas. Além disso, usou números relativos para desvalidar a vacina, principalmente a chinesa, que a verificação pura e simples realizada na busca por órgãos idôneos desmentiria. O direcionamento já me pareceu direto demais para passar despercebido porque ocorreu antes de uma análise mais profunda. Ora, a Internet que desinforma, também pode jogar luz sobre perspectivas obscurecidas propositalmente. O que causa espanto e joga dúvidas sobre o quadro sanitário é que o entrevistado pertence à área da Saúde. Ou seja, é um agente infiltrado tentando desinformar com o propósito básico de confundir. Claramente atua a favor de quem pretende que tudo seja nebuloso. O mais triste que seja por razões políticas. (Nota atualizada, o referido médico acabou por falecer por complicações causadas pela SARS-COV-2).
A Covid-19 é letal. A AIDS é controlável, mas se não for não cuidada, é muito mais letal. E o número de mortos aumentará bastante no Brasil por conta de medidas tomadas pelo Governo Federal. Em notícia vinculada em 7 de dezembro, está expresso: “O Ministério da Saúde deixou vencer um contrato e suspendeu os exames de genotipagem no Sistema Único de Saúde (SUS) para pessoas que vivem com HIV, AIDS (a doença causada pelo vírus) e hepatites virais. O teste é essencial para definir o tratamento mais adequado para quem desenvolve resistência a algum medicamento”.
A fome mata e muito, também no Brasil. Apesar de “apenas” 2,5% da população (cerca de 5 milhões) apresentar um quadro de fome extrema, juntam-se as precárias condições sanitárias para gerar uma situação instável que proporciona um aumento exponencial de chances da queda da imunidade dessa parte da população desassistida. É como se esquecêssemos de uma parte do nosso corpo ou a considerássemos dispensável. Quando se nega que uma Pandemia como a que ocorre agora seja combatida com todas as armas disponíveis, então podemos inferir algumas teorias. A que me ocorre mais imediatamente que isso faça parte de um plano de limpeza social, haja vista a tendência ideológica deste governo alinhada à extrema-direita. É uma avaliação fora de propósito? Não foi o chefe que sonhava com a morte de 30.000 brasileiros em uma guerra civil para resolver os nossos problemas? E na campanha eleitoral propagou que era a sua especialidade matar?
Pois então, chegaremos a 200.000 mortos até o final do ano e talvez o mentor do projeto ache pouco. O que me deixa mais triste é que ele encontre quem defenda as suas diretrizes entre componentes de outras partes do corpo brasileiro. Um dia, as nossas pernas nos levarão ao abismo…
*Durante a Pandemia, escrevi vários textos que muitas vezes não publicava. Publiquei este em 21 de dezembro de 2020. Através dele, buscava demonstrar que concomitantemente à existência da doença viral, o ataque reiterado perpetrado por agentes humanos patogênicos relativiza situações que antes seriam impensáveis porque, justamente, reproduz histórias de ficção distópicas, ao espalhar informações falsas feito uma epidemia. Um péssimo exemplo de que a vida imita arte. Pessoas que vibram na mesma frequência aceitam o mal de braços abertos e tantas outras que apenas ficam expostas sem a proteção da informação de qualidade, são abatidas pelo adoecimento do raciocínio. Mas eis que procurar a publicação no WordPress, não a encontrei, apesar de tê-la divulgado pelo Facebook. Como algumas pessoas poderiam se sentir atingidas por se filiarem ao pensamento que denuncio, imaginei que pudessem tê-la denunciado, mas essa ação, segundo eu soube, não seria suficiente para que fosse obstruída pelo WordPress, mesmo porque somente exponho a realidade… bem, isso talvez já seja suficiente.
A intenção do retrato de três por quatro centímetros seria o de poder identificar alguém por seus traços fisionômicos em documentos oficiais – Registro Geral, Passaporte, Carteira Nacional de Habilitação, classista, clubista, empresarial e outros fins. Ultimamente, o reconhecimento fisionômico tem sido usado para liberar certas funções no aparelho celular. Herdado da Burocracia, a identidade 3X4 visaria emparedar quem quer que fosse sob parâmetros predeterminados. Para os que podem abrir mão dessa solicitação, chega a causar certa contrariedade. Para quem está fora das políticas públicas voltadas para as populações carentes, representaria uma maneira de ser reconhecido como cidadão e receber alguma assistência.
Aos longo dos anos, os retratos de identidade usados para as várias identificações setoriais, acabam por contar um pouco de nossa história pessoal. É comum, pelo que eu ouço dizer por aí, não ser do gosto pessoal as imagens frontais do rosto, forjadas à força pela imposição de seriedade, sem sorriso e com o olhar catatônico, dignos de uma identificação oficial. Mesmo essa “encenação” não deixa de carregar certo interesse “arqueológico” pessoal. Tentei garimpar as imagens dos documentos e percebi que vários dos quais me lembrava, se perderam. Ficaram na memória, inacessíveis (por enquanto) pela tecnologia disponível. para os que tenho à mão, fiz um retrato dos retratos. Assim como todas as histórias, são vias de segunda mão.
Aos seis anos…
A minha mãe fazia questão de registrar os filhotes. Tinha medo que se pelava de nos perder. Histórias de crianças “roubadas” não faltavam. Ou para serem vendidas para fins diversos – desde adoção forçada até outros propósitos tenebrosos. O meu pai era de origem paraguaia. O país de origem foi controlada durante décadas pelo ditador Alfredo Stroessner que, diziam nas penumbras dos porões, que viveu se banhando do sangue de criancinhas para continuar vivo. Por muitos anos, era assim que eram justificados o sumiço de meninos e meninas pelas periferias de Assunção. No Brasil, era comum atribuírem aos adoradores do Diabo, o sacrifício de crianças. O fantástico a costurar a mentalidade do povo.
Aos dezessete anos…
Pela época da emissão da minha primeira identidade, eu vivia uma fase mais tempestuosa do que o normal. Adolescente, estava mudando de parâmetros para entender a Realidade “real”. Estava me tornando vegetariano e sentia que o mundo era um teatro com personagens que mal sabiam os papéis que interpretavam. Eu tentava sobreviver em meio à incompreensão dos outros quanto às minhas opções de vida. A cara amarrada da foto, era a que carregava exteriormente. Meses depois, devido ao choque alimentar advindo do vegetarianismo, fiquei tão magro que a foto de Reservista era a de um “aidético”, acunha que cheguei a ouvir nos Anos 80, época do início da chamada “peste gay” – apenas para historiar mais uma locução preconceituosa do povo brasileiro.
Aos 48 anos…
Um salto no Tempo e revelo esta foto que foi tirada digitalmente para a feitura de minha Carteira de Estudante para passar nas catracas da Faculdade de Educação Física na UNIP, onde comecei o curso de Licenciatura, depois Bacharelado. Iniciei nas turmas de meio de ano, em 2009, junto a uma maioria de garotos e garotas que buscavam uma profissão ligada á atividade física em suas várias vertentes – academia, esportiva, como personaltrainer – entre outras possibilidades. A minha intenção era a de compreender o meu corpo após o advento da Diabetes, em 2007. A eventualidade de uma futura profissão era remota, mais havia. Fui incentivado pela Tânia, que considerava que estava sofrendo uma espécie de “síndrome do ninho vazio”, depois que as “minhas meninas” iniciaram a despedida do ninho.
Aos 51 anos…
Esta é a “facetta” que apresento na minha atual carteira de Registro Geral. De dez anos antes, creio ter sido a que destaca a fase mais interessante em termos de realizações pessoais e profissionais. Os meus anos cinquenta compreendeu a formatura em Educação Física, a entrada na Scenarium como escritor e minha afirmação profissional com a Ortega Luz & Som. Um pouco antes de completar os sessenta, sobreveio o 2020 pandêmico. Teria várias situações inéditas a enfrentar. Histórias não faltam…
Aos 53 anos…
Esta foto é a que está na minha Cédula de Identidade Profissional do Conselho Federal de Educação Física, expedida em 2014. Comecei a raspar a cabeça por vários motivos. O mais óbvio, a questão da praticidade, já que não tinha tempo para nada, incluindo o de tentar tornar apresentável o cabelo cheio de redemoinhos e falhas devido à calvície galopante. Mais tarde, devido à desproteção capilar, comecei a usar chapéus, boinas e bonés. Proteção contra o frio ou o sol, acabou por se incorporar á minha imagem usual.
Aos 56 anos…
A imagem acima é a da Credencial Plena do SESC. Há outras depois dessa, mas apenas digitais, enviadas via a Internet. Presa a um cartão, é a última. Mostra o provecto senhor com um sorrisinho bacana de quem não precisa provar nada a ninguém a não ser a si mesmo. De 2017, demonstra que o branco tomou conta do corpo e da alma. Mal sabia eu que ainda o mundo nos mostraria que nunca devemos deitar sobre os louros, que a Realidade não nos deixa de surpreender.
A semana começou com notícias vindas de vários lugares do mundo a demonstrar o quanto as realidades se intercalam em maiores e menores escalas de reconhecimento.
No Brasil, começamos com as repercussões segundo dia da derrota da seleção brasileira de futebol na Copa América pela Argentina de Messi. Trazida para a “Pátria Amada” pelo Governo Central que, mesmo enfrentando a Pandemia, preferiu banca em sua realização numa típica manobra da Antigo Império Romano de proporcionar o Circo e obter possíveis dividendos políticos. A final ocorreu na noite de sábado, quando eu estava trabalhando, situação que aparentemente voltará a ser menos ocasional, já que minha atividade envolve apresentações de bandas, cantores, bailarinos e/ou atores, com a reunião de pessoas em buffets, clubes e auditórios. O que poderá ser viável com o avanço da vacinação. Eu só soube do resultado após o término da decisão e não senti nada. Em nada parecia com o garoto que amava o futebol e sofria com as derrotas como se fossem pessoais.
O sentimento de ausência de alegria ou tristeza, certamente tem a ver com a situação que vive o País, em que comemorar vitórias ilusórias diante de tantas derrotas reais impingidas pela Covid-19 a fez campeã negativa de nossos dias. Quando vi a reportagem sobre o jogo e constatei a emoção de Leonel Messi, caindo sobre os joelhos sob o peso de sua história particular, um talentoso e vencedor atleta em seu clube, mas que nunca havia angariado um título pela seleção nacional, me alegrou um pouco. Do outro lado, estava o “menino Ney”, um sujeito que infelizmente não cresceu como homem e vive “pisando na bola”. Uma das crônicas de REALidade, meu primeiro livro, o enaltece no episódio de sua contusão na malfadada Copa de 2014. Daí em diante tem se mostrado um ídolo com pés de barro, ainda que talento futebolístico não lhe falte.
Em Wimbley, estádio lotado de torcedores de ambas as agremiações, vimos a seleção da Inglaterra perder a decisão nas penalidades máximas para o da “Azurra” italiana. Gostei da vitória da Itália, que mesmo estando acostumada a vencer títulos mundiais, ficou fora da Copa de 2018. A vitória está sendo considerada um sinal de reavivamento do seu futebol. De antigo destino dos sonhos de meninos do planeta bola, o País perdeu projeção internacional nos últimos 20 anos. Adotando a valorização da posse de bola e do ataque além da tradicional defesa forte, desenvolveu a formulação de um futebol total, estando há mais de 30 jogos sem perder.
A maior derrota inglesa, porém, se deu fora de campo. O aparente ressurgimento dos famigerados holligans marcou a realização do jogo. Houve ataques racistas contra os jogadores que perderam os pênaltis, de origem não caucasiana. Os torcedores racistas ingleses não conseguem alcançar que mesmo nascido como esporte de elite, o futebol se popularizou a ponto de penetrar em todos os recônditos do planeta, praticado por todas as etnias — de originários do Brasil, a asiáticos, passando por africanos, árabes e aborígenes. Eles não perceberam que só chegaram aonde chegaram por causa da miscigenação do time. Os rapazes pretos tiveram a coragem de fazer as cobranças numa decisão de tamanha importância, enquanto os brancos se eximiram de fazê-lo — não deveriam também serem cobrados por isso? Quando Saka teve seu chute defendido pelo goleiro italiano Donnarumma, considerado o melhor jogador da competição, chorou porque sabia o que viria pela frente, não apenas por ele, mas por outros de sua origem.
Em contraposição, vemos os campos vazios do Brasil atrasado na imunização por vacinas contra o SARS-COV-19, muito devido a “tenebrosas transações” nos corredores do Ministério da “Doença”, restaurantes e gabinetes palacianos de Brasília. Processo levado adiante por sujeitos que se arvoravam ilibados porque nunca se provou nada contra suas práticas espúrias — apesar de sabidas — ou porque considerassem seu comportamento “normal” dentro de um sistema viciado. Entre a hipocrisia ou a falta de consciência por parte dessa gente, voto pela simples desfaçatez: “me chama de corrupto, porra!” — enquanto a CPI do Senado sobre ações e omissões do Governo Federal continuará a buscar comprovações da política nefasta na condução da boiada porteira afora. Quanto ao perigosamente cada vez mais desconexo Ignominioso, vejo a possibilidade de quatro ocorrências: impeachment, renúncia (para evitar o processo e consequente inelegibilidade) e tentativa de Golpe deEstado. Se houver eleição, perderá…
Acontecimentos considerados inéditos, em Cuba, houve passeatas em nome da liberdade política e por avanço na imunização precária, enquanto a notícia divulgada antes é de que sobrava vacina, a ponto de estrangeiros serem vacinados quando chegavam à Ilha. As imagens são inegáveis e não devemos deixar, por miopia ideológica, de verificar o que acontece, uma longa ditadura que empobreceu o País. Na Espanha, uma morte causada por comportamento homofóbico contra um gay de origem brasileira, ainda repercute no país inteiro, com passeatas e cobrança por justiça. No Brasil, nada inédito no país considerado o mais perigoso para quem se identifica para além da dicotomia de gênero, uma cidadã trans foi morta por ter o corpo queimado por um adolescente que carregava, apesar de novo, os preconceitos passados de pai para filho neste sistema patriarcal que prejudica a homens, mulheres, transgêneros e identidades diferenciadas.
Em Fortaleza, um expoente (em termos de veiculação) da música popular atual apareceu, por imagens gravadas por câmeras de segurança interna de sua casa, espancando sua ex-esposa, estivesse ela sozinha, diante de outras pessoas ou de sua filha de nove meses, com socos, pontapés, puxões de cabelo e, não devemos duvidar, por palavras ofensivas de fundo moral. Para se justificar, o acusado culpou a vítima. Só se a mulher espancada buscasse se defender de alguma forma. Se há algo que enraivece quem agride é que o agredido se defenda da agressor. Quem ataca dessa maneira quer humilhar, rebaixar a vítima à condição de nada-ninguém, deseja pisar nela como se fosse um pano de chão. Para quem ataca, trata-se de uma “pisadinha”, para quem é atacado, torna-se uma quase morte, uma antevisão de seu aniquilamento. Pior ainda se for uma “simples” mulher que não deveria sair de seu lugar de pessoa de segunda categoria, de acordo com o pensamento do típico protomacho brasileiro.
Não busco resumir, a partir desses acontecimentos, quaisquer receitas a serem passadas adiante como modelos de viver e pensar. O que sei é que o sucesso profissional, artístico, financeiro e/ou social não engradece o Homem, mas a maneira como recebemos as vitórias e como lidamos com os nossos próprios insucessos na busca do equilíbrio mental, emocional, sentimental e espiritual. Esta última instância não tem a ver com religião dogmática, mas como uma visão transcendente da vida.
Para quem crê que tudo se restrinja à realidade imediata do mundo, ganhar o mundo muitas vezes é não o reconhecer em sua finitude tanto na questão de tempo quanto na de espaço. Somos seres mais e melhores, potencialmente. Basta querermos ultrapassar as limitações que tentam nos impor desde que nascemos através de ideologias segregadoras e por receitas de sucesso esporádico e finito. No entanto, e principalmente, enquanto estamos no mundo, é mister que defendamos os excluídos, os agredidos, os ultrajados e os que são mortos por uma política violenta e insultante da dignidade humana contra os poderosos de plantão. Que a Justiça terrena alcance e puna os representantes de um modelo de dominação que já não encontra lugar em nosso País e Planeta.
Fila de vacinação em Duque de Caxias, RJ, com espera de cinco horas e consequente aglomeração (Fonte: O Globo)
Nosso país está diante da enorme possibilidade de viver uma terceira onda de casos de Covid-19, que já partirá de um nível alto de ocorrências. E não será porque queiramos imitar o que já aconteceu na Europa, mas porque parece que o nosso espírito “macunaímico” nos impede de que sejamos prevenidos ou suficientemente articulados para adotarmos estratégias de sobrevivência saudável. Essa seria uma boa desculpa. Macunaíma é um herói sem caráter, não que seja intrinsecamente mau. Ele se parece mais com uma criança recém nascida que, por estar ainda em formação, aparenta ter nenhum caráter. Dessa maneira, se exime de culpa, já que assim como um incapaz, não é responsável jurídica e civilmente por qualquer falta. “Não é minha culpa, é de outros!” — é a desculpa usual da criança peralta que comete alguma traquinagem.
Quando vemos uma situação se repetir sucessivamente estabelece-se um padrão. Quando se trata de uma conjuntura importante e potencialmente letal, é nosso dever nos defendermos. Diz-se popularmente que a pessoa inteligente aprende com os próprios erros, a pessoa sábia aprende com os erros dos outros. Quando advertimos aos jovens que não ajam de tal e tal maneira porque sabemos que o resultado não será bom — “meu filho, vai dar ‘ruim’!” —é comum a resposta ser: “pai, mãe, aconteceu com vocês, não acontecerá comigo” ou “eu não sou vocês, deixem eu viver a minha vida!”. O fato é que quando alguém quer fazer algo, quando o desejo se faz imperativo, não há nada que impeça — o bom senso, os possíveis efeitos perniciosos para si ou as consequências desastrosas para os outros — simples assim.
Se falamos de crianças que podem aprender a se comportar com o tempo ou de jovens em processo de amadurecimento é uma coisa. Quando versamos sobre adultos com vontade de fazer o mal e poder de materializá-lo é outra. Antes, o atual Governo FederalBrasileiro era reconhecido apenas como incompetente nas áreas de atuação governamental básicas, mas para quem soube identificar o perigo que o bando representava muito tempo antes de ter sido colocado na posição que ocupa, tem consciência de que havia um projeto de destruição do país, em suas diversas áreas. O que me espanta é a desfaçatez com que o plano é posto em prática e o fato de ainda arregimentar apoiadores — pessoas de “bem”. De uma parte, com a defesa comprada à soldo junto aos representantes do povo no parlamento. De outra, com a anuência de quem fecha os olhos para o mal e absolve de antemão, não importando o resultado, todos os atos e omissões do Ignominioso e seus asseclas. É como se pudéssemos compreender embrionariamente o que se desenvolveu na Alemanha nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial, assim como a compreensão cabal do que Hannah Arendt quis dizer com a expressão “banalização do mal”.
Que uma porcentagem de cidadãos colabore com um projeto genocida não é inédito na História mundial. Já vimos isso acontecer antes. Mas nunca imaginei, nem em meus piores pesadelos, que isso viesse a ter sucesso no Brasil. Dentro do desgoverno brasileiro há pessoas que seguem a “cartilha da destruição” criada por um louco influente entre os filhos-numerais-cardinais do Ignominioso e que estrutura todas as tomadas de decisões levadas avante durante a Pandemia—Olavo de Carvalho. Parece o enredo de um filme de terror distópico se não tivéssemos protagonizando a trama como simples coadjuvantes, tendo como resultado final o cheiro putrefato de quase meio milhão de mortos.
A falta de controle na gestão da crise sanitária causada pela SARS-COV-2, as idas e vindas (propositais) quanto aos rumos a serem tomados no combate à Pandemia: a falta de medidas preventivas eficazes, como o distanciamento social e o uso de máscara, substituído pela propaganda de remédios sem efeitos corroborados por estudos científicos sérios — cloroquina e ivermectina —, além da falta do suporte de um auxílio emergencial razoável; a criminosa protelação do uso de testes de Covid-19 até ocorrer o término do prazo de validade; a recusa em anunciar o número de vitimados pela doença, tanto infectados quanto mortos, o que impediria seu controle eficaz; a omissão quanto a compra de vacinas antecipadamente, sem respostas aos produtores dos imunizantes; o ataque aos prefeitos e governadores que promoveram ações preventivas; a troca de ministros da saúde como se fossem jogadores de futebol machucados e a adoção da ideia estapafúrdia de “imunidade de rebanho” que viria a “dar certo” somente quando morressem milhões de brasileiros. Tudo isso se houvesse apenas um tipo do vírus causador da doença. Contudo, eis que o vírus parece ser mais “inteligente” do que homens que se auto intitulam como tais e criam variantes que são mais letais do que as anteriores. Como a brasileiríssima amazonense e a indiana, diagnosticada em tripulantes de um navio malaio que aportou esta semana no Nordeste e que já foi detectada em outros pontos do País.
Se estivéssemos em processo de vacinação em massa, com pelo menos um milhão de imunizados todos os dias, teríamos como esperar que o Brasil voltasse a ter uma vida quase normal até o final do ano, como prometeu o atual perna-de-pau no time do ministério da doença. Considerando o ritmo vacinal de hoje, terminaremos de imunizar os adultos somente em 2023. Mas o Ignominioso, num movimento que alguns interpretam como cortina de fumaça, mas que para mim é de incendiário, voltou a ofender o principal fornecedor de imunizantes do mundo, fazendo com que a China atrasasse o envio de insumos —IFAs — para a fabricação da Coronavac (Butantã) e da AstraZeneca (FioCruz) como uma espécie de advertência diplomática, anunciando que destinará apenas um terço do programado.
O objetivo óbvio da quadrilha no poder é o de evitar o protagonismo de um inimigo político, não importando quantas vidas sejam perdidas por causa disso. Com a interrupção dos insumos, vivemos uma espécie de apagão, um hiato na vacinação que tem como resultado o avanço das variantes em todas as regiões. O que é um desastre para o País, veio a calhar para o desenvolvimento da “política” de fazer “passar a boiada” — decretos que desmantelam gradativamente projetos sociais e conquistas justas obtidas pela sociedade civil organizada — além de promulgar a destruição do meio ambiente. Devemos ficar atentos quando os milicianos filhos e pai se contorcem ao ser citado o Rio de Janeiro como um dos locais em que se dá a malversação de fundos ligados ao Ministério da Saúde. A “famiglia” atua diretamente na região. E como dizem os americanos “follow the money” e poderemos encontrar o lado B da corrupção. Acabamos por conviver com dois tipos de vírus que penetram no corpo da nação e nos destroem de dentro para fora.
Porém, há algo que o Ignominioso não poderá evitar e que, com o tempo, provocará a sua ruína e a nossa redenção — algo ao qual chamo de “Efeito Dallas”. Dallas foi uma série americana que durou de 1978 a 1991. Era centrada nas tramas espúrias em torno de uma grande e rica família texana — os Ewings— que lidava com petróleo e gado. Com o tempo, o enredo trouxe para o centro a personagem de J.R., cujos esquemas e negócios obscuros se tornaram a marca registada do seriado. Sucesso no mundo todo, os governantes albaneses, promotores de uma República fechada em si mesma, controlada com mão-de-ferro por Enver Hoxha, decidiu que a produção americana era um bom exemplo da decadência moral capitalista e permitiu que fosse exibida no país. Para além das veleidades cometidas pelas personagens em nome do deus dinheiro, o povo albanês percebeu que, apesar das diferenças socioeconômicas, mesmo os empregados tinham casas razoavelmente confortáveis, aparelhadas com eletrodomésticos e automóveis na garagem.
A defasagem entre os estilos de vida na América e na Albânia deu ao povo albanês a consciência de haver uma outra possibilidade de viver menos austera. Um triunfo inesperado do Capitalismo, apesar dos esforços em demonstrar a decadência moral do “american way of life”. Isso ajudou na mudança do regime, principalmente depois da morte de Hoxha, em 1992. No Brasil, o “Efeito Dallas” está em andamento e, paulatinamente, mostrará a discrepância entre a política negacionista do Governo Federal e a de países como os Estados Unidos, de Biden, defensor da vacinação massiva de seus cidadãos. Graças a isso, os Estados Unidos estão reabrindo a economia e voltando ao estágio anterior de convivência social. Mais do que as negações dos governistas em seus depoimentos na CPI do Senado sobre as ações e omissões do Ignominioso e sua gangue, por comparação acabará por ser demonstrada a atuação danosa ao longo desse processo angustiante para as nossas famílias, através da contaminação monstruosa da ideologia assassina ora implementada. Espero que sobrevivamos para ver surgir um amanhecer menos tenebroso em futuro próximo.