29 / 03 / 2025 / Farfalla

Farfalla cumpre o destino
após tanto tempo no casulo autoimposto
não se faz de rogada Farfalla fala
nasci neste dia quero festa quero cumprimentos
não desejo votos de isentos
desejo beijos ainda que distanciados
quereres bem-intencionados  
calor humano
a suplantar o calor deste litoral
em que voo sobre as águas sob o Sol
sou amiga sorridente bailarina no jardim
absorvo o néctar de flores
enquanto me afasto das lembranças de dores
revoo aprecio a paisagem que me renova
volteio não fico no meio alcanço as fronteiras
sou da vida bela ainda que dela nada se leve
sou leve asas abertas passeio por multicores
de plantas absorvo doces fragrâncias
escrevo o meu caminho em poemas
em cantos em danças em delicadezas
um dia pousarei hoje não que não quero
descansarei ao raiar do dia de nova hora
cercada pela flora sonora de abelhas que lhes beijam
ao cintilar solar da aurora…

Foto por Joseph M. Lacy em Pexels.com

18 / 03 / 2025 / Transmutação

A metamorfose se deu, de início
pelo olhar…
O movimento dela o paralisou.
Como se fotografasse cada gesto,
aprisionou dentro de si a evolução
do casulo à borboleta —
da flor ao céu —
asas da imaginação…

Quis recuar quando suas vozes
ocuparam o mesmo ambiente —
palco de suas atuações…
Percebeu que fluíam sonoras
conversas de palavras
entrecortadas,
caladas…
As lacunas preenchidas de desejos
perfeitos em suas incompletudes.

Quebradas as barreiras —
distâncias de centímetros-quilômetros —
peles sem proteção,
mentes despertas,
liberta de atavismos
e consequências,
o imediato transformado em eterno,
se reconheceram outros,
os mesmos…

Ele,
transmutado
de Jackyll em Hyde,
de homem em lobo,
de mortal em vampiro,
de Clark em Superman
todos e ninguém,
vivia ausente de si…
Passou a respirar o vácuo
se não aspirasse o hálito da paixão…

Transformação
irremediável,
perigosa,
instável,
liberdade de viajante
encarcerado,
não trocaria o permanente desconforto
do atual caos da criação do mundo
pela antiga estabilidade da morte
em vida…




Citadino*

Você me chamou e não a ouvi
Estava absorto na faina cotidiana
Navegava pelos rios de asfalto da cidade
Percorria os túneis de fuga terra adentro
Para fora de mim mesmo
Sempre apartado do meu corpo
O que poderia ser um sinal de independência
Não se cumpria
Pois os pensamentos arquitetados
Por outras mentes
Eram absorvidos pelos meus olhos
Invadiam o meu cérebro
E eram caminhados por minhas pernas
Se incorporando à minha rotina
Como se meus fossem através do poder de intervir
Consumado pela arquitetura citadina
Realizada pelos planejadores do ir e vir
Estava partindo para um lugar certo
Porém não pensava nisso
Mesmo querendo parecer borboleta
Ainda que formada e liberta
Voltava para o meu casulo
Que me atraía
Como tal, as minhas asas voavam um voo curto
Mais decorativas do que eficientes
E termino sendo um simples humano ser
Fingindo um próprio querer…

Foto por Erick Blanco em Pexels.com

*Poema de 2015

Transformação

A metamorfose se deu, de início,
pelo olhar…
O movimento dela o paralisou.
Como se fotografasse cada gesto,
aprisionou dentro de si a evolução
do casulo à borboleta –
da flor ao céu –
asas da imaginação…

Quis recuar quando suas vozes
ocuparam o mesmo ambiente –
palco de suas atuações…
Percebeu que fluíam sonoras
conversas de palavras
entrecortadas,
caladas…

As lacunas preenchidas de desejos
perfeitos em suas incompletudes.
Quebradas as barreiras –
distâncias de centímetros-quilômetros –
peles sem proteção,
mentes despertas,
liberta de atavismos
e consequências,
o imediato transformado em eterno,
se reconheceram outros,
os mesmos…

Ele,
transmutado
de Jekyll em Hyde,
de homem em lobo,
de mortal em vampiro,
de Clark em Superman
todos e ninguém,
vivia ausente de si…
Passou a respirar o vácuo
se não aspirasse o hálito da paixão…

Transformação
irremediável,
perigosa,
instável,
liberdade de viajante
encarcerado,
não trocaria o permanente desconforto
do atual caos da criação do mundo
pela antiga estabilidade da morte
em vida…

Voo Curto

Voo Curto

Você me chamou e não a ouvi
Estava absorto na faina cotidiana
Navegava pelos rios de asfalto da cidade
Percorria os túneis de fuga terra adentro
Para fora de mim mesmo
Sempre apartado do meu corpo

O que poderia ser um sinal de independência
Não se cumpria
Pois os pensamentos arquitetados
Por outras mentes
Eram absorvidos por meus olhos
Invadiam o meu cérebro
Caminhados por minhas pernas
Se incorporando à minha rotina
Como se meus fossem, através do poder de intervir
Consumado pela arquitetura citadina
Realizada pelos planejadores do ir e vir

Estava partindo para um lugar certo
Porém não pensava nisso
Mesmo querendo parecer borboleta
Ainda que formada e liberta
Voltava para o meu casulo
Que me atraía
Como tal, as minhas asas voavam um voo curto
Mais decorativas do que eficientes
E termino sendo um simples humano ser
Fingindo um próprio querer…