20 / 08 / 2025 / BEDA / A Epidemia Social

Vivemos uma Epidemia Social — o da violência contra a pessoa do gênero feminino. Cresceu exponencialmente o sofrimento da mulher, assim como já sofreu durante milênios de anos, resistindo bravamente com a sua voz diante de sociedades eminentemente patriarcais. Na imagem acima eu registrei no início de Agosto. Demonstra o quanto progrediu as agressões explícitas, além das que ocorrem baixo os tetos e entre paredes das casas, apartamentos, Centro, Bairros opulentos e Periferias das cidades e nunca são mencionadas.

Mas, apesar disso, repercute nas vidas de quem convive com ela, principalmente os filhos que veem os pais baterem nas esposas, suas mães. Os efeitos são permanentes, dignas de serem tratadas por longos anos de terapia, quando podem. Filhos de agressores podem vir a reproduzir em seus relacionamentos os mecanismos que evoluem de situações mais simples, como o impedimento de completar uma fala até finalmente desembocar numa agressão física. Daí, para o Feminicídio é quase uma consequência “natural”.

Essa Epidemia Social do Feminicídio tem vários fatores: o machismo, engendrado pelo sistema patriarcal, a falta de amadurecimento psicológico dos agressores ao lidar com o casamento que “obriga” aos componentes de um casal a um diálogo permanente, além de outras tantas questões que variam de família para família. Mas o principal é o do homem abrir mão de uma suposta superioridade social. O que deve ser provado quando as questões e as questiúnculas se sucedem ao longo do tempo.

Eu sou um homem que se sente envergonhado a cada ocasião que surge no noticiário cenas e situações de crimes contra a integridade física da mulher. Principalmente o assassinato. Mas existem tantos outros que antes de culminar na morte da mulher, progredindo passo a passo dos primeiros e imperceptíveis movimentos até o final desastroso. De uma história de amor, é o ódio que sai ganhando.

Tenho uma teoria à respeito desse progressão monstruosa do Feminicídio, incluindo as tentativas. Foi o advento do (des)governo anterior que escancarou um personagem abjeto que incorporava de forma exemplar os exemplos de violência em todos os níveis ao fazer declarações recorrentes de cunho misógino. Creio que isso de certa maneira naturalizou o que só se dizia intramuros. Um líder dos descerebrados que se sentiram à vontade para proclamar todos os preconceitos arraigados na formação da Sociedade brasileira. O esgoto assomou ao nível da rua.

22 / 04 / 2025 / BEDA / Natureza No Asfalto*

Onde estou?… Em São Paulo, junto à Represa de Guarapiranga. Esta cidade é imensa e plural, onde podemos conviver com a decadência arquitetônica do Centro, por descuido dos administradores ou percorrer caminhos juntos à novos edifícios, construídos feitos Torres de Babel, nas marginais do Rio Pinheiros, poluído e mal cheiroso… ou apreciar a Natureza em todo o seu esplendor de força e beleza, como aqui pode se perceber — em Clube Atlético Indiano.

*Texto de 2013

#Blogvember / Oposição

O toque suave dos teus lábios adormece em minha boca (Suzana Martins)

quando já não sabemos se anoitece
ou se amanhece
quando não sabemos se temos o céu sobre
ou sob as nossas cabeças
ou quando nada disso importa
já que em algum lugar deste planeta
uma parte dos seres 
estará inevitavelmente em posição
oposta em relação à outra
mas o que eu mais queria era opormos
nossos corpos mãos a tatear nossas peles
adivinharmos no escuro nossas posições
pés sem chão no horizontal
em ponta cabeça em frenética busca do centro
do prazer abaixo do plexo de cada um
após o lusco-fusco no horizonte
de nossos sonhos acordados
enquanto o toque suave dos seus lábios
adormece em minha boca…

Participam: Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Suzana Martins / Lunna Guedes

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Quando Tiramos A Roupa

Eu estava procurando um texto meu, quando me deparei com Nudez. Parece-se com uma espécie de ensaio que versava sobre esse controverso assunto – a depender de quem o lê ou comenta. Encontrei outras vezes em que cito a nudez como expressão visual em algumas postagens. Colocarei a seguir exemplos desse desnudar em imagens, sentimentos e ideias.

No Centro Velho de São Paulo, a menina nipônica na porta da garagem agita uma bandeira branca… da paz? Como aquela área já fez parte da zona de meretrício, talvez a pintura compusesse a entrada de um local afim… Talvez, a pouca vestimenta da moça fosse inspirada na nudez de valores hipócritas… Talvez, o artista não tenha tido nenhuma outra intenção além de preencher o espaço da porta… Talvez… (2016).

Na legenda do Facebook escrevi: “Mais uma de seminudez. Afinal, é verão neste hemisfério! — em Litoral Norte”. O que significa que não era incomum que aparecesse sem camisa ou menos… Saudade desses óculos (2011).

O sempre impactante e contraditório monumento à figura da ama-de-leite compulsória dos filhos de classes abastadas — Mãe Preta. Eu a conheço (a estátua) desde garoto. Nunca deixou de me causar uma forte impressão. As formas opulentas da personagem criada por Júlio Guerra, inaugurada em 1955, seria uma homenagem à participação da raça negra na História do Brasil. Rendo todas as honras à todas essas pessoas que doaram os seus corpos para que hoje vivêssemos as nossas atuais contradições. Não o faço àqueles que, um dia, exploraram seres humanos como objetos… Tanto quanto nos dias que correm…

Entre 2009 e 2013, fiz a faculdade de Educação Física. Estava com 49 anos à época e me sentia à vontade em meio aos mais jovens. Competia de igual para igual com o resto da turma. Coloquei como legenda: “Último dia do Curso de Natação, no final de 2010. Comigo, estão Saulo (de costas), Vitaum e Danilo. Garotos (alguns mais novos, outros nem tanto) à beira da piscina Clube Esperia”.

A escultura tumular foi, principalmente na primeira metade do Século XX, uma das mais ricas expressões das artes plásticas no Brasil. Grandes escultores, como Victor Brecheret, Galileo Emendabili, Bruno Giorgi, Materno Giribaldi, Nicola Rollo, Francisco Leopoldo e Silva, executaram obras que compõem o acervo do Cemitério da Consolação. Apesar de belo, o conjunto aqui mostrado não tem o autor identificado. Normalmente, as obras buscavam representar a passagem para a “vida eterna” de uma maneira que exaltasse a grandeza da família que detinha a posse daquele cobiçado espaço no chão paulistano. Aqui, vemos Cristo, de corpo quase totalmente exposto, sem vida, sendo pranteado e cuidado para ser colocado no túmulo do qual saiu depois de três dias, ressuscitado (2022).

Em outubro de 2021, ao completar 60 anos, ganhei das minhas filhas uma viagem para Parati, situada entre São Paulo e Rio de Janeiro. Foi uma experiência prazerosa em que a Tânia e eu usufruímos de belas paisagens naturais, além dos casarios e ruas antigas da cidade. Fizemos trilhas, visitamos quedas d’água, visitamos uma destilaria das muitas que produzem as famosas pingas da região, conhecemos bons restaurantes e passeamos de escuna, quando tive oportunidade de nadar no mar. Aqui, uma imagem desse passeio, junto a uma das paradas — uma das belas ilhas do arquipélago do litoral sul fluminense.

Participam, com temas diversos: Lunna Guedes / Mariana Gouveia

Missivas De Primavera / Receituário De Uma Quinta Infinda

Roseli Pedroso

Companheira,

se fosse fazer uma brincadeira, dessas de criança, perguntando: “o que é que é, um ponto prateado num Centro cinza” – sem pestanejar, responderia – Roseli! Pois você se destacaria com a sua cabeça de prata em meio a multidão que caminha pelas ruas centrais da Vila Buarque. Assim como o Buarque de Holanda, também escreve e poetiza a realidade com as suas crônicas que falam de tudo e de todos – da vida e da morte, do azar e da boa sorte, de si e do outro. Como o compositor, compõe crônicas ora com a alegria de viver, ora com a decepção de saber, ora com a oportunidade perdida, ora com a batalha vencida.

Senhora de si e do verbo, escreve Quinta das Especiarias, remetendo ao passado de sabores, odores e amores que a formaram. Como também narra as vidas de mulheres que viveram as agruras de expectativas não realizadas, alienação e sofrimento de umas e revoltas construtivas de outras, em Equação Infinda. Em Receituário de Uma Expectadora, vemos mais do que alguém que espreita o movimento, mas intervém na Realidade, imprimindo com a sua análise a marca de ironia fina. Contadora de histórias e defensora do conhecimento, quase a imagino um ser mitológico, uma espécie de Atena, que após o fim do mundo como o conhecemos, a encontraria guardiã de uma imensa biblioteca para o bem do novo alvorecer.

E é aí que nos encontramos, passeando para além do cenário amado do Centrão, ainda que nunca tivéssemos trombado por aí. Porque talvez os forasteiros não saibam, mas São Paulo é uma província, apesar de tanta gente viver por aqui. É o teatro onde buscamos personagens e lugares, falas e situações que nos enredam e nos trazem enredos com os quais enveredamos por testemunhos e textos. Quase a imagino um ser mitológico, uma espécie de Atena, que após o fim do mundo como o conhecemos, seria guardiã de uma imensa biblioteca para o bem do novo alvorecer.

Com eles, contribuímos para a boca de cena da Scenarium. Lugar de amálgama, síntese e solvências, esta cidade é a seara onde plantamos palavras que geram escritos, ainda que seja um campo endurecido de asfalto e concreto. Como sabemos, nada é por acaso. Se uma italiana se perdeu / se encontrou em Sampa e, através dela estes paulistanos se encontraram, alguém objetaria dizer que não foram pelas mãos de divindades celtas? Promotora de misturas alquímicas, realizou cerimônias ritualistas a qual chamou de Saraus, a nos colocar sempre fora de prumo, pela luz da Lua minguante.

Querida, espero nos reencontrarmos num desses rituais promovidos pela sacerdotisa-mor ou antes, por um desses acasos de tempo e lugar. Por enquanto, envio esta missiva, com muito carinho, já antevendo o seu imenso sorriso que nos remete à eterna menina que é.

Um abraço cenográfico!

                                                                                                                                Obdulio

Participam: Lunna Guedes / Suzana Martins / Mariana Gouveia / Roseli Pedroso