28 / 07 / 2025 / Ódio (Ou Desprezo)

O ódio é um sentimento pessoal e intransferível? No meu caso, sim. Eu procuro não sentir ódio porque me sentiria intoxicado a ponto de adoecer. E nem quero exportar o meu sentimento íntimo ao próximo. Odiar me faz mal. Mas não deixo de sentir raiva. Para evitar um ciclo vicioso da raiva se transformar em ódio acabo por cultivar um sentimento que me desgastaria inutilmente, eu acabo por desenvolver um sentimento pior — o desprezo.

O desprezo é um sentimento pior porque pressupõe uma manifestação de superioridade em relação ao outro que não faz parte dos meus princípios. Além disso, sei que ninguém deve se considerar acima das forças da vida que equaliza a todos nós como seres pequenos demais para nos sentirmos superiores aos semelhantes. Ser um convicto também é algo que carrega um peso extra — o da imobilidade mental. É uma característica dos loucos.

Em contraponto, alguns considerariam que mudar de posicionamento seja uma questão de fraqueza moral. Por outro lado, a imagem que eu tenho é de estarmos sendo atacados com bolas de fogo jorrados por um vulcão em erupção e mudança de opinião é um movimento de autodefesa, evitando ser transformado em cinzas. Mas não fujo do campo de batalha. Pode parecer contraditório, mas considero uma maleabilidade racional, principalmente em tempos em que temos informações demais e, muitas, falsas, jogadas ao ar como se fossem bombas.

A batalha que mais se aproxima de soldado de uma guerra é a de me colocar contra o movimento de Ultra-Direita capitaneada a partir dos EUA pelo Agente Laranja. Assim como o veneno usado pelos EUA durante a Guerra do Vietnã,que ocorreu de 1962 a 1971um herbicida desfolhante que até hoje, segundo recentes pesquisas realizadas continuam a contaminar o solo e os habitantes do País asiáticoas suas ações, ainda que combatidas de frente, terá repercussões durante décadas.

Esse movimento encontrou dentro do Brasil aliados entusiasmados que mesmo ao prejudicar a nação não se importam em não apenas aceitarem como colaborarem com o movimento de ataque de guerra econômica ao País. O Agente Laranja, aproveitou seu posicionamento ideológico para justificar taxar em 50% todos os produtos exportados por nós ao País “amigo” por conta de uma suposta perseguição do Brasil ao seu “amante” –– como o próprio amante se coloca.

Essa tarifação supera qualquer outra impingida aos outros países e se configura como uma chantagem, como se fosse o resgate de um sequestro. O movimento que lidera, o MAGA, em suas bases carrega um grupo que mais se assemelha a componentes da Ku Klux Klan. Ou até do Neonazismo. Carregam a mesma raiz — ódio dirigido aos diferentes de suas convicções, com exponencial viés racial e um ideário religioso que avilta os mandamentos cristãos que dizem aceitar buscando, em última instância, a “purificação” do povo americano.

Querer a “América Grande” outra vez de fato idealiza deixar todos os outros países abaixo os seus pés. Isso não acontecerá. O inimigo anterior era a Rússia, agora é a China que cometeu o grandíssimo pecado de levarem o Capitalismo à sério, o transformando em política de Estado. Sua imensa população de 1,5 bilhão de pessoas tem saboreado com a paciência desenvolvida em 5.000 mil anos de existência alcançar pouco a pouco um patamar de desenvolvimento positivo como nunca na História da Humanidade.

A ideia de que se trata de um País comunista — apesar de não entenderem do que Comunismo se trata — faz com que encontre temerosos agentes de combate contra a sua ideologia. Mas a política empreendida pelo País asiático tem um método que não é usado pelos EUA — o de capacitar seu parceiro de negócios com estruturas que viabilizem as trocas comerciais como a construção de portos e vias de transporte como ferrovias e rodovias, além de fábricas locais. Talvez seja o comportamento mais próximo do que se significa, ainda que com características capitalistas, do que seja Comunismo.

O meu desprezo aos recalcitrantes de plantão, daqueles que estão à serviço do retrocesso, negociadores da pobreza para se sentirem ricos, de comerciantes do racismo e da negação de que somos iguais em direitos, aos defensores da religião como modo de desunião em vez de comunhão entre os cidadãos de um País e entre os povos do planeta.

10 / 07 / 2025 / O Rei Do Mundo E Seu Quintal Do Sul

Cena de tentativa de Golpe de Estado nos EUA em 6 de Janeiro de 2021

E eis que supostos patriotas conseguiram fazer com que o autoproclamado Rei do Mundo ameaçasse o Brasil, seu maior quintal ao sul do Continente Americano, com sanções caso o Judiciário Brasileiro continue com o julgamento do Ignominioso Miliciano e seus asseclas que, segundo o soberano cor-de-cenoura, é algo injusto, uma grande violência. O caso da invasão das sedes do Três Poderes e sua depredação foi copiada da invasão do Capitólio incentivada pelo Rei no dia da diplomação de Joe Baiden.

Então, de certa maneira, como conseguiu não ser impedido pelas leis norte-americanas que voltasse a concorrer às últimas eleições presidenciais, ele deve achar que o caso o brasileiro possa ser considerado uma espécie de mal exemplo para o mundo do que poderia ter acontecido na ocorrência criminosa de invasão e tentativa de autogolpe para continuar no poder. Nada diferente do que o grupo no poder antes de Lula tentou fazer. Não deu certo porque os comandos do Exército e da Aeronáutica não quiseram participar, excetuando o da Marinha. Com o racha no Alto Comando Militar, o plano não foi em frente.

O caso de tentativa do atual mandatário americano à época, talvez tenha sido meio improvisado, mas não deixou de ser menos violento, com alguns mortos no processo. As duas situações foram engendradas no bojo dos movimentos da extrema-direita, com orientação originada em território americano por assessores “informais”, mas bem próximos do presid… Rei do Mundo. Diante do fato de que reis tão poderosos não costumam terem as suas ordens contrariadas, o Rei cor-de-cenoura supõe que as suas diretivas não mereçam contestação.

Nunca imaginei que os EUA fosse passar por esse processo despótico e distópico, à George Orwell, durante a minha vida. Agora deseja que o Brasil deixe de julgar as ações violentas e antidemocráticas de 8 de Janeiro de 2023 e todas as ações precedentes que desaguaram na invasão da sede dos Três Poderes porque seu aliado e admirador fálico “patriota” está sendo julgado depois de passar quatro anos de seu desgoverno pregando o golpe.

Diante dos juízes do Supremo Tribunal Federal ele negou tudo o que passamos um quadriênio de terror vendo. Enfrentando uma Pandemia que relutava aceitar a gravidade, só imaginou partir para a vacinação em massa quando vislumbrou a possibilidade de faturar milhões na compra de vacinas. Durante a sua administração foi executado o desmonte do setor burocrático administrativo para poder justamente enfraquecer quaisquer mecanismos de controle aos seus desejos despóticos.

A super taxação de 50% sobre os produtos de exportação brasileiros pelo Rei é uma jogada que trará algumas consequências. A primeira que passa pela minha cabeça, além da desestruturação da economia brasileira e causar maior inflação ao seu próprio País, à princípio, é jogar o Brasil no colo da China. Os seus investimentos no País para a construção de uma super ferrovia que cruzará o Brasil do Porto de Salvador até a fronteira com o Peru foi apenas o começo, além de outros acordos comerciais.

Obviamente, não interessa aos brasileiros que fiquem dependentes da China, assim como não interessa que fiquem presos aos EUA. Como foi até hoje. O surgimento do BRICS, segundo o déspota, não o preocupa. Mas ao tentar abortar o seu crescimento revela o contrário. O tal não deseja que o Dólar perca a posição de Moeda Padrão, já que é esse sistema que financia o seu incomensurável déficit econômico.

O que é interessante é que o País que até outro dia se dizia farol da Liberdade Democrática esteja se configurado em um centro despótico, com iniciativas dignas de Ditaduras aos quais ataca com armas de última geração. Dessa maneira, qualquer atitude tomada pelo Brasil para enfrentar esse ataque à Constituição Brasileira se configura como defesa da Lei e da Ordem Institucional nacional.

Nunca quis visitar os EUA. Essa fascinação das pessoas pela terra do Tio Sam para mim foi sempre supervalorizada. Não preciso passear pelas estradas americanas para sentir o clima On The Road de Jack Kerouac. Basta lê-lo. Ou para perceber que o racismo é um uma das maiores chagas americanas. Assim como aqui. Bastou ver um homem branco pisar no pescoço de George Floyd durante meia hora ou mais até sufocá-lo para entender.

Aqui, no Brasil, homens pretos são mortos porque estão correndo para não perderem o ônibus, após saírem do trabalho. E as ações do Ignominioso Miliciano ajudou tornar explícito esse pendor de certos setores da Sociedade após 400 anos de sistema escravocrata aflorado como postura aberta em rede social como tendência sócio-política. Dada a situação, poderemos sofrer, mas não podemos deixar de nos opormos à tentativa de golpe, agora levado adiante por um sujeito de fora que se acha a última cenoura do pacote.

28 / 04 / 2025 / BEDA / Ensaio

A postagem acima eu fiz em abril de 2020. Havia percebido que o projeto do grupo que assumira o poder no País era de desmontar todos os mecanismos de controle e fiscalização de governo para dominar cabalmente todo o processo de gestão do que estavam dispostos a fazer — destruir o Brasil para poder recuperá-lo nos termos que acreditavam ser o ideal — manietado pela Extrema-Direita que estipulava essa agenda e cria que sendo um país do Terceiro Mundo, tudo seria mais fácil, principalmente dado o nosso histórico ditatorial ligado às Forças Armadas.

Sabemos que não aconteceu da maneira que preconizaram, mesmo porque algumas condições e pessoas concorreram para que os planos “dessem com os burros n’água”. Essa expressão vêm bem a calhar, já que burros não faltaram nessa história. Hoje percebemos claramente que assumir o poder no Brasil seria apenas um ensaio para o que estava por vir com a chegada do Homem-Cenoura ao poder do Estado mais poderoso do mundo. Os EUA estão numa encruzilhada porque conta com um time composto por homens bilionários que apenas conseguem ver ativos lucrativos em vez de gente sendo prejudicada. Pode parecer simplista, mas é como esses seres, aos quais chamo de ultra-brancos, atuam. A cada grupo de pessoas que sofrem catástrofes pessoais, eles chamam de efeitos colaterais dispensáveis ou até, eu diria, desejáveis para tornar o jogo mais “atraente e divertido”. São seres frios e calculistas que não se importam com aqueles que não lhes alcançam, a não ser para servi-los.

Eles acreditam em regras rígidas, tendo a opressão como meio de dominação. A religião tem um poderoso papel auxiliar nesse processo, principalmente para acalmar o desejo de progresso material e ideais divergentes, visto que isso não ajuda a manter a massa alienada. Eu pessoalmente acredito na transcendência do ser humano, mas o que acontece com as religiões conservadoras (até, reacionárias) é que existe um mecanismo de adequação aos preceitos capitalistas, nada espirituais. Os ultra-brancos pretendem avançar na destruição do arcabouço sob o qual funcionou a Economia nestas últimas décadas, o que só favoreceu à China que soube jogar o jogo de forma exemplar, desenvolvendo um sistema de Capitalismo de Estado eficiente e atuante, com resultados muito acima do que se poderia esperar.

Os EUA perderam o bonde da História em seu próprio campo de atuação, no qual cria que fosse invencível. Agora, em seu comando temos um homem tão despreparado quando foi o nosso para obter os resultados que supunha alcançar através de suas ações e omissões. Mas como o mundo dá voltas e tudo pode mudar. Quem está à frente da empreitada tem recursos absurdos e supostamente inteligência, ainda que “artificial”, para reverter o curso que tem se apresentado — falho e incoerente com o desenvolvimento equilibrado das relações internacionais — para azar das próximas gerações de seres de todas as espécies do planeta, incluindo o próprio lugar onde vivemos.

Convivendo Com Desamigos

Trabalho como locador de serviço e operador de equipamentos de som e luz, preferencialmente para bandas musicais que se apresentam ao vivo. O surgimento do Ignominioso Miliciano, uma figura dos porões que se tornou proeminente no cenário político, jogou luz sobre características formativas do brasileiro desde os tempos da Escravidão. Esse modelo de produção de riqueza empreendido pelas classes dominantes da Sociedade – que tem o racismo e a exclusão como formulação ideológica – impera até hoje. Mas na minha análise, de ordem mais geral, não entrava concepções que atravessavam zonas cinzentas dos pensamentos de muitas pessoas, que se sentiam muito à vontade em reproduzir histórias das mais estapafúrdias geradas desde um centro emissor de loucuras. Quanto mais irreais, mais bem recebidas. Qual não foi a minha surpresa em encontrar entre aqueles com os quais tenho contato – instrumentistas, cantores, atores, operadores e empresários do setor – entre os mais abnegados seguidores do novo Messias. Do Caos. Imaginava que sendo de um ramo de atividade ligado à Cultura, um dos mais atacados pela turba do Ignominioso Miliciano, encontrasse resistência a seus argumentos.  

Esse sujeito e seus asseclas propõem posturas próximas do Nazifascismo alemão que tanto mal fez à Alemanha, seus aliados e aos que foram alvos preferenciais da política de extermínio – judeus, homossexuais, ciganos e quaisquer outras raças e de posicionamentos político-ideológicos – que não tivessem respaldo no manifesto “Minha Luta”, de Adolf Hitler, baseado na ascensão na raça ariana como superior. Como numa “salada russa” temática, um tal de Steve Bannon, ex-assessor do ex-presidente americano, Donald Trump e de Olavo de Carvalho, um mistificador-discípulo do Caos, a propuseram como política de reestruturação da Sociedade. Defendem a separação dos escolhidos – com viés religioso – dos demais que não se coadunam com o perfil ideal. São homens e mulheres que se perfilam ao lado dos mandamentos do Patriarcado, com acentuada aversão aos que consideram pessoas com desvios imperdoáveis. Entra aqui a feição hipócrita desse colegiado de pessoas com sérios problemas psicológicos. Frágeis e temerosos de tudo que contrarie um mundo supostamente perfeito e plano como a Terra que formulam. É um reacionarismo que tem raiz na Idade Média, descartando o desenvolvimento e o conhecimento adquirido nos últimos setecentos anos.

São homofóbicos, misóginos, racistas, xenófobos, que desconfiam da Ciência, do Conhecimento, da História e elegem a Cultura como filha espúria dos desvios que deterioram as práticas sociais. No Brasil, uniram-se à ancestral saudade de viúvos e viúvas do Escravismo que dizimou os originários da terra brasilis e jogou os descendentes africanos na vala de cidadãos de segunda classe, fadados a desaparecerem ou se conformarem a assumirem posições especificamente subalternas. Por isso, políticas públicas de atendimento aos desalentados ou de inclusão do maior número possível de estudantes pobres, pretos, mulheres e de outras características não-conformes (mas que constituem a maioria da população brasileira), é vista como inapropriada e foram desmontadas durante os quatro anos do (des)governo do Ignominioso Miliciano.

Em torno dessa figura indigna foi construído um arcabouço que, por mais que causasse arrepios a quem tivesse um mínimo de conhecimento histórico e não se fiasse na massa de informações distorcidas que ganhou o nome Fake News, o colocou como um capitão das causas reacionárias no imaginário de boa parte da população. De acordo com as últimas eleições, quase metade. A minha mais dolorosa constatação foi a de que componentes da nossa Sociedade justamente repudiados por esses líderes, se sentiam felizes em servir de escudeiros da ideologia macabra. Aliás, a tática inicial foi transformar a palavra “Ideologia”, em algo vinculado às demandas da Esquerda. Como ser de ultradireita não fosse um posicionamento ideológico, mas uma espécie de tábua dos dez mandamentos enviadas por Deus (acima de tudo e todos), com prescrições irredutíveis e obrigatórias.

Esses “inocentes úteis” – aqueles que facilmente iriam para o Inferno por carregarem as melhores das intenções – são perigosos porque estão cegos e surdos a qualquer palavra mais conscienciosa, alimentando com lenha o fogo da Inquisição. Um dos que com os quais conversei chegou a falar de que são acusados daquilo que os seus opositores fazem. Em seu perfil ostenta o lema “Eles estão cegos e surdos”. “Eles”, somos nós que os contestam. Certamente, ao não ver o que veem, a não ouvir o que ouvem – uma espécie de visão messiânica a um deus do mal – nos colocamos como desprovidos dos mesmos sentidos que os conduzem.

Para que não tenha dúvida quanto ao que eu considero como certo e reto, utilizo réguas que me posicionam como utópico – solidariedade, compaixão, inclusão, união, equanimidade de oportunidades, igualdade de direitos, justiça social, incorporação das diversidades de gêneros e identidades – permeado pela Democracia, o único sistema que por mais que cause conflitos, é o que garante a representação de todos os posicionamentos, incluindo os conservadores. A única exclusão que faço é aos intolerantes. Se aceitarmos que continuem a professar a sua plataforma de ódio e opressão, com o tempo, causam cizânia, violência e a destruição da Democracia.

Quanto ao Utopismo, não há contradição entre desejar o máximo possível e alcançar o mínimo possível. Somo humanos, erramos. Na minha atividade profissional, não posso escolher com quem trabalhar. Quer dizer, numa situação especial, sabendo quem era o contratante, decidi abrir mão de atuar. Não conseguiria, sabendo o que sabia, estar voluntariamente no mesmo espaço que o sujeito, um ideólogo defensor ativo da violência como modelo de atuação. Não ponho a minha cara para bater ao confrontar meus colegas. Muitos, deixei de seguir ou bloqueei. São vários artistas do qual admiro o trabalho, mas que ao perceber que não adiantaria tentar provar a estúlcia do que defendem. Piso em ovos para não ofender quem acredita em exército chinês estacionado em quartéis no interior do País, de que a Pandemia de Covid-19 é uma imensa tramoia de entidades internacionais envolvendo políticos de esquerda, Bill Gates, Jeff Bezos, China, Coréia do Norte, para impedir o sucesso dos governos Trump, americano, e do ex-presidente do Brasil. Em tentativas de enfraquecê-los politicamente, para citar apenas dois exemplos de postulantes ao extremismo de Direita.

Não deixa de ser uma “boa” teoria de conspiração, entre tantas que surgem todos os dias, que tenta explicar o conteúdo pelo continente. Que busca colocar a terra plana como plausível, que desestrutura o que foi construído porque creem que a fundação está mal alicerçada. Essa busca pela revolução incendiária e sangrenta apenas separam mais as pessoas. A Educação como plataforma permanente de governo é uma das soluções praticáveis mais óbvias, mas demanda tempo e muitas vezes não é objeto de investimento, desconhecendo o sucesso de outros países quando a implementaram. A quem chore de saudade de um Brasil que se reinventa sempre o mesmo, como drama antigo, tão clássico quanto canhestro. Este tempo que atualmente vivemos é, de certa forma, também um lugar distante. Nele, estamos num País – injusto e desigual – que não deveria existir mais e o para o qual nunca mais devemos voltar como modelo…

Observação: diferente da Lunna Guedes, que respondeu direto para uma “seguidora” em   A Guerra de todos contra todos, sei que meus colegas de trabalho não lerão este ensaio. Duvido que leiam algo que eu escreva ou mesmo que “percam tempo” lendo uma crônica ou um livro de qualquer autor. A maioria prefere receber via pílulas “informativas” – venenosas, rápidas e digeríveis – de fontes “confiáveis” que o trazem notas “verdadeiras”. Ou, pior, ainda que saibam que não sejam, mesmo assim passam adiante, porque é naquilo que creem, mesmo sem provas. Porque é preciso usar todos os expedientes para implementarem a visão de mundo que os definem – estranho, disfuncional e mortal.

A Terceira Onda E O Efeito Dallas

Fila de vacinação em Duque de Caxias, RJ, com espera de cinco horas e consequente aglomeração (Fonte: O Globo)

Nosso país está diante da enorme possibilidade de viver uma terceira onda de casos de Covid-19, que já partirá de um nível alto de ocorrências. E não será porque queiramos imitar o que já aconteceu na Europa, mas porque parece que o nosso espírito “macunaímico” nos impede de que sejamos prevenidos ou suficientemente articulados para adotarmos estratégias de sobrevivência saudável. Essa seria uma boa desculpa. Macunaíma é um herói sem caráter, não que seja intrinsecamente mau. Ele se parece mais com uma criança recém nascida que, por estar ainda em formação, aparenta ter nenhum caráter. Dessa maneira, se exime de culpa, já que assim como um incapaz, não é responsável jurídica e civilmente por qualquer falta. “Não é minha culpa, é de outros!” é a desculpa usual da criança peralta que comete alguma traquinagem.

Quando vemos uma situação se repetir sucessivamente estabelece-se um padrão. Quando se trata de uma conjuntura importante e potencialmente letal, é nosso dever nos defendermos. Diz-se popularmente que a pessoa inteligente aprende com os próprios erros, a pessoa sábia aprende com os erros dos outros. Quando advertimos aos jovens que não ajam de tal e tal maneira porque sabemos que o resultado não será bom “meu filho, vai dar ‘ruim’!” é comum a resposta ser: “pai, mãe, aconteceu com vocês, não acontecerá comigo” ou “eu não sou vocês, deixem eu viver a minha vida!”. O fato é que quando alguém quer fazer algo, quando o desejo se faz imperativo, não há nada que impeça o bom senso, os possíveis efeitos perniciosos para si ou as consequências desastrosas para os outros simples assim.

Se falamos de crianças que podem aprender a se comportar com o tempo ou de jovens em processo de amadurecimento é uma coisa. Quando versamos sobre adultos com vontade de fazer o mal e poder de materializá-lo é outra. Antes, o atual Governo Federal Brasileiro era reconhecido apenas como incompetente nas áreas de atuação governamental básicas, mas para quem soube identificar o perigo que o bando representava muito tempo antes de ter sido colocado na posição que ocupa, tem consciência de que havia um projeto de destruição do país, em suas diversas áreas. O que me espanta é a desfaçatez com que o plano é posto em prática e o fato de ainda arregimentar apoiadores pessoas de “bem”. De uma parte, com a defesa comprada à soldo junto aos representantes do povo no parlamento. De outra, com a anuência de quem fecha os olhos para o mal e absolve de antemão, não importando o resultado, todos os atos e omissões do Ignominioso e seus asseclas. É como se pudéssemos compreender embrionariamente o que se desenvolveu na Alemanha nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial, assim como a compreensão cabal do que Hannah Arendt quis dizer com a expressão “banalização do mal”.

Que uma porcentagem de cidadãos colabore com um projeto genocida não é inédito na História mundial. Já vimos isso acontecer antes. Mas nunca imaginei, nem em meus piores pesadelos, que isso viesse a ter sucesso no Brasil. Dentro do desgoverno brasileiro há pessoas que seguem a “cartilha da destruição” criada por um louco influente entre os filhos-numerais-cardinais do Ignominioso e que estrutura todas as tomadas de decisões levadas avante durante a Pandemia Olavo de Carvalho. Parece o enredo de um filme de terror distópico se não tivéssemos protagonizando a trama como simples coadjuvantes, tendo como resultado final o cheiro putrefato de quase meio milhão de mortos.

A falta de controle na gestão da crise sanitária causada pela SARS-COV-2, as idas e vindas (propositais) quanto aos rumos a serem tomados no combate à Pandemia: a falta de medidas preventivas eficazes, como o distanciamento social e o uso de máscara, substituído pela propaganda de remédios sem efeitos corroborados por estudos científicos sérios cloroquina e ivermectina , além da falta do suporte de um auxílio emergencial razoável; a criminosa protelação do uso de testes de Covid-19 até ocorrer o término do prazo de validade; a recusa em anunciar o número de vitimados pela doença, tanto infectados quanto mortos, o que impediria seu controle eficaz; a omissão quanto a compra de vacinas antecipadamente, sem respostas aos produtores dos imunizantes; o ataque aos prefeitos e governadores que promoveram ações preventivas; a troca de ministros da saúde como se fossem jogadores de futebol machucados e a adoção da ideia estapafúrdia de “imunidade de rebanho” que viria a “dar certo” somente quando morressem milhões de brasileiros. Tudo isso se houvesse apenas um tipo do vírus causador da doença. Contudo, eis que o vírus parece ser mais “inteligente” do que homens que se auto intitulam como tais e criam variantes que são mais letais do que as anteriores. Como a brasileiríssima amazonense e a indiana, diagnosticada em tripulantes de um navio malaio que aportou esta semana no Nordeste e que já foi detectada em outros pontos do País.

Se estivéssemos em processo de vacinação em massa, com pelo menos um milhão de imunizados todos os dias, teríamos como esperar que o Brasil voltasse a ter uma vida quase normal até o final do ano, como prometeu o atual perna-de-pau no time do ministério da doença. Considerando o ritmo vacinal de hoje, terminaremos de imunizar os adultos somente em 2023. Mas o Ignominioso, num movimento que alguns interpretam como cortina de fumaça, mas que para mim é de incendiário, voltou a ofender o principal fornecedor de imunizantes do mundo, fazendo com que a China atrasasse o envio de insumos IFAs para a fabricação da Coronavac (Butantã) e da AstraZeneca (FioCruz) como uma espécie de advertência diplomática, anunciando que destinará apenas um terço do programado.

O objetivo óbvio da quadrilha no poder é o de evitar o protagonismo de um inimigo político, não importando quantas vidas sejam perdidas por causa disso. Com a interrupção dos insumos, vivemos uma espécie de apagão, um hiato na vacinação que tem como resultado o avanço das variantes em todas as regiões. O que é um desastre para o País, veio a calhar para o desenvolvimento da “política” de fazer “passar a boiada” decretos que desmantelam gradativamente projetos sociais e conquistas justas obtidas pela sociedade civil organizada além de promulgar a destruição do meio ambiente. Devemos ficar atentos quando os milicianos filhos e pai se contorcem ao ser citado o Rio de Janeiro como um dos locais em que se dá a malversação de fundos ligados ao Ministério da Saúde. A “famiglia” atua diretamente na região. E como dizem os americanos “follow the money” e poderemos encontrar o lado B da corrupção. Acabamos por conviver com dois tipos de vírus que penetram no corpo da nação e nos destroem de dentro para fora.

Porém, há algo que o Ignominioso não poderá evitar e que, com o tempo, provocará a sua ruína e a nossa redenção algo ao qual chamo de “Efeito Dallas”. Dallas foi uma série americana que durou de 1978 a 1991. Era centrada nas tramas espúrias em torno de uma grande e rica família texana os Ewings que lidava com petróleo e gado. Com o tempo, o enredo trouxe para o centro a personagem de J.R., cujos esquemas e negócios obscuros se tornaram a marca registada do seriado. Sucesso no mundo todo, os governantes albaneses, promotores de uma República fechada em si mesma, controlada com mão-de-ferro por Enver Hoxha, decidiu que a produção americana era um bom exemplo da decadência moral capitalista e permitiu que fosse exibida no país. Para além das veleidades cometidas pelas personagens em nome do deus dinheiro, o povo albanês percebeu que, apesar das diferenças socioeconômicas, mesmo os empregados tinham casas razoavelmente confortáveis, aparelhadas com eletrodomésticos e automóveis na garagem.

A defasagem entre os estilos de vida na América e na Albânia deu ao povo albanês a consciência de haver uma outra possibilidade de viver menos austera. Um triunfo inesperado do Capitalismo, apesar dos esforços em demonstrar a decadência moral do “american way of life”. Isso ajudou na mudança do regime, principalmente depois da morte de Hoxha, em 1992. No Brasil, o “Efeito Dallas” está em andamento e, paulatinamente, mostrará a discrepância entre a política negacionista do Governo Federal e a de países como os Estados Unidos, de Biden, defensor da vacinação massiva de seus cidadãos. Graças a isso, os Estados Unidos estão reabrindo a economia e voltando ao estágio anterior de convivência social. Mais do que as negações dos governistas em seus depoimentos na CPI do Senado sobre as ações e omissões do Ignominioso e sua gangue, por comparação acabará por ser demonstrada a atuação danosa ao longo desse processo angustiante para as nossas famílias, através da contaminação monstruosa da ideologia assassina ora implementada. Espero que sobrevivamos para ver surgir um amanhecer menos tenebroso em futuro próximo.