Excertos Temporais

Excerto de 2022

Após anúncios de raios e trovões, acabou por chover pesadamente. A luz do Sol ficou escondida pelo corpo da Terra que gira sobre o seu eixo, enquanto passeia pelo espaço nesta parte da Via Láctea a 100.000 km/h. Durante todo o dia a revolução atuou, a translação se perpetuou, as estações representada neste quadrante pelo Verão, nos aqueceu, No entanto, a minha lembrança se fixou na solitária nuvem, desgarrada da grande nebulosidade, tão mais alta e distante. Com o tempo, deve ter sido absorvida pelas outras nuvens, maiores e mais fortes. Não duvido que tenha se precipitado em água agora há pouco, feito lágrimas do céu. Há casos em que a solidão não é uma opção, a liberdade não existe e o fim é compulsório…

Excerto de 2017

A tarde findava em tons de azul. Debaixo da chuva leve, o homem solitário caminhava a esmo, a colher imagens da imensidão azulada… Convenientemente, o último dia de veraneio terminou sem a luz dourada do Sol… A solidão é azul…

Excerto de 2013

A chuva, ciumenta, assumiu o controle do curso do dia. No entanto, agora à tarde, ela não pôde impedir o triângulo amoroso entre a Terra, o Céu e o Sol. Silenciosamente, os três combinaram de se encontrar no leito macio do horizonte… O encontro foi breve, porém… Logo, entre raios e trovões, a chuva, furiosa, reassumiu o controle da situação. Pois é, quem está na chuva, é para se molhar!

Imagem de 2011, em excerto de 2022

Há onze anos, em Outubro de 2011, completava meio século de vida. Como legenda da imagem coloquei que estava me sentindo meio a meio. Estava cursando Educação Física e conseguia, mesmo estudando com jovens com a metade da minha idade, acompanhar as atividades práticas. Esta foto foi feita num ambiente festivo — uma festa surpresa — que reuniu parentes e amigos em um buffet próximo de casa. Nunca imaginei que o sujeito que nunca havia tido sequer uma festa de aniversário quando menino, pudesse participar de uma montada especialmente para si. Agradeço à todos que dela participaram. E, principalmente, à minha família, que pôde me proporcionar esse momento único.

#Blogvember / Os Meus Meios-Dias

O meu Meio-Dia, começou às 9h40 da manhã. Apesar do adiantado da hora, mais uma vez dormi as mesmas cinco horas de praxe, não importando que tenha, como ontem, estado em atividade o dia inteiro. Uma vez acordado, já é Meio-Dia. Sol a pino, ainda que chova. Meus Meios-Dias se repetem pelas horas que se seguem como estados d’alma.

Leio as postagens deste #blogvember e passeio por textos que me inspiram. No de ontem, Roseli Pedroso escreveu uma preciosidade em poucas linhas sobre encontros fortuitos, calados, mas definitivos. Como resposta, lembrei de um: “Foi assim que cruzei com os olhos verdes de uma moça que aguardava o ônibus no ponto. A porta traseira foi aberta para que entrasse passageiros – idos do final dos anos 70 – e eu me fixei no brilho do olhar de alguém que jamais voltei a encontrar. Escrevi versos para esse (d)encontro, guardados em algum lugar…”.

Lunna Guedes, deu por si ao Meio-Dia de ontem, quando aniversariava. Fala sobre os plúmbeos e chuvosos novembros de sua vida, incluindo o do dia de seu nascimento. Hoje, não foi diferente. Aproveitei o sol que despontava e saí para ir ao supermercado comprar ingredientes para o estrogonofe do almoço. Voltando das compras, as nuvens toldaram o Sol em dois minutos e uma pesada chuva desabou como se fosse um balde de água fria em cachorros no cio. Era Meio-Dia.

Mariana Gouveia homenageou a nossa editora aniversariante com uma linda missiva. A força do abraço que pulsa em coração lunar é expresso em “palavras que atravessam tempos e se esparramam em cadernos”. Concordo com ela que, com a Lunna, acabamos por criar uma comunidade afetiva em torno da boa escrita.

Assim como Suzana Martins lembra das belezas acidentais de novembro e nos diz que “gosta da confusão equinócia a rasgar o tempo!” – um elogio aos dias intempestivos que aprendeu a apreciar com Lunna.

Em casa, trocada a roupa molhada, começo a assistir mais um jogo da Copa do Mundo de Futebol. França e uma das suas antigas colônias africanas – Tunísia – reproduzem em campo a rivalidade derivada do saldo pesado que toda dominação de um povo pelo outro produz. Terminada a partida, o time do colonizador (carregado de jogadores oriundos de povos colonizados) perdeu o jogo. O time do colonizado ganhou, mas não levou. São os dramas operísticos a reproduzir a História do mundo em realidades simuladas.

Após a chuva, rápida e impertinente, raios solares são refletidos em janelas e paredes. A Luz incursiona por frestas, folhagens, fios elétricos, telhados e peles. Quem disse que chovera meia-hora antes? Minhas roupas molhadas juram que sim. Mas meu olhar perdoa o pequeno inconveniente diante de belos Meios-Dias desta tarde lavada que se repetirão até a chegada da Meia-Noite – o Meio-Dia final…

Participam: Roseli Pedroso / Suzana Martins / Lunna Guedes / Mariana Gouveia

BEDA / O Sol E A Água*

Se há alguém que gosta do Sol, sou eu. Quando era garoto e tentava entender o significado de divindade, olhava para o céu, como fizeram bilhões de homens antes de mim. Como eu, eles também entenderam que sem a luz solar a vida sobre a Terra não existiria. Antes que algumas civilizações impusessem a humanidade como a verdadeira representante de Deus, a estrela em torno da qual este planeta girava em torno, já era reverenciado como tal pelos simples de coração. Do alto de sua predominância, ele não deve ter se importado com as crenças que surgiram posteriormente que o colocava apenas como um coadjuvante no firmamento dos arrogantes seres humanos em suas fainas…

Porém, abro espaço para as nuvens escurecidas. Inauguro, em minha página, o gosto pelo céu fechado. Quero que o planeta Água, que o homem chama de Terra porque quer, volte a ter o fluídico elemento como o centro de sua atenção. Vivi uma época em que São Paulo ainda era a Terra da Garoa, que os mais novos sequer imaginam como era e somente chegam a confundir com uma chuva leve. A garoa era como se fora um lençol úmido que nos abraçava, aponto de umedecer as nossas roupas sem percebermos. Era como se fora o ar feito água, que respirávamos como alimento de nossa identidade.

Atualmente, vivemos apenas duas estações – a do calor abrasador de Sol em asfalto, cimento e vidro. Ou a do frio de metal cortante em nossa carne mole. Perdemos as árvores, perdemos os rios, perdemos a nossa conexão com a divindade da Natureza, nos perdemos. Talvez, com a seca chegando à cidade mais desenvolvida economicamente deste país, o que já era urgente, se torne irreversível – voltarmos um tanto para trás, no bom caminho.

Participam do BEDA: Darlene Regina / Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Lunna Gouveia / Suzana Martins

Inundação

Piscinão Guaraú

São Paulo cresceu entre córregos, riachos e rios. Alagamentos fazem parte de sua história antes da invasão dos portugueses a nomearem a esta região, feitos novos Adãos, com o nome do apóstolo mais controverso de Jesus.

Com o tempo, deixamos de ocupar os lugares mais altos e seguros e fomos nos assenhorando das áreas mais próximas das margens de rios e suas várzeas. De tempos em tempos, as águas, alheias ao fato de nos considerarmos seus donos, retoma seus antigos domínios.

Onde moro, já enfrentei muitas enchentes. Com o advento do Piscinão Guaraú, nos últimos 15 anos, o bairro deixou de sofrer com alagamentos. Mas como é uma região com topografia acidentada, com morros e vales, a preocupação se volta para os deslizamentos. Principalmente por causa de ocupações irregulares, em qualquer cantinho que se possa pendurar uma habitação.

Nesta imagem, mostro o Piscinão Guaraú, cheio como nunca vi. A água da chuva que entra pelas “bocas de lobo” (nome incrível) chega aos bueiros passam pelas tubulações até desembocar no piscinão. Até alcançar o limite, os milhões de litros d’água ficam retidos até desaguarem no Córrego Guaraú para, então, chegarem ao Rio Tietê, que despeja seu volume d’água no Rio Paraná até desembocarem no Rio da Prata, na lejana Argentina, os eflúvios pluviais e fluviais no Atlântico Sul.