O que pode unir pessoas de origens, idades e vivências diferentes na provocação de emoções similares? Uma obra como The Godfather seria uma boa resposta. O público no cinema, em silêncio reverente, comungava da mesma energia a cada cena, seja no uso da luz estuporada da província italiana de onde surgiu a Famiglia Corleone, quanto nos matizes escurecidos da América transformada em provinciana. Talvez, nas cenas da festa de casamento com o qual se inicia o filme, onde são apresentados vários dos personagens que vivem e morrem durante o seu desenvolvimento, haja uma mistura das frequências de luz e sons — a sombra, a gravidade das falas e os esgares-sorrisos da sala do poderoso chefão em contraponto ao colorido das roupas e o alto volume das risadas desbragadas dos parentes e convidados.
O filme todo é um portento de ambição cinematográfica, quase uma homenagem à ambição de poder que permeia a história da Máfia nos Estados Unidos. E Francis Ford Coppola consegue nos impactar com a sua condução em que a violência é uma personagem do filme, com linguagem e atuação autônoma e grandiloquente, tendo os outras personagens como coadjuvantes. Como a criar um clima de suavidade enganosa, a música de Nino Rota se constitui em personagem essencial, uma espécie de substrato feito campo arado e fertilizado onde cresce a planta do mal. Marlon Brando não é nada brando em seu talento intuitivo e definitivo. Al Pacino passa de calmo e arguto jovem que a tudo observa de fora como se fosse um espectador que não quer participar, até transformar seu comportamento ao ver seu pai ser ferido mortalmente.
Então, o vemos crescer cena a cena na percepção de como funciona o jogo do poder. E o joga de forma magistral, com as regras que todos conhecem — o poder sobre a vida e a morte e o uso da mentira como arma. Quando o jovem Padrinho começa a receber os cumprimentos dos demais “capi” como seu pai recebia, a porta se fecha para o amor na figura de sua mulher. Os aplausos ao acender das luzes ecoaram no silêncio de quem se comoveu, como eu, com os olhos marejados d’água.
Participam do BEDA:
Lunna Guedes / Alê Helga / Mariana Gouveia /
Cláudia Leonardi