Graças à Deus, o pessoal da Ultradireita é burro e não consegue sair da bolha em que vive. Visão de longo alcance? Apenas no sentido de obter resultados financeiros numa jogada “oficializada” por seus asseclas no Congresso. Não tem problema nenhum se algumas medidas venham a impactar o povo como um todo, incluindo os seus descendentes, como o caso do “PL da Devastação”, que causará já quase de imediato graves repercussões ao equilíbrio do Meio Ambiente. As repercussões presenciamos todos os dias.
Vários setores do Agronegócio e outros de extração mineral ou de recursos naturais como árvores de valor de mercado maior, além de empreiteiras que visam construir rodovias em pontos nevrálgicos do Ecossistema nacional, impedidas que estavam pelos impactos ambientais comemoraram, incluindo os envolvidos na liberação que defendiam a sua aprovação. Isso torna a classe política uma referência de corrupção inconteste para o cidadão comum. O mesmo que vota nesses agentes do Mal. É como se pensassem: “Como todos são corruptos, votarei no meu”.
O tal do 03 é um desses sujeitos que se embriagam pela falsa suposição da força que tem junto ao Governo do Agente Laranja. Usado como Cavalo de Tróia pelo Agente Laranja, que está mais preocupado com o Brasil no BRICS, além do Pix como forma de pagamento alternativa ao Dólar — que financia o déficit dos EUA e que prejudica os negócios das empresas americanas de crédito — percebeu que encontraria aliados ao seu movimento dentro do próprio País prejudicado.
Alegando haver uma “perseguição” ao Ignominioso Miliciano, julgado por ter tentado dar um Golpe de Estado, o usou como referência logo no início da carta aberta ao Governo brasileiro. Além de tentativa de obstrução de justiça no processo que está em curso no Supremo Tribunal Federal contra o seu pai e aliados, 03 defende as medidas tomadas pelo Grande Irmão do Norte contra o País e seus empresários e empregados, cometendo um crime de Lesa-Pátria e até de Traição, ao ir contra os interesses nacionais.
A Lei Nº 7,170 de 1993 define os crimes contra a Segurança Nacional, a Ordem Política e a Social. O Artigo 20 da referida Lei enumera diversos atos criminosos como os praticados com intuito de inconformismo político ou para obter fundos para manter organização ilícita, sendo passíveis de pena de reclusão de 3 a 10 anos.
As consequências imediatas trazidas por esse movimento tão ousado como incauto é que as chances de reeleição de Lula em 2026 (à priori) aumentaram consideravelmente, prejudicando todos os possíveis candidatos da Direita e Ultradireita que, um tanto baratinados num primeiro momento, como aquele que colocou o boné do MAGA quando o Agente Laranja foi eleito e não conseguiu desmentir-se ao não atacar o tarifaço de 50% a todos os produtos brasileiros. Incluindo os produzidos por São Paulo, Estado que elegeu o ex-militar carioca para conduzi-lo. Apenas para não contrariar o grupo de seu padrinho político.
Internamente, a Direita e Ultradireita estão numa sinuca de bico. É bem verdade que a política brasileira muda de cenário tão rápido quanto o clima em tempos de crise climática. Mas dadas as condições atuais, o venenoso Agente Laranja conseguiu fazer contra essa visão disfuncional nacional muito mais do que todas as propostas e/ou os movimentos da Esquerda durante os últimos anos.
JB teve que acordar cedo para realizar a reunião com aqueles caras que tanto desprezava, apesar (ou por isso mesmo) de ter convivido com eles por quase trinta anos no Congresso. Alçado “quase sem querer, querendo” a chefe de uma estrutura bem maior do que a quadrilha que comandava antes, tinha que negociar em situações que, se pudesse escolher, resolveria com a execução de alguns, pura, mas não tão simplesmente. Para dar exemplo e por prazer, adoraria torturá-los antes. Para aplacar um pouco o seu desconforto, imaginava que estava indo a uma de suas pescarias, como as que fazia antes, em que praticava seus pecadilhos na moita, sem a presença dos holofotes para iluminar seus passos tortos. No máximo, era multado pelos fiscais do IBAMA por pesca ou caça ilegal. Está vingando-se exemplarmente, com a ajuda RS, no esvaziamento do órgão que, mais um pouco, conseguirá extinguir.
Diferentemente, aquela seria uma pesca legal, ainda que aparentasse ser ilegítima. De qualquer maneira, como marca registrada dos últimos governos de coalisão, a negociação giraria em torno de cargos e verbas em troca do benefício da adesão. Um dia antes, a pretexto de resolver detalhes sobre a nomeação do candidato a uma cadeira no STF, JB encontrou-se em um almoço que se tornou um jantar, com DT, ex-presidente do Supremo e amigo do poder — com Lula e agora com ele. Esse encontro causou a fúria de muitos correligionários do mito que antes havia chamado a turma de becas negras de corja de impatriotas. Ele sabia que para muitos que o seguiam até aquele momento, todas as estratégias eram viáveis e que o gado aceitaria o que se jogasse por suas goelas abaixo — ração ou capim.
Agora, com RM era outra história. O gordinho com trejeitos delicados era uma raposinha. JB sabia que ele controlava as pautas que deveriam ser discutidas e votadas pelo Congresso, incluindo os pedidos dos processos de Impeachment. Com RM, ele teria que ser cauteloso. Não era um EC ainda, mas era perigoso. Quando jogasse a linha, daquelas resistentes, de pescar marlim em alto-mar, o anzol com uma isca bem gorda, sabia que deveria puxar no momento certo. Desconfiava que o peixe, esperto como uma traíra, esperaria ultrapassar o último dia de 2020 para colocar em movimento o plano de derrubá-lo. A partir de 1º de janeiro, caso sofresse o Impeachment, sabia que HM não duraria muito devido às investigações do TSE e caberia ao Congresso escolher o seu sucessor. O Centrão, amorfo e inconfiável, se tivesse uma oferta mais robusta, o abandonaria à sua própria sorte, em nome da moralidade pública, probidade administrativa ou qualquer outro pretexto. Ele mesmo já transitou pelo baixíssimo clero, à espera de sobras, modificando votos não importando o partido no poder, feito uma rêmora. Sofreria uma tempestade de acusações. Sua carreira política se pareceria ao deserto amazônico ou ao Pantanal — nova área de caatinga. O pior cenário seria ver a si e seus filhos encaminhados a Bangu 8.
Esse café da manhã seria decisivo. Se percebesse que não houvesse saída institucional, conclamaria às armas as milícias e as tropas do Exército, fidelizadas com cargos nos ministérios. Seus pensamentos foram interrompidos pelo assessor:
Atualmente, se sentindo um tubarão, no “lago” JB encontrou Gordinho já em (conversas) preliminares com o General R, chefe da Casa Civil. De si para si, dava risada todas as vezes que lembrava ter colocado um general nessa função. No “lago”, RM e o Senador MB, que o acompanhava, pareciam dois peixinhos à espera de comida. JB estava prestes a dá-la. Depois de tentar seguir a trilha indicada por OC, viu que daquela maneira não conseguiria proteger seus filhos-comparsas e aliados milicianos. Agora, fingiria se aliar aos “democratas” do Centrão e se afastar momentaneamente dos extremistas à direita da direita da direita.
A chegada de JB interrompeu a conversa de RM com o GR. RM estava ali para, oficialmente, coordenar a discussão do orçamento para 2021. Mas o real motivo era o de aparar arestas. Já havia se reunido com PG e agora pretendia levar JB no bico o induzindo a acreditar que morderia a isca lançada por aquele péssimo pescador. Sua intenção era manipulá-lo até ter condições de retirá-lo do poder. Em último caso, o deixaria o tempo suficiente que se desgastasse tanto que não conseguiria se eleger nem como deputado. JB era tão obtuso quanto ambicioso, o que o tornava o pato ideal. Precisava tomar cuidado com as investigações do AM a respeito de notícias fraudulentas, denunciações caluniosas, ameaças ao STF e a seus membros, que poderiam chegar ao JB, precipitando a sua saída antes do final do ano. A sua preocupação maior, no entanto, era com relação à investigação da rede defakenews criada para eleger a chapa JB/HM. Todos sabiam que isso tinha sido fundamental para a eleição do Bolsa. Ele não desconhecia que o achavam, de certo modo, inexperiente e sem os atributos ardilosos de EC, mestre dos mestres. Porém, com esse seu jeito de menino desajeitado, conseguiu chegar à presidência da Câmara. O céu era o limite.
— Gordinho! E com o PG, fez as pazes? — RM engoliu em seco. Tomou um suco de laranja. Ele desprezava aquele desgraçado petulante e enganador. Um jogador do mercado financeiro que agora, como ministro, estava especulando diretamente no centro do poder. Mas fazia parte do jogo se mostrarem mais próximos. Uma cartada para JB acreditar que estava dominando o jogo.
— E aí, Bolsa! Que jogada de mestre a de sábado com o DT e DA. Agora, você está entendendo como a banda toca.
— Eu sempre soube, mas sabe como é que é… Sou das armas. Meu negócio é matar. Esse negócio de negociar não é comigo. Mas vou fazer o possível para controlar a situação como vocês querem.
— Você só tem a ganhar, Bolsa!
Todos ali estavam tentando mostrar intimidade, ao mesmo tempo que mentiam. JB fingia que pescava. RM, que jogava cartas. Sendo em lago ou mesa de pôquer, aquele café da manhã prometia ser indigesto. Mas muito menos do que os cafés da manhã dos brasileiros nos últimos dois anos e dos próximos que se seguiriam até o futuro incerto. O pescador amador se sentia inquieto em ter que lidar com negociações políticas. Surgia no horizonte a possibilidade de brigar com uma perigosa baleia amestrada no futuro. Teria que evitar isso para impor seu projeto de destruição dos atuais paradigmas para a construção da nova ordem com ditames da antiquíssima ordem, que não contemplava a observância de direitos sociais e sequer preconizava contestação às elites. Seria instaurada com a ajuda do cardume dos cidadãos médios — eternos lambe-botas do Poder.