11 / 11 / 2025 / Blogvember / Atrás Do Olhar Das Meninas Sérias

o que se esconde atrás do olhar das meninas sérias?
o futuro de tantas que surgem impetuosas em seus desejos
de progredirem em um mundo que lhes são adverso
que crescem em funções e ações que lhes eram vedadas
porque são capazes são sagazes são espertas são ousadas
que percebem encontrarem inimigos entre homens velhos e jovens
os primeiros não conseguem lhe dar com o novo
os segundos ouvem histórias de tempos passadiços
em que dominavam o mundo apenas por carregarem penduricalho
entre as pernas e de si sentem pena
por que no meu tempo?
tudo seria mais fácil…
elas não querem mais gerar meus filhos como acontecia antes
meu pai me conta como era bom
o homem era disputado símbolo social de pertencimento
as meninas sérias querem ser mais do que mães
querem criarem-se a si mesmas tornaram-se melhores pessoas
fazerem o futuro prosperar em autonomia e autossuficiência
serem múltiplas femininas se quiserem
fêmeas se desejarem
companheiras de homens se lhe for conveniente
de mulheres se preferirem
poderem escolher quando e quanto entre o sim e o não
pela mente ou pelo coração…

Participação: Lunna Guedes / Mariana Gouveia

18 / 03 / 2025 / Transmutação

A metamorfose se deu, de início
pelo olhar…
O movimento dela o paralisou.
Como se fotografasse cada gesto,
aprisionou dentro de si a evolução
do casulo à borboleta —
da flor ao céu —
asas da imaginação…

Quis recuar quando suas vozes
ocuparam o mesmo ambiente —
palco de suas atuações…
Percebeu que fluíam sonoras
conversas de palavras
entrecortadas,
caladas…
As lacunas preenchidas de desejos
perfeitos em suas incompletudes.

Quebradas as barreiras —
distâncias de centímetros-quilômetros —
peles sem proteção,
mentes despertas,
liberta de atavismos
e consequências,
o imediato transformado em eterno,
se reconheceram outros,
os mesmos…

Ele,
transmutado
de Jackyll em Hyde,
de homem em lobo,
de mortal em vampiro,
de Clark em Superman
todos e ninguém,
vivia ausente de si…
Passou a respirar o vácuo
se não aspirasse o hálito da paixão…

Transformação
irremediável,
perigosa,
instável,
liberdade de viajante
encarcerado,
não trocaria o permanente desconforto
do atual caos da criação do mundo
pela antiga estabilidade da morte
em vida…




BEDA / Cadeados Invisíveis

“Nenhuma das chaves que possuía podia decifrar os segredos dos [invisíveis] cadeados”, por Flávia Côrtes, em As Estações

o que queremos nem sempre é o que queremos
muitos são desejos que queiramos que os queiramos
outros são quereres emprestados de gerações mortas
estamos vivos desejando nos libertarmos de tantas demandas
são fôrmas externas que nos modelam desde tempos imemoriais
violência contra os nossos corações imaturos
vá por esse caminho de destino conhecido ficará a salvo
me salvará de que?
se quero experimentar o caminho tortuoso da indecisão e do inesperado?
estabilidade sensaboria insensibilidade 
sem uma dor para chamar de minha?
perderá tempo oportunidades se perderão…
perdição é o que eu quero se não gosto do que espero
e o que esperam de mim…
há quem queira decifrar segredos de cadeados atados a ferrolhos pesados
quero o impossível decifrar códigos 
de  invisíveis cadeados de querências sem fim
ir pelas manhãs de cidades fantasmas
adentrar por portas sem batentes seguir por portais
para o outro lado de muitos mundos
invadir campos não explorados
e não cercados de horizontes marcados
lusco-fusco de meu olhar atravessado e profano
quando quero chegar não existe resiste
é o quanto desejo me aprofundar 
me aproximar do âmago
do nada redentor e definitivo
estarei morto e feliz a sentir que não tenho fronteira
apenas um estado de nenhuma beira…

Foto por Mayumi Maciel em Pexels.com

Participação: Lunna Guedes Mariana Gouveia / Claudia Leonardi Roseli Pedroso / Bob F.

#Blogvember / Planar

Planos e projetos que não saem do papel (Lua Souza)

Foto por Thu00e9o Peltier em Pexels.com

eu
como os urubus
plano altivo junto às nuvens
perfurando os ares
voo em grupo a coreografia da liberdade
dos úteis carniceiros
enquanto divago
faço planos e projetos que não saem do papel
propositalmente antecipo o fracasso de desejos
natimortos
exercício de mistérios que adoçam
a minha mente carregada de entulhos
concluo que não nasci para planificar
mas para descer comer restos limpar o lixão
e planar
ultrapassar os mais baixos instintos
para cada vez mais profundamente
rumar ao centro da terra
sem costume e sem regra
me abastecer de indigesta e abjeta iguaria
e voltar altaneiro para o céu
donde observo os seres enganados de si
que se acham melhor do que aves de rapina
que deveras somos…

Participam: Lunna Guedes / Roseli Pedroso / Mariana Gouveia / Suzana Martins

#Blogvember / Amantes Da Penumbra

seremos deuses de cada dobra escura… (Obdulio Nuñes Ortega)

Foto por Josh Hild em Pexels.com

dobramos as esquinas na penumbra da cidade abandonada
escorregamos por entre as fendas da solidão em desencontros
abrigados da chuva ácida nos olhamos em profusão
de raios e trovões da tempestade elétrica que nos iluminava
os lados escuros dos rostos cegos de mais ninguém
a lua quase apagada deixava um rastro de silêncio
não ouvimos as vozes que nos alertavam não se amem
não se queiram a lei proíbe por contenção de desejos
os supremos nos observam vendem vendas
para que durmamos alheios da claridade que o amor proporciona
a clareza da dor a imensidade da percepção a profundidade do querer
avançaremos sobre as muralhas escorregadias da lama que escorrem
do alto dos gabinetes dos governantes do caos
senhores das benesses vendedores das necessidades dos seres perdidos
este mundo apesar de tudo já foi melhor ou melhor achávamos isso
tudo acontecia ao derredor as dores os sofrimentos sempre no plural
insidiosos perfurantes algozes menestréis do mal anunciavam
que viúvas aportariam às praças que mães chorariam nas escadas
que as portas se fechariam aos amores que as crianças não sobreviveriam
nos apaixonarmos é uma revolução um não ao não
se mais nada restar seremos amantes deuses de cada dobra escura…

Participam: Lunna Guedes / Suzana Martins / Roseli Pedroso / Mariana Gouveia