Declaração De Voto

Há momentos em que devemos tomar uma decisão crucial. Ainda que exista dilemas a serem resolvidos, dúvidas a serem esclarecidas, posturas a serem aclaradas. Isso ocorre quando uma das posições se mostra tão absolutamente contrária ao que pensamos sobre o mundo que não há como deixar de optar pelo caminho oposto. Não será de olhos fechados ou uma dando carta branca sem discutir claramente todas as consequências das ações a serem levadas adiante que darei o meu voto. Mas sim para que retomemos o caminho da valorização da vida como patrimônio maior do País. Para que sejamos valorizadas em nossas origens e regionalidades, gêneros e identidades, dimensões e classes, direitos e deveres.

Sim, temos o dever de defender o direito de expressão, a liberdade de crença, de crer em si como pessoa humana ainda que não identificado com o gênero que nasceu, com o direito da mulher assumir o comando de seu corpo, das raças deixarem de ser estigmatizadas por terem justamente sofrido no passado o crime de prisão por gerações por causa da cor da pele. Ainda mais neste País em que a maioria de habitantes é composta por minorias sem condições de alcançar o desenvolvimento pessoal – por falta de educação, por falta de habitação, alimentação, saúde e paz.

Quando a arma de fogo se torna o símbolo de um governante, não há como acreditar nesse deus que ele diz falar em seu nome. Deus de sangue, ranger de dentes, vingativo e tendencioso. Que vê com desdém o adoecimento de dezenas de milhões e a morte de centenas de milhares de brasileiros. Banhar-se nas águas do Rio Jordão não faz de ninguém um crente. Ele representa o Mal quando defende a invasão de terras onde os mananciais de nossas próprias águas estão sendo envenenados. Quando incentiva que nossas florestas sejam derrubadas, que territórios de imensa diversidade biológica sejam arrasados, quando vê com menosprezo os povos originários e os que os defendem, sendo aniquilados. Já não bastou termos espoliados quem antes aqui vivia.

Parece que há uma sanha por extingui-los da face da Terra. Esse é um crime que não devemos permitir, por conta de vermos extinta a nossa humanidade. É primordial cuidarmos de nossa fauna, biomas e a qualidade de nosso ar. Devemos defender o aumento dos recursos em pesquisas, para tornar o Brasil líder em desenvolvimento de soluções para o mundo na área dos recursos naturais, sem devastarmos as diferentes expressões de vida nos mais de 8 milhões de quilômetros quadrados de nosso território – interior, litoral, planaltos, planícies, vales e montanhas.

Quero ver o povo feliz cantando e dançando. Quero ver a cultura popular elevada à condição de patrimônio em toda a sua riqueza e diversidade. Quero ter acesso às artes visuais, às plásticas, às tridimensionais, `musicais, às experimentais. Todas incentivadas como meios de alcançar o bem-estar da alma. Quero que o povo tenha direito ao lazer, à diversão, o direito de soltar a voz em nome do amor sem interdição de origem e destino. Por que demonizar o amor e colocar o ódio como linguagem do homem? Por que tornar a mulher um sinónimo de “fraquejada”, quando todos sabemos (mesmo aqueles que não confessam) que ela é a parte mais forte da sociedade? Que sem a mulher, a ideia de família como a conhecemos não existiria e a civilização não sobreviveria? Sem a mulher seríamos homens que reproduziríamos filhos à nossa imagem lhes dando números em vez de nomes – 01, 02, 03, 04… Psicopatas com psicopatinhas como apêndices.

No dia 1º de janeiro de 2023, quero ver Lula desfilar novamente pela Esplanada dos Ministérios no Rolls Royce devidamente desinfetado. Quero ver a pastora que desfila e registra em fotos para divulgação de uma marca de roupas em pleno féretro da Rainha Elizabeth II, sendo substituída por Janja. Quero ver a socióloga dançar livre, leve e solta como digna representante da mulher brasileira atuante e independente. Quero o velho com o coração de jovem no poder. Que velhacos já nos bastam os que estiveram e estão no comando desse desfile macabro da guerra contra a Ciência, o Conhecimento, o Saber, tendo prazer em desconsiderar os avanços que não lhes aprazem, como a urna eletrônica.

Esses sujeitos costumam se autodenominar como conservadores. São, de fato, retrógrados, que não admitem a modernidade. Mas o povo brasileiro já percebeu que a indigência política que vivemos tem que ter um ponto final. Hoje será dado apenas mais um passo. Até o final do ano, o Ignominioso Miliciano terá tempo de acionar a sua horda para tentar desequilibrar o nosso cotidiano. Fiquemos alerta – esse é o preço de mantermos a Democracia como nosso modelo de governo – a eterna vigilância.

2 de Outubro de 2022

Os Rastejantes

Seres de outros planetas, os encontramos todos os dias. Convivemos muitas vezes pacificamente com pessoas que provêm de outras esferas de percepção e atuam sob as leis de suas origens, apesar de viverem sobre continentes terráqueos. Há situações em que se torna inevitável o confronto, sendo todos nós tão diferentes uns dos outros. A partir do momento que convivemos na Terra, adotamos o comportamento humano como padrão, apesar dos tentáculos e ventosas mentais que assustam à primeira vista quem não está acostumado com os seus volteios por sobre as duas cabeças dos Rastejantes, materialistas, apesar de chamarem a si mesmos como místicos. É comum que os pensamentos primitivos que carregam desde os seus planetas interfiram na vida comum de todos nós, incluindo aqueles que buscam o convívio pacífico de todos os habitantes deste plano e no transcendente.  

Normalmente, eu procuro me afastar desses espécimes que exprimem em cada sentença o horror vibracional de sentimentos baixos e que declaram ódio aos diferentes, mesmo sabendo que precisam deles, os outros que correm na mesma raia. Curioso como se processa o pensamento de um adverso, quis entendê-lo. Quando toquei no venerável nome do senhor mitológico que governa o seu planeta, não foi surpresa que o tenha defendido como o ser mais edificante que já existiu – probo, honesto, religioso, benemérito. Apesar de estar vivendo mal, sentindo a precariedade que o fez deixar o seu planeta para viver no nosso, que lhe dá suporte mínimo de subsistência, o idolatra. Caso estivesse no mundo mitológico que o seu senhor diz existir, cairia nas tramas dos desvalidos, sem eira, nem beira, aliás, sem teto sequer, como tantos… cada vez mais.

Os Rastejantes advogam o plano de sustentação de seu líder, baseado na destilação do desamor e da conflagração – um inimigo sempre a vencer, uma ideia inclusiva sempre a combater, uma mentira sempre a prosperar. Ideologizar negativamente qualquer possibilidade de equivalência das classes sociais é garantido na inspiração da maledicência, mais aglutinadora do que bons propósitos, eficazmente tratados como se a bandeira da igualdade e a defesa de direitos fossem inescrupulosas – porque torna todos os habitantes no planeta não importa de qual estrela tenham vindo – como iguais. Isso não é tolerável para os seguidores desse ignominioso chefe de quadrilha interestelar, ladrão de consciências incautas. Infelizmente, deixamos prosperar o veneno da intolerância contumaz entre nós, sem regras. Ao contrário, as regras que ditam pressupõem a morte do adversário como solução.

Após chegar em casa vindo do trabalho, mesmo cansado, fiquei uns quinze minutos pensando como deve ser difícil para o Rastejante conviver com os diferentes da mesma casta – pois acredita nelas – e vê-las sorrir, apesar da dor; cantar, apesar da tristeza; a dançar, apesar do sofrimento de simplesmente andar. Ele acredita na iniciativa privada – já dirigiu uma casa de aliciamento de corpos para diversão – e não entende como, apesar de se sentir inferior, não seja incensado como a pessoa mais incrível que já existiu (assim como seu modelo), a sorrir para se sentir aceito. Reproduz as mensagens de esquadrões de soldados do seu governante sem pensar sobre elas, sem verificar a veracidade, sem contestar a procedência. Robótico como se não tivesse mente, vocifera palavras de ordens-cópias como se fosse uma máquina quebrada.

Apesar de minha tendência em aceitar todos em suas diferenças, percebo que não devo permitir que Ets maléficos invadam o meu planeta tão ferozmente – incendiando casas, devastando florestas, matando desfavorecidos, calando a cultura da diversidade. Ergo o meu escudo mental e tento me alhear dos Rastejantes e da ideologia quimérica de equalizar os que lhe são contrários. Agem através de milícias que auxiliam os pobres de espírito a prosperarem na intenção de tornarem o nosso mundo Terra arrasada. Que sejam combatidos para que um futuro plausível exista para todos nós, incluindo os próprios Rastejantes, porque defendo o direito de cada um pensar de sua maneira desde que não seja no propósito de fazer mal ao próximo.