14 / 02 / 2025 / Sobre Pragas*

Nesta mesma época, em 2020*, publiquei o texto abaixo, em plena vigência da Pandemia de Covid-19. Como a replicar a atual realidade, só que na parte de cima no Mapa Mundi, vemos acontecer a mesma gerência da realidade como se, por sortilégio dos deuses, um senhor tangerina de parca capacidade administrativa imprime uma visão de mundo como se brincasse de joguinhos de dominação, a narcísica criatura buscasse manipular a ordem com atitudes violentas — anexação, deportação, invasão, destruição.

“Eu sei que tem muita gente gostaria de um Corona Vírus para apimentar a nossa vida de perigo. Não precisamos. Vivemos em um País com péssimo Saneamento Básico, causador de doenças endêmicas; crescimento de mortes por Dengue e Chikungunya; a volta da Paralisia Infantil, Sarampo e da Tuberculose, por falta de vacinação, resultado de pura ignorância estimulada pelas Redes Sociais — assim como ‘adquirimos’ este desgoverno —, que cogita diminuir a assistência aos doentes de AIDS, que resultaria no aumento de casos de doenças oportunistas, principalmente daquelas que se aproveitam de pessoas que não se previnem ou estão desassistidas por políticas públicas de saúde deficientes. O portador de AIDS normalmente se cuida, toma precauções e se medica convenientemente, segundo mostra estudos recentes. O comportamento de risco geralmente se dá por parte daquele que se considera eleito pelos deuses, geralmente ‘homens’ socialmente aceitos como acima de qualquer suspeita — os piores — que transmitem doenças às esposas, alheias a vida dupla de seus companheiros. Para piorar, a base de tudo — a Educação — que desenvolve cidadãos mais conscientes e aparelhados de conhecimento para sanear a Sociedade do lixo mental e da desinformação, está sendo alvo de um processo silencioso e paulatino de desmonte. O desinvestimento nessa área se inicia desde a infância, com a retirada de verbas para creches. Como estudante de História, parece que estou vendo acontecer no cotidiano uma representação de fatos antigos, de séculos passados, que julgava ultrapassados para este novo milênio. O que surge como exercício de distopia — um dos temas preferidos pelos escritores — está sendo reeditado como obra de péssimo autor. Já estou a prever a procissão de hordas de convictos caminharem, por ordem superior, até a beira da Terra plana para saltarem para o Infinito…”.

Foto por Julissa Helmuth em Pexels.com

BEDA / O X Da Questão

Eu tinha duas contas no X, antigo Twiter, desde 2009. Eu o aderi três anos depois de sua fundação, em 2006. Por lá, divulgava os meus textos publicados no WordPress e, antes, quando comecei com os famosos 140 verbetes. Isso me ajudou a encontrar meus pares ligados à Literatura, inclusive em Portugal e Espanha. Achei que era uma ferramenta incrível, onde aprendi a domar a minha tendência à verborragia por essa ocasião, exercitando em pequenos textos as minhas ideias e temas.

Passados alguns anos, o Twiter se agigantou, ganhou cada vez mais seguidores e consequente influência em vários níveis – econômico, social, político – em diversos países. Já era uma tendência cada vez mais crescente do poder das redes sociais na vida dos cidadãos do mundo todo, a começar pelo Facebook, fundado dois anos antes – uma revolução nas relações entre as pessoas, assim como foi a bicicleta na Europa – fator de aproximação entre pessoas de condados distantes. Apenas que a escala foi estratosfericamente maior – mundial, de fato.

Porém, ao contrário da inofensiva bicicleta, os diversos aplicativos das redes sociais foram se tornando cada vez fatores de desestabilização de arranjos familiares, no menor (em termos de tamanho, ainda que importante) efeito possível, até o ideológico, que regula as relações políticas entre as organizações junto ao poder central em andamento cada vez mais célere. Borrando as fronteiras entre o aceitável e o não aceitável em termos cada vez amplos em um número cada vez maior dos países.

Portanto, contribuindo para que os parâmetros regulatórios não acompanhassem a sua crescente capacidade de influenciar um público despreparado para filtrar o que fosse informação fidedigna ou não. Tornou-se óbvio para os mais espertos que era uma excelente oportunidade para faturamento financeiro através de novas formas que transitavam na zona cinza entre o que era legal ou ilegal com golpes cada vez mais elaborados, principalmente para os não iniciados no mundo virtual. E não demoraria para que os poderosos ou aqueles que queriam chegar ao poder percebessem o potencial tremendo que uma rede de alcance sem limites que permitia a veiculação das suas plataformas políticas de viés antidemocrático.

Grupos políticos organizados dentro do Brasil buscaram suporte em organizações de atuação digital no exterior. Algo que já havia ocorrido antes no País mais poderoso do mundo, quando hackers da Rússia interferiram nas eleições norte-americanas, com campanhas veiculadas em redes virtuais. Agora, mais distante no tempo, é possível perceber que estava em curso um concerto internacional que visava implantar um poder mais aberto à atuação desse setor sem regulamentação formal até então.

A Direita, diante dessa realidade, acompanhada por um quadro em que a Esquerda permitiu que seus erros servissem de munição ao radicalismo extremista direitista, prosperou. Sabendo utilizar as novas ferramentas, acabou por assumir o poder justamente quando um vírus acabou por demonstrar a capacidade letal de sua propagação. Como não havia vontade política de combatê-lo, com a negativa da compra e o uso de vacinas, algo caro à plataforma de direitistas no exterior foi aplicado à realidade brasileira – o negacionismo científico – item da cartilha da Extrema Direita.

Um país como o Brasil, campeão na vacinação de sua população, que propiciou a erradicação de várias doenças endêmicas, voltou no tempo e viu enfermidades simples voltarem a matar indiscriminadamente. Além da Pandemia de Covi19, que ceifou a vida de mais de 700.000 pessoas, oficialmente. A propagação da campanha contra as vacinas continua repercutindo, a ponto de influenciar pais que não levam os seus filhos para que sejam vacinados contra a epidemia de Dengue em crianças ou HPV, para impedir a propagação de doenças venéreas entre os adolescentes. Ou seja, a propagação de informações enganosas, mata!

O fato novo, ou nem tanto, já o tal Senhor X já havia se encontrado pessoalmente com o Ignominioso Miliciano em território nacional, agora ataca de longe a Democracia brasileira. Foi o apito de cachorro necessário para que os seguidores do bando do enviado dos porões da Ditadura começassem a vociferar contra o Sistema Judiciário que garantiu durante a Pandemia que tivéssemos vacinação em massa. Que conseguiu colocar o Ignominioso Miliciano em seu devido lugar na História – ladrão de joias da Coroa, incentivador da destruição de mundos, simpatizante da tortura, de aniquilação de etnias, reacionário nos costumes que aviltam a dignidade humana, extrator de pústulas como se criasse jardins.

Quando surgiu o Senhor Z, criam que ele fosse perigoso pelo poder de intervenção na vida cotidiana dos cidadãos de todas as latitudes. Porém, ele não chega nem perto do projeto de poder do Senhor X. Dono de 5.000 satélites dos 7.000 em órbita em torno do planeta, ele pode, se quiser, intervir em todo o sistema de comunicação mundial. Localmente, interessado nas riquezas nacionais, como as minas de Lítio, importante para tal estratégia, se associou a um sujeito que venderia a mãe e a entregaria, como faria o antigo residente do Palácio do Alvorada. Para além de suas convicções fora de órbita, o Ignominioso Miliciano, serve muito bem aos seus propósitos.

Angariando simpatia ao estabelecer uma agenda de produção de energia limpa, acena para o retrocesso institucional num planeta que apenas a equanimidade política imposta pelo servilismo social antidemocrático, sem reações a padronização dos costumes, lhe seria útil. Como se a humanidade não tivesse uma riqueza de identidades díspares. O Senhor X, comprador de sonhos, vingativo contra os meninos que um dia o agrediram, tenta superar o seu sentimento de homem pequeno com o peso de sua mão alva e delicada, mas perigosa.

Com a minha saída do X, marco posição. Não acho que deva ser a regra de quem percebe o quanto o Senhor X é pernicioso. Se quiser, que fique e lute de dentro para fora. O X tem como o seu maior problema e vocação, a sua maior atração. Uma terra que se pretende sem lei, fabricante de ódio e desejo de lacração. Eu tinha poucos seguidores, nunca fiz questão de que fossem muitos. O aplicativo era mais uma espécie de depósito de ideias. Muitas, eu nem acredito mais. Não farei e nem sentirei falta, como sinto falta das minhas antigas ilusões. Crescer é isso? Descrer do ser humano?

Foto por Helena Jankoviu em Pexels.com

Participação: Lunna Guedes Mariana Gouveia / Claudia Leonardi Roseli Pedroso / Bob F.

Puxada De Costas*

Foto de 2015, realizada na Academia Peck & Deck

Em novembro de 2015, fazia dois anos que eu havia completado o bacharelado em Educação Física, curso iniciado tarde na idade (aos 48 anos) em termos comparativos, para aqueles que estipulam períodos certos para começarmos certos processos na vida. Fui bastante incentivado por minha companheira, que dizia que eu estava sofrendo de “síndrome de ninho vazio”, já que as meninas estavam crescidas e cuidando de suas próprias questões. Outra razão é de eventualmente vir a exercer uma profissão alternativa à prestação de serviços na área de eventos, bastante oscilante. O advento da Pandemia veio a corroborar o quanto isso é real.

À época, eu havia recém-iniciado o meu trajeto na Scenarium — Livros Artesanais, finalmente me assumindo como escritor (outra atividade “maldita”), mas mantinha minhas postagens na divulgação da atividade física pela importância e pelos benefícios que me proporcionou. Uma das outras razões para iniciar um curso sobre educação corporal foi o desenvolvimento da Diabetes, uma doença sistêmica que se não for acompanhada de perto, causa graves prejuízos à saúde humana. O estímulo muscular e consequente gastos calóricos auxiliam no equilíbrio da glicemia do diabético.

“Ainda sobre hoje na academia, há coisas que não mudam. Uma delas, é a puxada para as costas. Pode ser em aparelho novo ou velho, o importante é a correta execução, com o peso adequado para o seu estágio. Nada de acelerar o processo. Nada de ultrapassar a carga além da conta, como se fora competir com os fortões da academia. Isso desanima quem está começando e contunde quem está retomando a trajetória. Se o instrutor acha que você tem que sofrer uma paralisia muscular para alcançar algum progresso, desconfie.

A musculação, bem feita e bem dirigida, é uma das melhores atividades físicas para todas as idades, a partir dos 16 anos. Sim, começar antes disso, requer acompanhamento rigoroso, pois o corpo ainda está em desenvolvimento. Obviamente, esse assunto é polêmico, mas sugiro para aqueles que apenas querem ter um corpo saudável, sem que seja atleta de competição, que procure diversificar as várias opções esportivas. Esse procedimento amplia o repertório corporal. Busque a boa saúde, não apenas para buscar uma aparência bonita, mas para que previna o desenvolvimento de doenças físicas e psicológicas.”

*Texto, entre aspas, de 2015.

Não Consigo Falar De Amor

Eu queria falar de amor,
mas meu amor foi embora…
Depois disso,
o meu amor me deixou.
Porque o amor morre antes em nós
e nossos amores,
como flores sem água,
ressecam,
escurecem
e vemos suas pétalas deixarem  
suas hastes e nossos braços.

Nossos abraços
deixam de aquecer o corpo-solo,
as nossas mãos
não fertilizam mais carinhos,
os nossos olhos
não vislumbram mais o sol
na manhã orvalhada.

Quando isso aconteceu?
Foi da noite para o dia?
Ou fui sendo envenenado pouco a pouco,
minha alma a se desertificar
até se tornar terreno pedregoso,
ácido
e impuro?

O que sei é que quando olhei ao redor
só percebi padecimento e ignorância,
violência e ódio,
morte e desdém.
Doenças e falsas crenças,
o mal a grassar de graça —
desgraça e trapaça —
povo contra povo,
o tentacular polvo
do poder a provocar
a confundir,
a maldizer,
a mentir,
a matar…

Antes, eu conseguia proteger
o meu jardim…
Afastava
predadores e pragas,
me abrigava
de palavras negativas,
frequências de indecências
em ultrajantes vagas
dos corruptores do espírito…
Conseguia ultrapassar as nuvens escuras
de tenebrosas ameaças
e ver a luz.
Conseguia pôr a cabeça
e respirar para fora do lamaçal —
esgoto
de merdas,
merdinhas
e merdaças.

Porém a luta insana me esgotou.
Cansado,
submergi sob a influência do homem mau —
mitológico e orgulhoso representante
do Medo
e do Mal-feito.
O meu amor me deixou
e não consigo mais falar de amor —
boca que se calou
em campo de cultivo inóspito-asfaltado,
rumor de lembrança boa,
falta que magoa —
dor fantasma de membro amputado…

O garoto de coração partido…


Normalidades

Normalidades 5
João Pedro, George e Miguel

Seria falta de empatia ̶ alienação ̶ pouco valor à vida?
Ou algo pior?
Seria esquizofrenia ̶ negação operacional ̶ realidade partida?
Ou algo pior ainda?
Aproveitar a pandemia ̶ virtual genocídio ̶ eugenia?
Eliminar os velhos pensionistas ̶ Seus Juquinhas, Donas Marias?
Mortandade como projeto de governo ̶ equalização de perdas econômicas?
Nosso País a viver o drama do fascismo redivivo ̶ teorias de raças hegemônicas ̶
tiros às dezenas a metralharem jovens pobres e pretos ̶ Joões Pedros ̶
invasão de casas em comunidades, como se fora guetos?
Antes, talvez fosse uma simples operação policial boçal,
mas não ̶ faz parte de um sistema antigo ̶ racismo estrutural.
O mesmo que fez por destino-desdém a branca mão ̶
empurrar o corpo do anjo Miguel do alto até o chão…
No Norte da América, Floyd chama pela mãe ̶ última palavra a dizer…
Sem poder respirar, o homem clama por ar ̶ último desejo antes de morrer…
Talvez se sentisse um rei branco aquele que pressiona, ajoelhado,
o pescoço do homem preto subjugado…
Branca mão no bolso, olhos frios, alheio aos pedidos do entorno, conta mentalmente
o tempo que resta da energia que se esvai do gigante.
Uma morte entre tantas mortes ̶ brutalidade exposta ̶ silenciosamente
a melhor parte de nossa humanidade é atacada na nossa frente.
Devemos erradicar as doenças ̶ aquelas que nos mata em conjunto.
Bem como aquelas que nos mata por dentro, dia-a-dia, miseravelmente.
Afastar de nossa convivência aquele que diz não ser coveiro,
mas negocia armas e meios para produzir defuntos.
Devemos nos precaver das enfermidades sistêmicas ̶ combater os males da alma.
Buscar o caminho correto, andar pela claridade do saber e do discernimento.
Sabemos que a morte ̶ fato da vida ̶ é causa perdida, inevitável…
Viver com medo e precariedade, por imobilismo governamental,
sem ter como nos defender do sofrimento por descaso ativo ̶ intencional ̶
é imperdoável.