Mr. Bonjagles

Mr. Bojangles II
Bill “Bonjagles” Robinson, nascido em 25 de Maio de 1878 e falecido em 25 de Novembro de 1949 (Foto retirada do Pinterest)

Entre os grandes artistas negros que sempre admirei está Sammy Davis Jr. – ator, cantor, dançarino, apresentador. Ele, em uma sociedade de preponderante poderio branco, conseguiu se sobressair com seu talento e ultrapassar as barreiras do preconceito racial, ao ocupar um espaço importante nos veículos de comunicação. Talvez, por ser feio (pela ótica das proporções caucasianas) e baixinho, não fosse visto como ameaça sexual. Aliás, poderia se dizer que, em aparência, apenas figurasse como uma espécie de mascote no “Rat Pack” – grupo masculino formado por Frank Sinatra, Dean Martin, Peter Lawford, Joey Bishop – artistas muito ativos nos palcos entre os anos 50 e 60, com eventuais aparições femininas de Shirley MacLane, Lauren Bacall e Judy Garlland.

No entanto, o seu imenso talento atraiu a minha atenção juvenil, desde o que o vi pela primeira vez. Ao ouvi-lo cantar, não pude acreditar que aquela voz poderosa e médio-grave fosse entoada por aquele pequeno grande homem. Ao mesmo tempo, o seu olhar enviesado, vesgo, dava a ele um quê de louco. Eu me recordei de Sammy ao ver um vídeo da Shirley Temple, com a participação de Bill Bojangles – grande dançarino negro da primeira metade do século XX – que conseguia, em um espaço mínimo, o maior número de passos de dança e sapateado que seria possível um ser humano realizar. Tanto Bojangles quanto Sammy foram figuras que abriram caminho para a participação do negro no “Show Business” americano. Penetraram na Cultura de Massa com as suas portentosas qualidades. Eles traçaram o tortuoso caminho no qual, em lugar do confronto, preferiram servir ao sistema do entretenimento dos grupos majoritários, mas que impunha, pela maestria, a presença do negro na mídia.

Muitas vezes, para conquistar o espaço que lhe é devido, a estratégia de luta é sorrir, dançar, tocar, cantar, interpretar e atrair pelo engenho a realização de algo em que é aquinhoado com a capacidade de fazer da melhor forma possível. Um artista, acima de tudo, quer mostrar o seu dom, o qual desenvolveu com denodo, treino, suor e aplicação. Sente que tem algo a oferecer e contribuir de alguma forma. O que vem a ser, em muitas das vezes, uma questão de pura sobrevivência.

A canção “Mr. Bojangles”, interpretado de corpo e alma pelo imenso Mr. Davis Jr., vem a demonstrar o quanto este era um artista primoroso. Ele utiliza um exíguo espaço do palco e uma projeção de sombra para encenar a história de uma vida toda. De maneira transversa, interpreta o tema de subjugação a que muitos de nós (e, primordialmente, os negros na sociedade americana) estamos sujeitos para sobrevivermos, ao mesmo tempo que somos acusados de servir ao sistema. Bill “Bojangles” Robinson é lembrado pela contribuição artística que deu a outros expoentes, a incluir Fred Astaire, Lena Horne, os irmãos Nicholas, além de ser reconhecido por utilizar a sua popularidade para desafiar e superar numerosas fronteiras raciais. Apesar disso, foi achacado por aceitar silenciosamente o estereótipo racial da época que viveu. Apesar de ser o artista negro mais bem pago dos anos 20, 30 e 40, morreu pobre, em 1949, e seu funeral foi pago pelo amigo de longa data, Ed Sullivan.

Eu me emociono, a toda oportunidade que assisto este clipe…

Terra Nova

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Terra Nova nasceu com um dom especial. Além do apuradíssimo olfato… Ele conseguia antecipar acontecimentos que ocorreriam que o envolveriam. Ao toque da mão de um humano ou à aproximação de outro ser da sua espécie, imediatamente antevia carinhos ou maus tratos, brigas ou brincadeiras…

Assim, era comum Terra Nova ficar sempre na expectativa, a guardar certa distância dos outros seres. Com o tempo, começou a desenvolver a capacidade de prever situações antes mesmo de ser tocado ou ele mesmo “tocar” outros com os seus múltiplos sentidos.

Chegado aos dez meses de idade, Terra Nova, que estava sendo treinado para detectar explosivos em bagagens em aeroportos, acordou assustado com as antevisões que o perseguiram durante a noite toda. Nelas, via a si mesmo explodir… Porém, não só ele, mas muitas pessoas. Não as conhecia e nem os lugares em que estavam. Compreendeu que o seu raio de percepção estava a alcançar distâncias para além do que poderia chegar fisicamente um dia…

Naquele dia, Terra Nova percebeu que não conseguiria viver daquela maneira. O planeta todo lhe invadia a mente avassaladoramente… À primeira oportunidade que teve, fugiu para o mais longe que pode… Em certo momento, soube que tudo acabaria o mais rápido possível. Tanto sofrimento teria, finalmente, um fim… Um pouco antes do choque fatal da bala contra o seu corpo, sentiu uma tremenda compaixão por todos aqueles que o matavam…

http://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,apos-escapar-e-atrasar-voos-cao-e-morto-em-aeroporto-na-nova-zelandia,70001703621