Vou à padaria — prosaicos
pãezinhos recém-saídos do forno
iniciariam o meu dia na casa vazia.
Mesmo depois de acordar,
visualizar-responder às mensagens,
caminhar,
só me é dada à luz dos olhos
depois de um gole de café,
com pão e manteiga — homenagem
aos meus primeiros cinquenta
anos de vida com mamãe.
Seu rosto marcado e cabelos prateados
ainda passeiam por trás das minhas retinas
dez voltas em torno do sol depois
de cumprir a nossa sina…
No retorno aos muros de meu recolhimento,
um anónimo bêbado insone,
àquela hora da manhã
tropeça em si mesmo,
lata de cerveja à mão,
olha para todos os lados,
como se esperasse alguém chegar,
um abraço a lhe abraçar…
Seria a esposa,
um amigo,
irmão,
um filho,
ninguém?
Apenas o próximo fantasma a lhe assombrar?
Um pai sem filhos?
Um filho sem pai?
Um dia dos pais
sem paz,
sem par,
sem possibilidades-passos-pessoas
a lhe aguardar?…
Eu me projeto em sua condição.
Porém, só me embriago de sonhos.
Acordado, carrego à mão
o nada ser,
o nada a acontecer,
o nada gestar…
A não ser versos sem rima,
arrítmicos,
textos-tropeços em palavras tísicas,
quedas em si-abismo…
Mas sou pai…
num país de filhos
e pais mortos,
sem cerimônias de adeus…
Não consigo escapar ao presente
e ébrio de insensatez,
compadecido,
lanço ao desconhecido:
Bom dia, pai!
Ele sorri desdentado
e ainda que talvez tivéssemos
a mesma idade, responde:
Bom dia, filho!…
Participam do B.E.D.A.:
Lunna Guedes
Roseli Pedroso
Cláudia Leonardi
Darlene Regina
Mariana Gouveia
Adriana Aneli