BEDA / Certo & Errado*

Somos o casal errado,

a viver um amor ilegal…

Porém, no momento certo,

porque para amar

é sempre o tempo ideal…

Vivemos a paixão exata

para esta era incerta –

turbulenta,

absurda,

contumaz…

Porque estar apaixonado

é viver sem um traço de paz…

Sentimo-nos rejuvenescidos

pelo fogo que nos forja…

Queimamo-nos em nossa fuga

pontual – data marcada –

instante fugaz,

ainda que eternizado…

Entre o certo e o errado,

batemos como o pêndulo

de um relógio orgânico,

de um lado para o outro,

ao ritmo de nossos corações,

à espera da hora que expiremos

o nosso último fôlego…

*Poema de 2016

Participante do BEDA: Blog Every Day August

Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Bob F / Suzana Martins / Roseli Pedroso / Claudia Leonardi / Denise Gals

BEDA / Vila Madalena

Citei sobre “Vila Madalena”, um conto em capítulos, para uma interlocutora. Ela perguntou sobre a idade de uma das personagens, uma cantora. Respondi que seria em torno dos 40, 43 anos. Depois, percebi que errara a idade, já que deslocaria para dez anos após a linha temporal plausível – dentro das circunstâncias em que a estava colocando – bem como aos outros atores da ação.

Na verdade, essa empreitada começou de modo “errado” como costuma acontecer comigo na maioria das vezes. A personagem principal, a que descreve o desenvolvimento da história, já tinha em mente – um sujeito em torno dos 50 anos, cronista que veicula seus textos em jornais e revistas. O mote giraria em torno de algumas questões que gostaria de desenvolver. Eventualmente, descaminhos surgiram na sequência do texto que seria único. Após terminá-lo, não coloquei o queria e percebi que aquela entrada poderia ter sequências e consequências.

Acabou que passei a conjecturar escrever de modo que essas partes pareciam capítulos. Quer dizer, em determinado momento, tudo começou a “desandar”. Aos poucos, foram pousando personagens que sequer havia imaginado – Carlos, Ella, Matheus, Fábia, Célia, Dani, Marinho (que ainda não estreou) – bem como Raul (já citado), que terá a sua chance aparecer.

Esse método de escrita, em que sequer monto um quadro em que as personagens apresentam determinadas características e que eu trabalharia para colocá-las em “confronto” não é o habitual. Infelizmente, talvez porque possa ter perdido várias chances de extrair melhores histórias desses encontros e desencontros.

A depender da necessidade de trabalhar melhor o cronograma dos acontecimentos em “Vila Madalena” poderei vir a adotá-lo daqui por diante. E enquadrá-las. Ou não. Gosto da ideia, totalmente baseada em nenhuma hipótese confiável, que essas “pessoas” se apresentam a mim vindas do Limbo. E dar-lhes vida e fala é a minha precária missão.

Participam: Roseli Peixoto / Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Suzana Martins / Lucas Armelim / Alê Helga / Claudia Leonardi / Dose de Poesia

BEDA / Scenarium / Poeminha De Amor Nos Tempos Do Corona

POEMÍNIMO 2
Semântica do olhar…

A pena da Quarentena a terminar…
A moça, romântica,
daquelas de novela de TV,
depois do isolamento,
sem lamento,
procura pelo amor que crê
ser o ideal –
deleitoso, íntegro, leal…

Ainda que este pareça ser o momento errado.

Pela semântica do olhar,
imagina que com ele cruzará
pelas calçadas que caminhar.
É otimista, mas idealista –
mais que beleza, quer integridade –
descarta a quem dela se aproximar
desmascarado…

Beda Scenarium

BEDA / Scenarium / Fidelidade

Sou Adão e sou fiel…
Tenho uma natureza fidedigna,
que preza o outro.
Porém, mais que ao próximo,
tenho a tendência em satisfazer
às minhas paixões…

Vivo a contradição –
como ser fiel a mim mesmo,
ao meu desejo,
ao que considero ser o melhor
ou mais gostoso para o meu ego
e manter-me fiel a quem me é amável,
sem feri-lo?

Não há como ser feliz sem magoar…
Ou magoamos a nós ou ao amado…
Muitas vezes, aos dois…
Prefiro o gosto da maçã
à inocência que ignora
o que é certo e o errado…
Que mérito eu teria
se não pudesse escolher?

Para justificar as minhas escolhas,
culpo ao outro por elas…
Dessa maneira, satisfaço
a minha curiosidade de criança mimada
e continuo a comer uma fruta após a outra,
até conhecê-las todas
e nomeá-las…

Para não dizer que minto (mais uma falta),
digo, em pureza d’alma:
sou fiel à minha traição…

Beda Scenarium