23 / 04 / 2025 / BEDA / Dia Do Livro*

Hoje é o Dia Mundial do Livro. Se bem que modernamente possa ser acessado por equipamentos eletrônicos — como computadores, tablets, celulares e, mais especificamente, ebooks — o objeto livro, por si só, é algo simples. Primitivamente, são páginas de papel unidas umas às outras que expressam mensagens imagéticas e ideias por imagens e/ou palavras. A estas últimas as quais me filio como escritor, rendo as minhas homenagens. Principalmente neste momento que há um projeto para taxação de publicações literárias por considerá-las elitistas. E se isso acontece é porque o investimento na Educação tem declinado gradativamente. É como se fosse o paradigma do biscoito ao contrário: como a Educação é elitista, os livros — instrumentos fundamentais do ensino — também devem ser. Considerando que a leitura é um dos eficazes expedientes para o desenvolvimento do aprendizado e do conhecimento, a formulação do projeto deveria ser o oposto.

É o empobrecimento da Educação como projeto de separar os bem-educados dos que irão servi-los. No livro que tenho à mão na foto — a coletânea de setes escritores com sete textos cada, chamada Sete Pecados — há um texto meu chamado Governante Supremo, em que o referido personagem odiava a Literatura. Seu projeto secreto é o de tornar a todos equalizados a um nível menor de inteligência. Em certa passagem, está expresso: “Ao contrário do que se propagava de que uma imagem valesse por mil palavras, intimamente sabia que uma só palavra poderia equivaler a mil interpretações diferentes, se o leitor tiver capacidade de interpretação aprimorada. Como evitar que uma comunicação simples ou ordem direta não fosse corrompida por pensamentos espúrios quando se escrevesse ou lesse a palavra ‘amor’, por exemplo?”

*Texto de 2021, por ocasião do desgoverno do Ignominioso Miliciano.

11 / 02 / 2025 / Cinzas & Dor Fantasma*

*2016.
Ontem, foi Quarta-feira de Cinzas
que nome apropriado!
Quase que automaticamente,
os nossos olhos começam a devassar
a realidade
e perceber que o colorido evanescente
das fantasias apenas escondiam o concretismo do cinza…
Ou, não!
A esperança é de que seja somente a típica sensação de ressaca,
marca registrada de quem bebeu sonhos demais…

Marina Martino & Hanna (in memorian)

*2021. Qual o prazer de ser lido? Eu, como escritor, só teria prazer se ou quando fosse, de alguma maneira, compreendido. E mesmo assim, resta saber se a minha palavra permanecerá na memória de quem me leu e compreendeu o meu texto; se fez diferença de alguma forma ou tenha causado, ao menos, alguma passageira emoção — um sorriso ou uma lágrima. Eu diria que, como escritor, devo me desapegar de qualquer expectativa. O que já é um pouco de dor fantasma…

Coração & Mente*

Em 2021*, neste dia, escrevi:

“Há exatos dez anos (2011 – data da foto), fazia o 5°. Semestre do curso de Educação Física na UNIP-Marquês. Escrevia algumas crônicas postadas no Facebook, mas por respeitar muito a função, apesar de meu espírito de escritor, eu não me assumia como tal.

No Dia das Bruxas e da Poesia (em homenagem ao nascimento de Drummond) de 2011, fiz uma pequena postagem que achei pertinente. Desde então, sinto que não mudou muito o meu estado mental.

‘Gosto de pensar enquanto ando. Hoje, pensei bastante… Coisas do coração… Ainda bem que temos a cabeça para tal mister! Como já disse Pessoa, ‘se o coração pensasse, pararia’.”

Não poderia deixar passar a coincidência entre uma coisa e outra. No Brasil, hoje, é Dia do Saci-Pererê, também. O verdadeiro representante do imaginário mágico brasileiro a ser festejado nesta data, já que mistura elementos das culturas indígena e africana. Apesar do viés um tanto racista de Monteiro Lobato, o escritor ajudou a divulgar bastante a figura do garoto preto e pequeno, de uma perna só, sapeca como poucos, que chega num pé-de-vento – uma característica que demonstra o seu inconformismo e desapego aos “bons costumes”. Ser poeta, igualmente é nadar contra a corrente em tempos de mensagens rápidas e esquecíveis.

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Mania Literária

Neste novo episódio de 6 On 6 (simplesmente perdi a data do anterior), versarei sobre algo que é intrínseco à minha personalidade — ou sou um homem literário — e, como tal , ouso dizer que seja apenas mais uma personagem do escritor que sou. Comecei a escrever desde que fui alfabetizado, a partir dos 7, 8 anos de idade. Comecei a “ler” mais ou menos aos 6. Pelo que me lembro (minha memória é oscilante), lia algumas palavras e completava com o que eu adivinhava. Assim como quando “lia” gibis em que sem saber de todas as palavras, inventava as situações. O leitor precedeu o escritor e o solidifica, o completa e continua a ser talvez mais importante. Ler livros é uma arte que estimula a arte da criação de histórias. Ao lermos, interpretamos a realidade, ficcionamos nossa estrutura de forma mais rica. Neste episódio, mostrarei os livros (artesanais) que publiquei pela Scenarium Livros Artesanais.

REALidade é o meu primeiro livro pelo selo Scenarium. Trata-se de uma reunião de crônicas feitas para a edição, mas em sua maior parte, de textos recolhidos das redes sociais. Eu escrevia para a Scenarium desde 2015 para edições da Plural ou coletivos propostos por Lunna Guedes, sua editora. Apenas em 2017 lancei essa empreitada individual. Gosto muito dele e envelheceu razoavelmente bem…

RUA 2 foi o meu segundo lançamento. Foi um projeto difícil de ser produzido. O meu pai havia falecido e eu estava “seco”. Não imaginava que a sua passagem fosse causar tanta repercussão interna. Eu estava distanciado dele quando ocorreu. Nascido à forceps (como eu) reproduz a vida/morte de moradores da Periferia paulistana. A ideia da minha editora foi reuni-los todos na mesma rua. Decidi usar Rua 2 porque era o nome original da rua onde eu moro, no bairro nascido do loteamento de uma antiga fazenda. São histórias “inventadas”, ainda que baseadas em fatos e situações que vivi ou tomei conhecimento, incluindo o conto final, aparentemente fantasioso.

A imagem acima é de uma das edições da Revista Plural. Nasceu junto com a Scenarium, há 11 anos. Reúne textos de vários autores e autoras versando sobre propostas feita por Lunna Guedes. Nessa edição, especificamente, compareço com um texto que gostei de reler, relatando em forma de prosa poética a minha primeira vez de um encontro sexual.

Este coletivo propõe o horror/terror como fio condutor de suas histórias. Escolhi escrever sobre o vício de drogas ilegais. É uma trama que se passa na Cracolândia. Nesse cenário turbulento e caótico, crianças começam a desaparecer. Chama-se Os Gêmeos — separados logo após do nascimento —, um deles é vendido pelo próprio pai para estrangeiros através de um esquema internacional de tráfico humano. Mesmo vivendo realidades diferentes, o dois mantém uma conexão mental transatlântica.

Comboio foi uma incursão da Scenarium por um tipo de edição popular na França — a plaquete — livro de pequena espessura. Aqui, em resposta a um texto original de Lunna Guedes, eu trago à luz, relato uma história de abandono real. Nesse caso, de um cão branco percebido na noite de São Paulo. Com ela, faço conexões com a vivência da autora quando menina com a visão de um homem que esperou em vão a chegada de uma pessoa na estação de trem de Nervi, na Itália.

Senzala é uma novela escrita em tom polêmico, mas que não foge à realidade que conheço mais de perto ou mais distante. Versa sobre uma mulher de personalidade forte, que se apodera da vida de um garoto preto e o usa para se satisfazer como dominadora sexual. Ela não é o único a ser usado, outros homens não escapam à seu poder de sedução. O título já é bastante provocativo, mas a considerar que também é usado como nome de restaurante em São Paulo, se percebe a sua banalização sem dimensionar o horror de sua origem.

Claudia Leonardi – Mariana Gouveia
Lunna Guedes – Roseli Pedroso – Silvana Lopes

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Escrito Por Uma Dama

Eu participo da Scenarium Livros Artesanais como escritor desde 2015. Chamado por Lunna Guedes, comecei a integrar o selo com crônicas, prosas e poemas através dos lançamentos de coletâneas e de edições da Revista Plural, atualmente substituída pela série Scenarium 8, de Março a Junho, de Agosto a Novembro. A minha aparição com uma obra individual ocorreu em 2015, com REALidade, livro de crônicas. Depois escrevi Rua 2, de contos curtos; Confissões, de viés confessional, assim como Curso de Rio, Caminho do Mar, além de Senzala, um conto longo. Mas não estou aqui para falar de mim, chamado de “bendito fruto”, por Lunna por ser praticamente o único escritor de gênero masculino presente nos lançamentos do selo. Mas esta postagem gira em torno das damas, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, no dia 8 de Março.

Para não ser injusto e individualizar seis títulos específicos para mostrar aqui dentre os vários e belos lançamentos escritos por mulheres durante todos os anos do qual participo da Scenarium, decidi mostrar registros do conjunto de quase todas as obras das escritoras que encontraram guarida no selo.

Participam não por serem mulheres, apesar de ser uma ação afirmativa necessária num mercado em que os homens dominam por serem, justamente, homens. Lunna Guedes prima pela qualidade dos textos e dos temas importantes que envolvem questões humanas, independentemente de identidades de gênero diferentes.

Há títulos que me impactaram mais, autoras que atravessaram o meu entendimento como tanques, derrubando as minhas defesas, assim como escritoras como Lygia, Clarice, Cecília, Raquel, Hilda, para ficar entre as brasileiras. Dar vez e voz às mulheres é um acerto do selo. Mesmo porque percebo que a qualidade de seus textos, cada mais instigantes, me impulsionam a tentar escrever melhor.

Ano a ano, Lunna garimpa através de seus cursos e como observadora da cena literária novos nomes para comporem com as suas obras um mosaico cada vez mais diverso e rico de produtores de textos que ampliam significativamente a qualidade do quadro da Scenarium.

Uma característica importante e basilar dos lançamentos do selo é a sua confecção artesanal, com papel de qualidade, costurados à mão, um a um, visual apurado, em edições limitadas. Caso haja interesse de novos exemplares, são solicitadas edições extras, sob demanda. Isso garante que não sejam publicados livros que fiquem encalhados, como é comum acontecer com os lançamentos editoriais comuns.

Encontrar a Scenarium pelo caminho foi algo que me colocou diante de meu sonho de menino — escrever textos que fossem publicados e lidos por quem tivesse interesse. Esse movimento não me fez escritor. Como já aludi antes em outras ocasiões, assumir que a minha identidade preferencial como um escritor, demonstra a minha identificação com a arte literária, na busca de minha melhor possibilidade de ser, dentro das minhas limitações, o melhor escritor. Participar de um selo eminentemente feminino, me deixa orgulhoso.

Participam: Lunna Guedes / Roseli Pedroso / Mariana Gouveia / Silvana / Cláudia Leonardi