19 / 02 / 2025 / Peixe-Lua*

Faz um ano que cheguei à Lua
Ou foi a Lua que se achegou a mim…
O que importa foi o encontro deste cosmonauta
com aquele corpo celeste.
Mais próximo e com o tempo,
pude perceber que avaliara errado.
Como Colombo que pensou chegar a um lugar,
aportara em outro.
A Lua não era um suposto satélite,
mas uma estrela,
em torno da qual outros corpos giravam em torno.
Juntos, formavam um cenário novo para mim,
onde me identifiquei como um autóctone.
O extra lunar, então,
passou a se sentir como um peixe n’água —
um PeixeLua!

*Palavras de 2016

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Caixa De Fotos

Retirei da minha Caixa De Fotos, registros com os companheiros da espécie Canis, tão especiais que não sabemos se seríamos como somos se não fizessem parte de nossa história. O que sei é que somos melhores por eles e com eles.

2024

Bethânia é daquelas que quando está dentro, quer sair. E quando está fora, quer entrar. Atenta a tudo ao seu redor, orelhas levantadas para captar sons para nós inaudíveis; olhos em direção ao objeto de interesse, ela gosta de latir para o mundo, por puro gosto e direito de expressão.

2023

Lolla Maria é tão pequena quanto possessiva, ela inteira. Sobrevivente de percalços que apenas supomos, antes de seu encontro com a Família Ortega, quando a sua mãe tem que se ausentar, já procura quem estiver em casa para se aproximar e alcançar recompensas.

2022

Bambino, meu neto, vivia entre mulheres que não perdiam a oportunidade de acarinhá-lo a todo momento. Quando estava comigo, não queria outra coisa senão cafunés e passa mãos.

2013

Esse amor chama-se também Penélope. Enquanto esteve fisicamente presente, só despertou os melhores sentimentos em todos os seres que a rodearam. Como uma estrela, em torno de si agregava amigos-planetas. Não sei quando deixou de estar entre nós, porque nunca percebemos que nos deixou.

2012

Essa é Dominique. Ela entendia o que eu falava e tinha como principal talento responder com os olhos. Expressivos e belos, quando chegou a nós, estava sem metade dos pelos, pintava de verde, para a diversão de brutos. É outro ser especial que fez nossa existência mais rica.

Mar Vermelho*

Tarde, quase noite,

saí para pescar no mar vermelho

do céu…

Por entre retas paredes de corais

e rochedos de formas estranhas,

balançava a vegetação

ao sabor do vento acidental…

Por fim,

quando já alcançava

o seu refúgio final,

consegui capturar,

através do olhar,

a estrela do mar continental…

Poema de 2017, baseado na imagem registrada em Indaiatuba no início da Primavera.

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Só O Lar…

Só o lar do Homo sapiens neste canto da Via Láctea abriga vida no sentido que a conhecemos — como manifestação material, física. Resultado direto da existência da estrela de sexta grandeza a qual chamamos de Sol, somos seres solares. A Terra, planeta que nos abriga, está na distância correta para possa gerar vida sem que nos derretamos ou nos congelemos na maior parte de sua superfície. Os reinos, em suas diversas expressões — animal, vegetal e mineral — além dos subgrupos que se desenvolvem dentro de condições que, maravilhados, aproximamos a sua existência da Magia ou do Milagre. O agente que pode colocar tudo a perder é justamente aquele se coloca como hegemônico, dono deste corpo celeste navegante em torno do Sol — o Homem. Enquanto pudermos registrar, teremos a estrela a nos aquecer a imaginação e o olhar. Fui buscar nos meus arquivos, fotos que realizei em anos passados. Esta imagem acima, de 2017, mostra o rastro de luz refletida pela sua retirada do cenário da cidade onde vivo — São Paulo — ou, o efeito da ilusão causada pela revolução planetária em nossa visão.

Mais uma tarde que mostrou todo o esplendor do ocaso. O sol brincando de esconde-esconde com as nuvens, os raios que escapavam sobre e sob a massa de algodão celeste, o reflexo de sua luz nas coisas aqui da terra. Os antigos criam que o sol representava a face do próprio Deus na Terra e não estavam errados. Sem a sua luz, vinda na proporção certa, a vida não existiria neste planeta, além da água. Eis um dos registros que fiz deste crepúsculo de 12 de fevereiro de 2015.

Ontem, a chuva faltou ao nosso encontro diário. Ela era nossa assídua companheira desde que começou 2013 e, para arrematar a tarde seca, o Sol nos deixou com a promessa de que voltaria no dia seguinte, com toda a pompa e circunstância — anúncio que, de fato, se cumpriu. Gosto de ver a luz solar refletir-se nas fimbrias do horizonte e a iluminar as construções e a produzir desconstruções de linhas e perfis no relevo. Já postei várias fotos desses momentos do entardecer em que vejo o Sol comemorar o seu poder transformador. De início, a luz amarela ajudava a dourar as casas de alvenaria e tijolos aparentes, no morro adjacente à minha casa. Passado algum tempo, no entanto, chamou-me a atenção, quando o astro já estava quase totalmente recolhido, o azul que substituía a paleta terrosa. Conjecturei que o ângulo de inclinação de sua luz, ao refletir no céu, azulava “djavaniamente” tudo em seu entorno. Logo, o assombro tomou conta dos meus olhos e, o anil, de toda a paisagem. 

Hoje, o azul imperou durante a maior parte do dia. E o Sol, posto a nu ou desanuviado, queimou peles e pensamentos. De manhã e à tarde, no entanto, as nuvens o vestiram, deixando a temperatura menos indecente. (Ubatuba, 2021)

Dia primeiro do desafio Fotografias da Natureza. Não é um desafio vazio, mas muito bem-vindo. A cada dia, deverei postar uma foto, nomeá-lo e convidar um amigo para reproduzir uma imagem, que deverá chamar outro amigo para brincar. Eu diria que se trata de uma forma de pirâmide de bom gosto. A foto de hoje provém de Jaguariúna, na região de Campinas, onde ainda encontramos espaços abertos. Nesse dia, os raios solares se revezavam com a chuva forte para compor a imagem reproduzida através do para-brisa de um carro. (2016)

Nesta manhã, o dia clareava com o sol a se fixar no firmamento nebuloso, como um óvulo na parede uterina do céu que gestava o último dia do ano. Logo mais, depois de o dia ter crescido e se desenvolvido, envelhecerá e chegará ao termo, na última hora do ano de 2015. Eu, pessoalmente, procuro viver um dia de cada vez. Não deixo de planejar o futuro, vislumbrar as possibilidades, colher os resultados de minhas empreitadas. Porém, sinto que a minha atitude, inspirada por minha vivência pessoal, aliada à sabedoria amealhada durante milhares de anos por bilhões de seres que já habitaram este planeta, é a que melhor se adequa ao que eu penso.

Participam: Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Suzana Martins

BEDA / Pássaro

Se pintasse a sua boca
de carmim, de rosa
ou de transparência pela saliva
plantaria beijos-flores,
beijos-de-sal-e-pimenta

Deitaria a minha cabeça em seu peito
beberia do leite imaginário
feito um menino-homem que deseja
saciar sua sede de prazer

Sentiria meu corpo crepitar feito lenha
na fogueira que nos queima
de paixão no inverno
moraria entre os troncos
de suas pernas-árvores.

Colocaria a minha boca no ninho fendido
doce, aquoso de querência úmida
encetaria a minha língua
por seus descaminhos.

Voaria com o meu pássaro
de cabeça altiva para dentro
desse mundo novo
fulgor de estrela que nasce
em explosão cósmica…

Foto por funda izgi em Pexels.com

Participam do BEDA: Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Suzana Martins / Darlene Regina