14 / 07 / 2025 / Pela Janela

Pela janela observo o Passado à vista do Futuro.
Estou presente.
Mas nunca estaciono a mente no momento.
Sempre me sinto deslocado.
Quem eu imagino ser?
Aquele que passa…
Passeio pelas passarelas que atravessam vias abaixo.
Transitam monstros transcendentes
de bocas pequenas,
melhores que tantos cheios de enormes dentes.
Dementes.
Mas continuo a ver que a vida se expressa de miríades maneiras,
assim como as estrelas brilhantes,
ainda que muitas, já mortas.
É como relembrar o beijo de um amor de nossa juventude.
Que se foi…
Pela janela, a transparência é opaca…
Minha alma se sente oca.
Mas plena de vazios, carrega possibilidades de ser…
Que seja o que acontecer…

Registro fotográfico de 2018. Arquivo pessoal.


26 / 02 / 2025 / Deus*

Imagine a possibilidade de que o Universo todo tenha surgido de uma explosão a partir de um ponto infinitesimal, há incontáveis bilhões de anos “antes” a considerar “antes” e “depois” como dois momentos decorrentes desse início do tempo, se fôssemos criar uma linearidade. Sendo assim, todas as “leis” que regeriam a expansão do Universo desde então — formação de massas gasosas, elementos químicos, estrelas, planetas, asteroides, cometas, galáxias, buracos negros, as leis físicas conhecidas e as que ainda a serem descobertas, a Terra, as plantas, os homens e os outros animais, as mulheres (seres especiais), eu, você e toda a complexa história da existência humana no planeta, até a extinção dele e de toda a vida que nele caminha — teriam a mesma origem e comungaríamos da mesma “natureza energética”.

Ou seja, o Universo todo estaria conectado, mesmo que não queiramos aceitar. Se convencionarmos chamar a essa “Energia Una” de “Deus“, estaríamos errados? E se ao longo do desenvolvimento do Universo, a multiplicidade de fatores desencadeados pela força inicial tiver estimulado um processo de autoconsciência, mesmo que originalmente não houvesse tido essa característica, e que essa autoconsciência se tornasse o padrão de reconhecimento de uma espécie de “divindade de ser”, em que as supostas leis arbitrárias que aparentam a violência dos elementos demonstrasse apenas que existe um processo infinito de criação, conservação e destruição, em um ciclo eterno de desenvolvimento que muitos poderiam chamar de evolução? Isso é possível?

Eu acredito que sim, porque creio que se um deus existe, Ele/Ela é o/a deus(a) do possível e se permitiu que eu possa imaginar isso e/ou qualquer outra coisa, Se “apraz” que assim seja. Portanto, até duvidar de sua existência, eu posso. Livre do peso de precisar aceitá-lo(a) como imposição, consigo ter um relacionamento mais aberto com a divindade da vida. De resto, o que eu tenho visto, ao longo da História, é o Homem a criar deuses à sua semelhança e a matar em nome deles…

*Texto que compõe REALidade, livro de crônicas lançado em 2017, pela Scenarium Livros Artesanais

Foto por Yihan Wang em Pexels.com

Alunar

Alta madrugada, mais ou menos 3h da manhã, desliguei as luzes de casa, mas estranhamente, os móveis permaneceram iluminados por uma cintilação tênue que entrava pelas janelas. Curioso, abri uma delas e vi a Lua projetando o seu brilho prateado sobre tudo. Não resisti e saí para vê-la. Como o céu estava limpo, as estrelas também podiam ser vistas a queimar quietamente no firmamento. As Três Marias permaneciam perfeitamente perfiladas uma ao lado da outra, como por todo o sempre.

Lembrei de minha infância, em que tendo me mudado para a Periferia, tive a oportunidade de começar a apreciá-las de “perto”. Pensei que, nesta vida de momentos fugazes, na quantidade de vezes que deixamos de voltar os nossos olhos para o Eterno. Tentei registrar àquele instante. Como se pode ver, não foi da maneira que queria. Mas talvez a imagem obtida venha a calhar, por sua aparência onírica. Afinal, tudo não passa, mesmo, de um sonho…

Louca De Amor

A louca de amor
explode em fogo e paixão…
A sua alma fulgura
sob a pálida pele,
em retesar de músculos,
em irradiação do plexo,
em espalmar de membros e terminações…

Dos seus braços saem estradas 
para a perdição, 
apontadas por seus dedos anelados 
por bijuterias baratas…
Dos seus cabelos caem estrasses
da última apresentação…
De sua boca e língua 
recebo beijos em mim,
em partes de mim, 
para além de mim,
em meu ânima…

Enquanto o seu peito arfa,
de seus olhos borrados de rímel
irrompe o sol
a iluminar o quarto escuro…
Por suas pernas desço 
até às estrelas, 
de onde subo rumo a um caminho 
sem volta,
enquanto o planeta revoluciona…

Foto por G1 / Globo

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Crepuscular

Algo de muito perturbador existe em mim
Que prefere um céu nublado a azulado
As nuvens me trazem a ilusão de festim
Enquanto limpo, parece de tempo fechado…

Lateralmente, escanteia-se a luz
Canto o entardecer que me seduz
Enquanto canto, o azul se desmancha
Alcançando a mim a negra mancha…

Enquanto o sol outonal deita o seu brilho
Sobre a ampla cama nebulosa da tarde
O dia, calmo, percorre o mesmo trilho
Daqueles que foram embora, sem alarde…

Certa vez, ainda garoto, escrevi:
“Ao longe
As estrelas brilham
Por perto
As pessoas queimam”…
Hoje, eu beijo as estrelas…
Eu as possuo, em colchões de nuvens!

Na boca da noite, o tardio óvulo solar
Aquece e faz multiplicar a vida celular
Reativa as nossas cíclicas energias vitais
E fecunda o útero plúmbeo dos mortais…

Sonho em dia claro morrer
Sob a luz do Sol esvanecer
Uma noite depois de namorar
A Lua, as Estrelas e o Mar…

Participam do Projeto Fotográfico 6 On 6: 
 Mariana Gouveia / 
Isabelle Brum / Roseli Pedroso / Lunna Guedes / Darlene Regina