15 / 08 / 2025 / BEDA / 2020

Em 2020, vivíamos a Pandemia de Covid-19. Uma das precauções necessárias para que o vírus dessa síndrome gripal não se multiplicasse era o isolamento social. O meu trabalho, que envolve aglomerações populares, que é o de eventos, foi o que mais sofreu, tendo as suas atividades obstadas. O que eu concordei. Principalmente porque sabia que era uma providência necessária para impedir que a doença prosperasse.

No Rio, o prefeito da época em que postei a frase acima era o Sr. Marcelo Crivella, do Republicanos. Pastor evangélico, alinhado com as ideias do então presidente, que prefiro chamar de Ignominioso Miliciano, que via no distanciamento social algo que prejudicaria a Economia, criou uma medida para que as pessoas poderiam frequentar a praia, mas quadrados demarcados. Obviamente, os efeitos econômicos ocorreriam, mas evitaria a morte que passou a acontecer em número absurdo proporcionalmente à população brasileira. Oficialmente, 700.000 pessoas perderam a vida.

Várias que eu conhecia — do setor de eventos — que continuaram a trabalhar quase que clandestinamente, sucumbiram à doença, não sem sofrerem muito antes do óbito. O Sr. Crivela não se reelegeu, assim como o seu mentor político, que, aliás, está sendo julgado por tentativa de Golpe de Estado. Mas o crime maior certamente está relacionado a esse período em que tentou obstar de todas as maneiras a vacinação da população. Quando percebeu que fosse inevitável o uso da vacina, tentou obter lucro com a desgraça através de compras sem nenhum tipo de garantia de qualidade e nem de entrega. Um golpe de bilhões de dólares que foi impedida pela vigilância dos setores responsáveis como a ANVISA.

Enfim, ainda chegará o momento, eu espero, em que o Ignominioso Miliciano pagará também por esse crime que ceifou a vida centenas de milhar de cidadãos, além de trazer o luto para a família dos sobreviventes.

22 / 02 / 2025 / Cinéfilo*

Em *2017 publiquei:

“Gosto muito desta camiseta, dada a mim por uma das minhas filhas. Aliás, os seus nomes foram inspiradas em atrizes às quais admiro muito — Romy (Schneider), Ingrid (Bergman) e Liv (Ulmann). Sou cinéfilo desde garoto e, durante algum tempo, acalentei o desejo de ser diretor de filmes. Enveredei por outros caminhos, mas percebi que se cinema é a vida em movimento, cumpro o papel de diretor do meu corpo em função do meu trabalho com eventos. Em vários lugares por quais passo, alguém sempre estará a filmar o momento que vivo…”.

Post Scriptum: Nessas voltas que o mundo dá, conheci um jovem cineasta — Wes Matta —amigo da minha filha mais nova, que decidiu adaptar textos meus para produções independentes. Outra pedido dele foi o de que eu atuasse, o que eu já fiz algumas vezes, com gosto por estar dentro daquele processo criativo.

15 / 02 / 2025 / Um Jogo*

Eu trabalho com eventos. Volta e meia atuamos fora de São Paulo. Em *2016, escrevi, acerca de um episódio na estrada, no retorno de um deles:

“Na passagem da Rodovia Anhanguera (um bandeirante, portanto, violento, para a Bandeirantes (Anhanguera e todos os outros), faz-se uma leve curva, à direita. Ao emparelhar conosco, que estávamos a frente, um grande e pesado caminhão transportador de sementes (algumas delas se chocaram contra o nosso para-brisa) imprudentemente quase nos empurra para junto da murada… Ao nos aproximarmos, pudemos ler na sua traseira: “O jogo está apenas começando”. Quem encara a estrada da vida como um torneio, só tem a perder! E, enquanto joga, esse tipo vai acumulando vítimas (para quem joga, perdedores) pelo caminho. Perdemos todos nós…”.

#Blogvember / Amanhecer

E meu movimento primeiro é passear pelas ideias matinais (Flávia Côrtes

Voltando do trabalho, com o dia a amanhecer, no centro de São Paulo – uma das faces da Praça da Sé (2011)

Quando estou amanhecendo não estou necessariamente acordando. Muitas vezes, estou indo dormir, nessa lida de horários trocados que é trabalhar para a festejar a vida. Durante um bom tempo, eu que quis ser professor de História, fiquei pensando se o que eu tinha como atividade profissional tinha algum valor para a sociedade. Tratava o meu trabalho com o rigor de um asceta que realmente era.

A alegria alheia não me afetava, principalmente aquela movida pelo álcool. Decerto, bêbados me causavam enjoo. Eu era diretamente remetido ao tempo em que trabalhei no bar de minha mãe. Eu não entendia por que os homens se interessavam por aquelas bebidas de odor penetrante. Apesar de ter acesso a elas, nunca cheguei a me interessar em experimentar uma pinguinha sequer.

Gostava das cores, das texturas, das transparências e dos desenhos das garrafas, mas não ousava colocar em minha boca os líquidos que, mesmo adolescendo aos meus 12 anos, sabia ser o responsável por liquefazer famílias. O mal liquefeito. Nos meus eventos – casamentos, aniversários, congraçamentos, réveillons, formaturas – os abeberados se multiplicam. As máscaras caíam no decorrer da noite, gravatas eram retiradas, saltos altos era trocados por pés no chão, o acanhamento se transformava em atrevimento – “in vino veritas”.

Não foram poucas as vezes que via o sol nascer no horizonte ao me movimentar pela cidade enquanto o meu movimento primeiro era o de passear pelas ideias matinais, concebidas no lusco fusco artificial das luzes robotizadas e eventualmente transformadas em textos. Isso, quando não escrevia diretamente no computador durante o evento, depois que a sonorização ficava afinada. Principalmente após o meu ingresso na Scenarium, tornou-se uma rotina que deu vazão à minha voz inaudível, mas enfim materializada.

BEDA / A Paulista & Eu

Quando frequento a Avenida Paulista como visitante, fico na expectativa de que me revele alguns dos segredos por trás de cada parede. Não será os mesmos segredos de antes, porque por esta artéria de São Paulo passa sempre sangue novo. Não sei se lá estive antes de 1980, quando fui funcionário do primeiro McDonald’s de São Paulo – se tornando o meu primeiro e único emprego de carteira assinada. Aquela era a segunda unidade do Mac no Brasil. A primeira, do Rio de Janeiro, logo foi suplantada em movimentação financeira pela loja da Paulista e eu, que recebera a promessa de revezamento nas várias funções dentro da loja para entender todo o processo – com eventual progressão de carreira, fiquei restrito a uma só função. Foi o preço pago pela eficiência – que consistia em fornecer os ingredientes para os setores de finalização: carregar e descascar batatas (hoje, elas já vem cortadas), entrar nos frigoríficos – New York e Chicago – para pegar pães, latas de morango e chocolate para o Milk-Shake, carnes embaladas, xaropes de refrigerantes e outros itens. Cheguei a fazer sozinho todo o fornecimento. Decidi dar adeus àquele moedor de carne. O mais estranho de tudo aquilo é que eu era vegetariano desde os 17 anos. Prestes a completar 19, não via mais nenhum propósito naquilo, nem como experiência humana.

Paulista, construída pelas mãos de milhões – foto registrada em 2015.

Voltei a trabalhar na Paulista numa função totalmente informal. Passei a vender ingressos de peças de teatro através de um programa mensal. Mantinha o meu ponto em frente ao Teatro Gazeta no qual viria trabalhar algumas vezes no futuro acompanhando a movimentação intensa de estudantes do Curso Objetivo, frequentadores do cinema, do teatro e da Fundação Cásper Líbero. Apesar de não ter horário fixo, permanecia por oito horas na barraquinha. Ao final, eu a desmontava e a colocava num canto da entrada da portaria da Fundação, com o consentimento do pessoal. Cheguei a ser entrevistado o momento violento pelo qual passávamos, início dos Anos 90, por uma repórter sobre o tema. Logo fui deixado de lado, quando respondi: “a violência começa em casa…”. Não era essa a resposta que ela queria ouvir.

Pôr-do-sol, visão ao oeste da Paulista, num agosto de 2015.

Nos últimos 35 anos, em minha atividade de locador de equipamentos de sonorização e iluminação para eventos ao vivo, passei a trabalhar em vários pontos da mais paulista das avenidas e adjacências. Num velho casarão dos Anos 10 do Século XX realizamos uma “rave”, festividades em hotéis das alamedas abaixo, cerimônias em edifícios comerciais (como o da FIESP) e residenciais, SESC, bailes em clubes, diversos shows em outros espaços e ao ar livre. Pude conhecer a Paulista em todos os suas fases e facetas. Luzes e sombras. Percorri por caminhos por dentro do solo e pela superfície, assim como milhões de seres subterrâneos. Na Paulista, olhamos para frente, para o lado, para baixo e para cima. Sempre encontraremos algo que nos moverá do Presente para o Passado que nem sei se é o meu ou da consciência coletiva dos que viveram e morreram nesta via de várias mãos, construída por milhões de mãos.

Visão para o alto e além, ao final de mais um evento na madrugada, em 2018.

Outra lembrança que me pertence diz respeito a outra empreitada que me define escrever. Nas imediações da Paulista, mais propriamente na Alameda Campinas, tive os meus primeiros contatos com aquele ser ainda a ser desvendado, uma outra sagitariana na minha vida, Lunna Guedes. Foi lá que pude privar de sua convivência, conversamos sobre projetos futuros, o planejamento na participação em lançamento de coletâneas pela Scenarium. Como La Lunna é dada a humores, em determinado momento mudamos para uma paralela da mesma Paulista onde lancei Rua 2 , mais perto do Paraíso. Mas escrever fica longe desse mítico lugar o bíblico ainda mais que conversamos bastante com a Serpente no selo.

Texto participante do BEDA: Blog Every Day August

Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Bob F / Lunna Guedes / Suzana Martins / Cláudia Leonardi / Denise Gals