17 / 07 / 2025 / O Buraco

madrugada alta

em quarto crescente

dois quartos de ano

sem lhe falar

longa noite escuridão

buraco aberto no peito

feito a lua no firmamento

bala perdida amor perdido

em sangue coagulado o fim

morro lentamente

paira em minha mente

se ela ainda pensa em mim…

12 / 06 / 2025 / Dia Dos Namorados Distantes

os namorados distantes do que vivem?
de lembranças dos encontros espaçados
no tempo?
do desejo reafirmado a cada diálogo roubado
nos intervalos das obrigações diárias?
dos descaminhos da volúpia pela presença
não materializada
como se fosse uma foto beijada
esmaecida pelas lágrimas de saudade?  
quem vê de fora não acredita na permanência
feita muito mais de ausências
do que das presenças
mas os cheiros 
as intumescências de bicos e membro
o êxtase reafirmado a cada reencontro
a resistência do desejo
os pelos eriçados a responder que sim
não se acredita no fim…
é uma ilusão?
mentes doentias como se vivessem um vício
pelo vazio
em que a distância não vence
ou afirmação do gosto do prazer
entre os namorados
distantes amantes da dor de amar
e bem quererem-se…

Foto por Yan Krukau em Pexels.com

16 / 01 / 2025 / A Nuvem

Acabou de chover pesado, após anúncios de raios e trovões. A luz do Sol foi escondida pelo corpo da Terra que gira sobre o seu eixo, enquanto passeia pelo espaço nesta parte da Via Láctea. Durante todo o dia a revolução atuou, a translação se perpetuou, as estações representada neste quadrante pelo Verão, nos aqueceu e a minha lembrança permaneceu com uma solitária nuvem, desgarrada da grande nebulosidade, tão mais alta e distante. Com o tempo, deve ter sido absorvida pelas outras nuvens, maiores e mais fortes. Não duvido que tenha se precipitado em água agora há pouco, feito lágrimas do Céu. Há casos em que a solidão não é uma opção, a liberdade não existe e o fim é compulsório…

Dançando Em Mim

Não foi sob o luar,
na praia, mata ou montanha…
Foi na depressão,
plena escuridão,
prenha de minha solidão
semivivo entre semimortos,
iguais em devoção à profundeza rasa…

Mergulhado em mim,
eu era um Não em busca de Sim,
recusado,
a repelir qualquer luz
que me ofendesse o isolamento…

Distraído, fui pego de surpresa…
Tornei-me presa,
arrebatado,
sem pressa devorado
pela rústica delicadeza
de uma quimera
em corpo pequeno e ágil…

Eu,
imenso em nulidade,
tive meu universo iluminado
por estrela em céu sem lua,
planetas e sol.
A dançar,
chegou para me negar…

Ela me apresentou o amor,
recriou meu universo.
Passou a alimentar o meu corpo — sangue
submisso aos desejos,
a me tornar dependente de sua força rubra.

Quando o mundo acabar — massa de energia
absorvida por buracos negros,
ainda serei seu palco até o fim.
Coreografia da paixão — o amor
dançando em mim…

Foto por KoolShooters em Pexels.com