29 / 03 / 2025 / Farfalla

Farfalla cumpre o destino
após tanto tempo no casulo autoimposto
não se faz de rogada Farfalla fala
nasci neste dia quero festa quero cumprimentos
não desejo votos de isentos
desejo beijos ainda que distanciados
quereres bem-intencionados  
calor humano
a suplantar o calor deste litoral
em que voo sobre as águas sob o Sol
sou amiga sorridente bailarina no jardim
absorvo o néctar de flores
enquanto me afasto das lembranças de dores
revoo aprecio a paisagem que me renova
volteio não fico no meio alcanço as fronteiras
sou da vida bela ainda que dela nada se leve
sou leve asas abertas passeio por multicores
de plantas absorvo doces fragrâncias
escrevo o meu caminho em poemas
em cantos em danças em delicadezas
um dia pousarei hoje não que não quero
descansarei ao raiar do dia de nova hora
cercada pela flora sonora de abelhas que lhes beijam
ao cintilar solar da aurora…

Foto por Joseph M. Lacy em Pexels.com

O Lenhador*

Ontem e hoje, utilizei uma serra à motor que alugamos para podar duas de nossas árvores uma goiabeira e uma mangueira. Para a primeira, até tive que subir na laje da minha irmã. Na segunda, foi mais simples, pois acessei a varanda. Detalhes à parte, afora ser uma ação trabalhosa, tanto pelo peso do motor, quanto pela resistência de alguns galhos mais grossos, a cada um que caía era um perdão que pedia.

A necessidade da poda se dá por duas motivações: para impedir que entulhassem a calha de folhas, flores e eventualmente frutas, que juntas estão junto a coberturas; a outra, para que produzam mais e melhor. A mangueira está instalada em sua posição desde antes da nossa casa. De fato, a casa foi construída de maneira que não a prejudicasse. Ainda assim, nessa situação me imaginava um sujeito armado e perigoso, infligindo o mal à vida. Não ajudou em nada essa minha impressão, ao encontrarmos pequenos frutos presos a alguns dos galhos. Em pleno inverno, parece que não apenas a floração se adiantou, mas também a frutificação.

Por dois dias, feri, cortei, arranquei, serrei… Deixei marcas à força. Realmente, devo estar em uma fase muito sensível, para me sentir assim, malfadado. De toda forma, apesar de tudo, espero ser perdoado…

*Texto de Julho de 2021

Posfácio: Infelizmente, a goiabeira, de uns 25 anos, já atacada por formigas, acabou morrendo há um ano. Podá-la também tinha a intenção de melhorar a sua produção, cada vez mais escassa. A mangueira, de uns 35 anos, continua forte e linda.

#Blogvember / Viagem Interrompida

Entre sucessivos solavancos projetam veias de anil (Rozana Gastaldi Cominal)

Foto por Aliaksandr Shyliayeu em Pexels.com

busco me encontrar em você
que está onde?
onde eu me encontro em você?
observo às formigas que se reúnem em torno
de sua saliva que despencou da boca molhada
sou como elas tentando beber de suas afluências carnais
sou como a paleta do pintor plena de cores de meu pincel a jorrar
na tela entre sucessivos solavancos que projetam veias de anil
como se pollock incontrolável fosse a aspergir sêmen colorido
em seu corpo de ente ser pessoa mulher em fuga de mim em si
momento sentimento emoção violenta que lhe abençoa a existência
de fêmea senhora de si em mim a perfurar rasgar-me feito faca cega
que me mata me renova em revolucionários movimentos de subversão
múltiplas versões de nós espelhares — tesão
teso peso uso confuso escuso difuso intruso abuso de poder vil
sem saídas apenas entradas e bandeiras morte de etnias da terra nova
dominação e danação em invasões de tabas arrasadas
não é amor é horror de querer tanto que se quer partir e partir-se
em pedaços e espaços onde você ocuparia toda a extensão
de vazios e nadas por onde descaminho
perdido em viagem interrompida
pela via láctea derramada de flores florestas
de estrelas frias e solidão…

Participam: Lunna Guedes / Roseli Pedroso / Mariana Gouveia / Suzana Martins

Versos Perdidos

Vendedor De Flores (2020)

Volto para a casa – Avenida dos Bandeirantes.
Hoje, noite de sexta, como todas as noites, antes,
um garoto a vender flores na chuva, encharcado.
Caminha entre os carros, passo largo, trânsito parado.
Investe em quem tenha algum desses sentimentos:
saudade, amor, carinho, culpa ou arrependimento…

Foto por Larbigno u2022 em Pexels.com

Eu, em foto de Outubro de 2023

Chovi (2011)

Nesta tarde, também chovi
Eu e a água lá fora percorremos
O caminho inevitável da queda
Do nosso lar etéreo até a pedra
Fria do chão do desassossego…

BEDA / Pássaro

Se pintasse a sua boca
de carmim, de rosa
ou de transparência pela saliva
plantaria beijos-flores,
beijos-de-sal-e-pimenta

Deitaria a minha cabeça em seu peito
beberia do leite imaginário
feito um menino-homem que deseja
saciar sua sede de prazer

Sentiria meu corpo crepitar feito lenha
na fogueira que nos queima
de paixão no inverno
moraria entre os troncos
de suas pernas-árvores.

Colocaria a minha boca no ninho fendido
doce, aquoso de querência úmida
encetaria a minha língua
por seus descaminhos.

Voaria com o meu pássaro
de cabeça altiva para dentro
desse mundo novo
fulgor de estrela que nasce
em explosão cósmica…

Foto por funda izgi em Pexels.com

Participam do BEDA: Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Suzana Martins / Darlene Regina