Passageiro passo
Eu e mais tantos coletivamente motorizados
Por uma pracinha de uma única árvore larga
Do tamanho do abraço de oito homens
Nela
uma placa propagandeia:
“Alianças
a moda antiga”…
Terei lido errado
Na rapidez da minha passagem?
Uma lanchonete
Uma igreja
Um posto de gasolina
Pontos comerciais à direita do meu olhar
À esquerda
Padaria
Loja de tintas
Uma oficina
Quantas funções
Serviços
Precisões
Consórcios
Empresas
Dos quais somos presas
Não bastam as necessidades básicas
Temos que adquirir novas e variadas
Outras muitas
Vender e comprar desejos de consumo
Sem eles
O que nos move?
Amar?
Atravessar pontes sem ultrapassar portais?
Nos desvestirmos de roupas
E posições sociais?
Nos apoderarmos de emoções
E sentimentos?
De sermos mais do que o corpo
Nos proporciona de prazer
E transcender o gozo?
Alcançar o prazer de ser
Sem ter?
O que somos além de animais
Racionais que praticam irracionalidades
Identidade e idade
Cor e nacionalidade?
Já buscou dentro si o universo
E o multiverso?
O que você É
Sem o nome que carrega?
A ouvir o som eterno do silêncio
Consegue se imaginar sem tamanho
Sem o apego ao ego
Indefinido e infindo?
Deixaria de ser servo
E se tornar um com Deus?
Etiqueta: gozo
BEDA / Minhas Amantes*

maria do arouche lembro pouco
cor de entardecer em dia fechado
babá gostava manipular meu saco
era muito novo ainda conectado
com vida antes de chegar ao útero
via fantasmas no corredor
andava parapeitos
namorava amiga morte
chama cama de estrelas
meu avô logo cortou nosso laço
engatei com maria da penha
cresci em liberdade peripécias
fazia tudo que queria
sem compromisso apenas gozo
não me importava mas amava
parece outra vida
deixei porque fui para longe
bárbara encontrei fiquei anos
achei nunca terminaria paixão
bater bolas contra a bunda
na parede na cama no chão
sonhava era santa
eu gritava entusiasmo feito gol
comi duas mesmo lugar
épocas diferentes não se conheceram
provaram minha torpeza
primeira nunca disse amor
segunda entreguei ao melhor amigo
altíssima alternativa cabelo a la garçon
conheci maria tenente
olhos verdes amedrontavam
nunca toquei sequer abraço
somente olhares lenço sujo de sangue
ideal ilusão perfeição eternidade
somente entregou irrealização
nunca esqueci sempre amarei
era bonito atraía sem esforço
fiquei com duas anas
a santificada bem mais tempo
servia a muitos depois que deixei
ainda trepei muitos anos muitas vezes
outra ana loura sonhadora
disse gostava de mim
sou de ninguém de alguém sequer
pertenço a mim vivo apaixonado
maria maria noiva meu amigo
usei muito a língua
toques debaixo da mesa
deus ausente como navio negreiro
biologia estudo profundo casou
la bergman foi intenso durou verões
veros versos não comunicados
alcancei seu corpo debaixo avental
desilusão me jogou fora entulho removeu
tati e amiga quis as duas
na mesma casa não lembro
tanque velho nos fundos
bebi demais vomitei desmaiei
eternas amigas
re fez história brilhou minha vida
pintura de mulher ensinou
nova posição bicicleta outra noiva
nunca a beijei 30 anos passados vi passar
não a chamei
augusta andrógina cheia
altos baixos travesti do centro
aos jardins comi da boca a bunda
noites infindas
vitória era inocente puta
jacaré cocou 7 vezes não pagou
vamos fazer neném?
paguei sempre às vezes só olhava
efigênia irmã mais rodada
velha não envelhecida
elixir da juventude atual virtual presencial
dá a todos os gostos versátil
sempre que posso como sem proteção
maria antônia antônimo passado conturbado
duas caras que se antepunham
hoje vive calmaria comi atrás
em palco plateia teatro
verediana angélica cecília amores livres
simultâneas especiais brigava com uma
encontrava com outra consolação
agitadas corcoveavam
suava para satisfazer queria ser notado
elas não se importavam tinham
quem quisessem quando queriam
estranho estrangeira maria paulista
ama sem identificar despreza sem qualificar
retilínea beleza sem cor amo desamo
volto a amar amante inconstante ferina
amável indigna perfeita anomalia
amante infiel amo fielmente a sem nome
aprendi amar foder amar trepar amar lamber
amar bater amar puxar amar chupar
amar rápido amar lento amar alento
amar beber amar comer amar orar
amar chorar amar sorrir amar gritar
amar brigar amar voltar sem voltar amar
amantes de hotéis baratos abençoados por santos
centrais laterais três corações zardoz
córregos regos monte carlo sempre haverá
são francisco finalmente total sentido
sem chance nascer outra vez
eterna paixão que se fez
sagrada porque acabou.
*Poema de 2021
Imagem de 2016 — Guanabara (1941), em plena Pauliceia Desvairada, é uma escultura de João Batista Ferri, embelezando o Centro Histórico de São Paulo, outra amante postada frente à sede da Prefeitura — Edifício Conde Francisco Matarazzo.
Participam: Danielle SV / Suzana Martins / Lucas Armelin / Mariana Gouveia / Roseli Peixoto / Lunna Guedes / Dose de Poesia / Claudia Leonardi / Alê Helga
Junhos

Junho de juras
de amor e muita lenha
para queimar…
O que aquece a alma
é o calor do corpo abraçado,
o desejo de respirar-cheirar
a pele incensada pelos pelos eriçados,
a boca molhada de essências…
Mas que se conheça os olhos…
Sexo sem história
é como teta sem coração,
clitóris sem vibração,
pênis sem pulsação,
beijo sem memória,
gozo sem emoção…
Deuses
No fulgor do instante
em que nos separamos do mundo
e entramos em outra dimensão…
No momento em que corpos se fundem,
fundam uma nova existência
e se aprofundam
no mar cósmico do gozo…
Na aceitação de que somos ingentes,
a deitarmos entre estrelas que dançam,
exclamas: “Pareces um deus!”…
Então,
me sinto teu,
me sinto tanto…
me sinto são…
Espalmo minhas mãos
contra a planta de teus pés –
beijo tua flor de lótus,
entoo preces
e te possuo…
Te sinto uma deusa…
Mais do que isso…
Te sinto maior que tudo…
Te sinto Mulher…