… e fico entre escolher escrever palavras casuais ou limpar a nebulosidade e descerrar a paisagem que já conheço de sobra prefiro manter a expectativa de que por traz da cortina úmida haja algo novo um horizonte diferente ampliado profundo em dimensão um mundo recém descoberto uma ideia de de que os objetos se dissipam que a realidade se desintegre em muitas outras realidades queremos ver a novidade de ser de estar de revelar que tudo pode ser melhor por trás das vidraças nebuladas o estranho e o estranhamento de estarmos vivos negligenciados pela estupidez humana encontrar o segredo da vida na imaginação que alcança a verdade…
Há várias maneiras de viajar. É comum eu viajar mentalmente por lugares que apenas crio em minha imaginação. Esse é um expediente que utilizei muito quando mais novo, impedido por questões típicas de quem mal tinha recursos para me transportar de um bairro a outro. Vivia na Periferia (como ainda vivo), se bem que agora em condições de ir a muitos lugares que somente teria contato por imagens. O que me impede, como acontece com tantos, é a falta de tempo. Ao mesmo tempo, em meu trabalho me locomovo para várias cidades do Estado e até fora, mas ainda próximos em distância. Neste dia 6, estivemos em Votorantim, na região de Sorocaba em que estava em um lindo recanto onde sonorizamos pela Ortega Luz & Som uma festa de casamento.
Na antiga fazenda, transformada em local de evento, encontramos uma Figueira centenária. O local todo é bonito, mas ter contato com essa Figueira foi emocionante. Testemunha de tempos em que a dor dos escravizados sustentava a alegria dos fazendeiros, toquei o seu caule e conversei mentalmente com ela. Fiquei comovido.
A Marineide foi uma irmã reencontrada através do Facebook. Costumamos dizer que fomos deixados aqui neste planeta — ela, na Bahia, eu, em São Paulo — pela Nave-Mãe de nosso planeta original. Além dela, em Brasília, onde ela reside, havia Luiz Coutinho, também “encontrado” pelo Facebook através de seus textos perspicazes e bem escritos. Um veneziano nascido em Minhas Gerais, estivemos todos juntos no chão da Capital Federal em 2016. Na imagem acima, escolhi esta foto do crepúsculo no Planalto Central, diferente das suas referências arquitetônicas. Além de mim e as duas pessoas já citadas, Tânia e Lourival, esposo da Marineide também comparecem.
Em 2012 foi realizado o 1º ENBRATE, um Cruzeiro curto entre Santos e Rio de Janeiro, ida e volta pelo Litoral com a programação tendo como pauta a realização de palestras para atualização de profissionais de enfermagem de nível médio, aliado à diversão à bordo do Costa Fortuna, proporcionado pela ABRATE. A Tânia, profissional de Enfermagem, me levou para esse evento. Foram alguns dias em que relaxei e tive contato com o poder do Mar afastado da costa, além da vastidão do horizonte tendo o Sol durante o dia e a Lua e das Estrelas durante a noite.
Essa imagem foi realizada no passeio de escuna que fizemos — Tânia e eu — no início de outubro de 2021, por ocasião da comemoração dos meus 60 anos. Presente dado por minhas filhas, foram momentos memoráveis que espero um dia renovar em que passei alguns dias em Paraty. Além do mergulho pela história da região, mergulhei nas águas do Mar que banha a cidade que veio a se tornar Patrimônio da Humanidade.
Durante alguns anos, nosso pai, Sr. Ortega, eu e meu irmão, Humberto, fizemos viagens para Posadas, capital da província de Missiones, norte da Argentina, fronteira com o Paraguay. Nesta imagem, realizada em 1985, estávamos em Foz do Iguaçu, local de registro de nascimento do meu pai. Na verdade, ele era de origem paraguaia e seu pai, Sr. Humberto, o registrou em Foz. Essa viagem também é temporal, como quase todas que aqui coloquei.
As viagens mais frequentes que realizo são para encontrar o Mar. Vou ao Litoral Sul, mais especificamente à Praia Grande — que um dia foi chamada de Cidade dos Farofeiros por ser o ponto mais visitado pelos paulistanos em ônibus de excursão. Eles lotavam as ruas com eles e há uma imagem icônica em eles invadiam parte das praias. Atualmente, Praia Grande é uma cidade com grandes empreendimentos imobiliários, escolhidos por pessoas de poder maior aquisitivo. Foi uma grande transformação ao longo dos anos. Apesar da grande mudança da rua de areia ladeada por mangues até se tornar numa apinhada de prédios residenciais, ainda é por ela que volto a ser menino, o mesmo que vivia o dia inteiro vestido apenas com o calção de banho, passando boa parte do tempo na areia, a mergulhar seguidas vezes nas ondas que sempre que adentro, me carregam para os momentos mais felizes da minha vida.
*Texto e fotos postadas um dia depois por estar, justamente, em viagem de trabalho.
Cheguei cansado e com fome, mas logo me restabeleço ao ver a dança das nuvens e do Sol no palco do horizonte. Eu me sacio com gosto dessa repetição diária, porém com infinitas possibilidades coreográficas! Quem não consegue perceber e valorizar esse espetáculo que se apresenta todos os dias em algum lugar do planeta?
Sentado no cais, todas as tardes, eu me coloco a observar a linha do horizonte… Lusco-fuscos da minha perdição…
Todos os dias, a essa hora, há essa hora em que revivo o momento da despedida… Ela se foi… sem ter a delicadeza de desaparecer em barco a vela silente…
Foi para o continente, célere como o pendular instante, em ronco de motor potente… Fiquei na ilha, ilhado… Solidão por todo o lado…
Em dias nebulosos, não há diferença entre o firmamento e o mar, entre a noite que chega e o dia que vai…
Então, me sinto melhor… Porque mergulho em um mundo de oceano sem fundo, um buraco negro, de luz abduzida…
De nosso amor, restou pores de sol, tempestuosos e brilhantes, de raios fugidios, figuras de corpos esguios… assim como o seu, que espero voltar, até anoitecer ou o Tempo acabar…