BEDA / Projeto Fotográfico 6 On 6 / The Color Of The Rain

Eu gosto da chuva como expressão, mas devido ao fato de estarmos causando o aquecimento global através de nossa ganância, o anúncio de sua chegada tem sido causa de preocupação. Principalmente para aqueles que moram em áreas instáveis, em que os mais pobres arriscam viver, sempre no limite, um olho aberto e outro fechado, os ouvidos sempre atentos ao primeiro trovão, dias, noites, madrugadas. Antes, havia meses específicos em que a chuva era mais abundante, como já foi cantada em versos. Em contrapartida, afora a inconstância dos intervalos, há período de secas que tem demonstrado que o clima adquiriu um humor imprevisível. Mas aqui eu anuncio períodos em que a chuva foi criadeira, como quem planta diria ou como o escritor aprecia.

TRABALHO (2013)

Primeiro dia de outono e não importa que parte do dia estejamos – manhã, tarde, noite ou madrugada – sempre haverá chuva, amena ou intensa, em algum ponto da cidade pelo qual qual passamos. Como tivemos problema com a nossa “kombosa”, emprestamos uma outra de amigos que conhecem como dividir as horas do dia. Neste momento, passávamos por trás de uma igreja. Em São Paulo, isso não significa estar no lugar mais calmo da cidade, mesmo porque, tratava-se da Catedral da Sé, no Centrão. Um lembrete, mesmo agora sendo noite, estamos, meu irmão, Humberto, e eu, trabalhando no lugar onde os outros se divertem…

ACADEMIA (2011)

Chuva forte, preguiça e outras coisas para fazer – tudo seria motivo para eu deixar de ir à academia neste dia indefinido, que não sabe se é útil ou feriado – até que eu recebi o devido incentivo do DJ Ari (um senhor vizinho a nós), com seu eclético repertório a todo volume. Naquele momento, acabei por receber a motivação necessária para partir para a suadeira. Obrigado, DJ Ari!

PISCINÃO (2015)

Após as chuvas da noite, no Piscinão Guarau, os urubus esperam a água baixar para celebrarem o almoço de domingo, em família.

SÃO FRANCISCO (2016)

Antes da chuva noturna, o dia de São Francisco proporcionou um entardecer em que os astros encenaram a troca de guarda. Mas não por muito tempo, já que nuvens negras e espessas assumiram a linhas do horizonte. A pontuar, o Santo foi dignamente representado pelo canto de seus companheiros, os pássaros…

CHUVA E SOL (2022)

Neste primeiro dia do ano, subi para a varanda, tentando capturar as gotas da chuva contra a luz solar. “Chuva e Sol, casamento de espanhol. Sol e Chuva, casamento de viúva!”. Quando criança, ficava a imaginar se seria o caso do espanhol ter se casado com a viúva. E viajava nas possibilidades. A Bethânia subiu comigo e se postou na mureta, tentando encontrar alguma novidade pelo entorno. Pedi para que fizesse uma pose para enviar para as outras filhas e ela não se fez de rogada. Feliz 2022 para todos os seres!

ROMANCE (2013)

A Chuva, ciumenta, assumiu o controle do curso do dia. No entanto, agora à tarde, ela não pôde impedir o triângulo amoroso entre a Terra, o Céu e o Sol. Silenciosamente, os três combinaram de se encontrar no leito macio do horizonte… O encontro foi breve, porém! Logo, soltando raios e trovões, a chuva, furiosa, reassumiu o controle da situação. Pois é, quem está na chuva, tem que se saber amar!

Participação: Lunna Guedes Mariana Gouveia / Claudia Leonardi Roseli Pedroso / Bob F. / O Miau Do Leão

#Blogvember / Oposição

O toque suave dos teus lábios adormece em minha boca (Suzana Martins)

quando já não sabemos se anoitece
ou se amanhece
quando não sabemos se temos o céu sobre
ou sob as nossas cabeças
ou quando nada disso importa
já que em algum lugar deste planeta
uma parte dos seres 
estará inevitavelmente em posição
oposta em relação à outra
mas o que eu mais queria era opormos
nossos corpos mãos a tatear nossas peles
adivinharmos no escuro nossas posições
pés sem chão no horizontal
em ponta cabeça em frenética busca do centro
do prazer abaixo do plexo de cada um
após o lusco-fusco no horizonte
de nossos sonhos acordados
enquanto o toque suave dos seus lábios
adormece em minha boca…

Participam: Mariana Gouveia / Roseli Pedroso / Suzana Martins / Lunna Guedes

#Blogvember / Amanhecer

E meu movimento primeiro é passear pelas ideias matinais (Flávia Côrtes

Voltando do trabalho, com o dia a amanhecer, no centro de São Paulo – uma das faces da Praça da Sé (2011)

Quando estou amanhecendo não estou necessariamente acordando. Muitas vezes, estou indo dormir, nessa lida de horários trocados que é trabalhar para a festejar a vida. Durante um bom tempo, eu que quis ser professor de História, fiquei pensando se o que eu tinha como atividade profissional tinha algum valor para a sociedade. Tratava o meu trabalho com o rigor de um asceta que realmente era.

A alegria alheia não me afetava, principalmente aquela movida pelo álcool. Decerto, bêbados me causavam enjoo. Eu era diretamente remetido ao tempo em que trabalhei no bar de minha mãe. Eu não entendia por que os homens se interessavam por aquelas bebidas de odor penetrante. Apesar de ter acesso a elas, nunca cheguei a me interessar em experimentar uma pinguinha sequer.

Gostava das cores, das texturas, das transparências e dos desenhos das garrafas, mas não ousava colocar em minha boca os líquidos que, mesmo adolescendo aos meus 12 anos, sabia ser o responsável por liquefazer famílias. O mal liquefeito. Nos meus eventos – casamentos, aniversários, congraçamentos, réveillons, formaturas – os abeberados se multiplicam. As máscaras caíam no decorrer da noite, gravatas eram retiradas, saltos altos era trocados por pés no chão, o acanhamento se transformava em atrevimento – “in vino veritas”.

Não foram poucas as vezes que via o sol nascer no horizonte ao me movimentar pela cidade enquanto o meu movimento primeiro era o de passear pelas ideias matinais, concebidas no lusco fusco artificial das luzes robotizadas e eventualmente transformadas em textos. Isso, quando não escrevia diretamente no computador durante o evento, depois que a sonorização ficava afinada. Principalmente após o meu ingresso na Scenarium, tornou-se uma rotina que deu vazão à minha voz inaudível, mas enfim materializada.

#Blogvember / Promessa Cumprida

“À beira das palavras… um gole de café… (Suzana Martins)

Foto por John-Mark Smith em Pexels.com

Querida,
antes de nos separarmos, com aquele abraço que relutei em dar porque talvez não quisesse me desvencilhar dele, eu sabia que seria difícil não pensar em você nos momentos em que meus olhos pousassem no vazio que se alargou a minha frente depois dele. Para não perceber que sinto a sua falta, não paro para nada. Continuo a fazer e a refazer tarefas que apenas me distraem um pouco.

Notícias da antiga guerra perderam protagonismo, apesar das mortes continuarem em escala pontual. A nova guerra, tão velha quanto é o mundo civilizado, é mais poderosa em referências, ocupando o espaço entre uma lembrança e outra de nossos momentos de entrega, prazer e dor, que se apequenam, envergonhados do imenso sofrimento em terras distantes e mais próximas.

Porém, quando amansa as horas do dia e olho para o Sol a perder-se no horizonte me perco viagens para o centro da Terra. Foram dez anos mesmo ou toda a eternidade? Tudo me faz recordar dos nossos encontros. São tantos os marcos por onde passeamos o nosso desejo de consumação impertinente que fica difícil não sorrir para depois morder os lábios na tentativa de me vingar da boca que me trai o sentimento de saudade.

Você cumpriu a sua promessa, quando lhe pedi: “me deixe ao menos lhe ver passar” – como cantou Roberto. Torço tanto por você encontrar a paz de espírito que buscava. Quis que não me odiasse por você me considerar um dos motivos de sua constante e incongruente desarmonia emocional, enquanto seu belo corpo bailava a beleza de ser artista no rosto luminoso. Como imaginava que também desejasse não mais me desejar, concordei com o fim…

Seremos velhos que, feito carvão encerraremos todo o amor em brasa que nos queimou durante a última década. Ou desfilaremos a nossa imaturidade de amantes perdidos em nós para todos verem, sem fugas e sem segredos, pelas esquinas da cidade? Frequentaremos restaurantes e cafeterias, à beira das palavras… um gole de café e um afago nas faces experientes? Acordo, sei que é apenas um sonho.

Cumprimos um ciclo – forte e tempestuoso. Tantos em sorrisos quanto em lágrimas. Agora apenas caberá nos deitarmos na rede das lembranças, descansarmos os nossos corpos alquebrados em novo ciclo, em que cada minuto será de gozo doloroso por não mais estarmos juntos, em peles encanecidas conflagradas na peleja do prazer…

Participam: Lunna Guedes / Mariana Gouveia / Suzana Martins / Roseli Pedroso

BEDA / Instantâneos Paulistanos*

Em *2011 escrevi: “Castelinho da Rua Apa, ponto tenebroso da cidade, não só pela história bastante sombria do lugar, onde ocorreu um duplo assassinato — mãe e dois filhos advogados. Mesmo antes da edificação do prédio, na área aconteceram episódios estranhos. Atualmente, é símbolo do descaso com que foi tratada esta região de São Paulo“. Revisando o que foi dito na última sentença, o edifício foi restaurado e desde 1996, a ONG Clube das Mães do Brasil tem a concessão para utilização do local.

Amizade. Enquanto o cão descansa com a amiga no colchão, o terceiro do grupo espera que o tempo passe… *2014

Na academia, estava entretido nos exercícios de supino. Entre um intervalo e outro, você, vestida de amarelo, chamou a minha atenção. Entre tanto movimento, o seu corpo posava lindamente para uma foto roubada. *2011

Vista da Praça Princesa Isabel, onde vemos Duque de Caxias estacionado com o seu cavalo e seu braço em riste com uma espada a mão… para sempre. À esquerda, abaixo, um catador de papel, figura onipresente na região. Mais ao longe, no horizonte, Cristo, no topo do prédio do Colégio Sagrado Coração de Jesus, observa o domingo na Cracolândia. Bem ao fundo, temos o perfil da Serra da Cantareira.*2009

Participante de BEDABlog Every Day August

Roseli Pedroso / Mariana Gouveia / Suzana Martins / Lunna Guedes / Claudia Leonardi / Bob F / Denise Gals