15 / 04 / 2025 / BEDA / Filadélfia*

“Mesmo cansado, estou indo dormir tarde para ver Tom Hanks iluminar Filadélfia… Miguel, estou pronto!… Ao mesmo tempo, dá para perceber que muita coisa mudou, mas nem tanto que possamos dizer que nos tornamos melhor. E isso é tão triste…”.

*Nessa postagem de 2022, vivíamos a situação de um País sitiado pela possibilidade de Golpe de Estado, claramente exposto em redes sociais pelo Ignominioso Miliciano, então, no poder. O seu governo já havia tentado desmontar o programa Anti-AIDS, em 2019, já em seu primeiro ano de (des)governo. Como vivia na própria bolha na qual seus seguidores também estavam imersos, produzia provas de planos urdidos diariamente, aliás, desde de antes tomar posse. Agora, desdiz tudo o que disse. Mente e todos ao seu redor sabem que mente, mas a estratégia é mentir, como sempre foi. O ladrão de joias (provavelmente recebidas por serviços prestados aos árabes que compraram uma refinaria à preço de banana), achou que sendo “suas”, tentou vendê-las no exterior, também à preço de banana. Mas o mais grave foi continuar com os seus planos golpistas até desembocar no 8 de Janeiro de 2023. Usando o gado que obedece cegamente ao Capitão, se meteram a invadir e a depredar as sedes dos Três Poderes. O Ignominioso Miliciano e seus asseclas foram finalmente indiciados pelos diversos crimes, através da delação de seu Ajudante de Ordens, que auxiliou a Polícia Federal a produzir provas em profusão para que fosse aberto o processo pela Procuradoria-Geral da República. Nos próximos meses, essa história que se desenrola desde 2018, quando surgiu a candidatura do sujeito no centro da trama, terá um termo provisório. O que constato é que nunca mais verei o Brasil da mesma forma. Sei que há um povo maravilhoso que ainda sustenta a minha visão de adolescente que cria na ascensão de uma raça miscigenada e de valor cultural natural, fruto das melhores influências dos vários povos que nos formaram como nação. Comecei a duvidar há tempos. Mesmo porque, são os retrógrados que estão no poder, postos justamente pelos oprimidos que se contentam com as migalhas caídas da mesa dos Senhores do Engenho.

Sobre Pragas*

“Eu sei que tem muita gente gostaria de um Corona Vírus para apimentar a nossa vida de perigo. Não precisamos. Vivemos em um País com péssimo Saneamento Básico, causador de doenças endêmicas; crescimento de mortes por Dengue e Chikungunya; a volta da Paralisia Infantil, Sarampo e da Tuberculose, por falta de vacinação, resultado de pura ignorância estimulada pelas Redes Sociais – assim como “adquirimos” este desgoverno –, que cogita diminuir a assistência aos doentes de AIDS, que resultaria no aumento de casos de doenças oportunistas, principalmente daquelas que se aproveitam de pessoas que não se previnem ou estão desassistidas por políticas públicas de saúde deficientes.

O portador de AIDS normalmente se cuida, toma precauções e se medica convenientemente, segundo mostra estudos recentes. O comportamento de risco geralmente se dá por parte daquele que se considera eleito pelos deuses, geralmente “homens” socialmente aceitos como acima de qualquer suspeita – os piores – que transmitem a doença às esposas, alheias a vida dupla de seus companheiros. Para piorar, a base de tudo – a Educação – que desenvolve cidadãos mais conscientes e aparelhados de conhecimento para sanear a Sociedade de lixo mental e desinformação, está sendo alvo de um processo silencioso e paulatino de desmonte. O desinvestimento nessa área se inicia desde a infância, com a retirada de verbas para creches.

Como estudante de História, parece que estou a ver acontecer no cotidiano uma representação de fatos antigos, de séculos passados, que julgava ultrapassados para este novo milênio. O que surge como exercício de distopia – uma das matérias preferidas de escritores – está sendo reeditado como obra de péssimo autor. Já estou a prever a procissão de hordas de convictos caminharem, por ordem superior, até a beira da Terra Plana para saltarem…”.

Este texto de 2020, em plena Pandemia de Covid-19, tentava identificar as circunstâncias que envolviam aquele moimento histórico. A nação, então, estava sendo capitaneada pelo Ignominioso Miliciano que ao final do seu (Des)Governo conspirou francamente para continuar no poder através de um Golpe de Estado. Após a sua saída, ainda tentou um último movimento com a invasão e depredação dos edifícios na Praça dos Três PoderesCongresso Nacional, Palácio da Justiça e Palácio do Planalto.

Passado o tempo, o surgimento da figura política do Ignominioso Miliciano deu ensejo para que outras personagens assomassem do submundo utilizando o caldo da subcultura reacionária que permanece por baixo da pele do brasileiro médio, criado num mundo de desigualdade como projeto político idealizado como natural. Nossa tradição escravista repercute sub-repticiamente nas mentes de todos nós e faz com que aventureiros com estratégias advindas de suas práticas em redes sociais as empregue como se discursassem para um público ávido para ser enganado, feito aquela namorada que sabe que o sujeito está mentindo, mas se entrega porque ele sabe mentir muito bem.

BEDA / O X Da Questão

Eu tinha duas contas no X, antigo Twiter, desde 2009. Eu o aderi três anos depois de sua fundação, em 2006. Por lá, divulgava os meus textos publicados no WordPress e, antes, quando comecei com os famosos 140 verbetes. Isso me ajudou a encontrar meus pares ligados à Literatura, inclusive em Portugal e Espanha. Achei que era uma ferramenta incrível, onde aprendi a domar a minha tendência à verborragia por essa ocasião, exercitando em pequenos textos as minhas ideias e temas.

Passados alguns anos, o Twiter se agigantou, ganhou cada vez mais seguidores e consequente influência em vários níveis – econômico, social, político – em diversos países. Já era uma tendência cada vez mais crescente do poder das redes sociais na vida dos cidadãos do mundo todo, a começar pelo Facebook, fundado dois anos antes – uma revolução nas relações entre as pessoas, assim como foi a bicicleta na Europa – fator de aproximação entre pessoas de condados distantes. Apenas que a escala foi estratosfericamente maior – mundial, de fato.

Porém, ao contrário da inofensiva bicicleta, os diversos aplicativos das redes sociais foram se tornando cada vez fatores de desestabilização de arranjos familiares, no menor (em termos de tamanho, ainda que importante) efeito possível, até o ideológico, que regula as relações políticas entre as organizações junto ao poder central em andamento cada vez mais célere. Borrando as fronteiras entre o aceitável e o não aceitável em termos cada vez amplos em um número cada vez maior dos países.

Portanto, contribuindo para que os parâmetros regulatórios não acompanhassem a sua crescente capacidade de influenciar um público despreparado para filtrar o que fosse informação fidedigna ou não. Tornou-se óbvio para os mais espertos que era uma excelente oportunidade para faturamento financeiro através de novas formas que transitavam na zona cinza entre o que era legal ou ilegal com golpes cada vez mais elaborados, principalmente para os não iniciados no mundo virtual. E não demoraria para que os poderosos ou aqueles que queriam chegar ao poder percebessem o potencial tremendo que uma rede de alcance sem limites que permitia a veiculação das suas plataformas políticas de viés antidemocrático.

Grupos políticos organizados dentro do Brasil buscaram suporte em organizações de atuação digital no exterior. Algo que já havia ocorrido antes no País mais poderoso do mundo, quando hackers da Rússia interferiram nas eleições norte-americanas, com campanhas veiculadas em redes virtuais. Agora, mais distante no tempo, é possível perceber que estava em curso um concerto internacional que visava implantar um poder mais aberto à atuação desse setor sem regulamentação formal até então.

A Direita, diante dessa realidade, acompanhada por um quadro em que a Esquerda permitiu que seus erros servissem de munição ao radicalismo extremista direitista, prosperou. Sabendo utilizar as novas ferramentas, acabou por assumir o poder justamente quando um vírus acabou por demonstrar a capacidade letal de sua propagação. Como não havia vontade política de combatê-lo, com a negativa da compra e o uso de vacinas, algo caro à plataforma de direitistas no exterior foi aplicado à realidade brasileira – o negacionismo científico – item da cartilha da Extrema Direita.

Um país como o Brasil, campeão na vacinação de sua população, que propiciou a erradicação de várias doenças endêmicas, voltou no tempo e viu enfermidades simples voltarem a matar indiscriminadamente. Além da Pandemia de Covi19, que ceifou a vida de mais de 700.000 pessoas, oficialmente. A propagação da campanha contra as vacinas continua repercutindo, a ponto de influenciar pais que não levam os seus filhos para que sejam vacinados contra a epidemia de Dengue em crianças ou HPV, para impedir a propagação de doenças venéreas entre os adolescentes. Ou seja, a propagação de informações enganosas, mata!

O fato novo, ou nem tanto, já o tal Senhor X já havia se encontrado pessoalmente com o Ignominioso Miliciano em território nacional, agora ataca de longe a Democracia brasileira. Foi o apito de cachorro necessário para que os seguidores do bando do enviado dos porões da Ditadura começassem a vociferar contra o Sistema Judiciário que garantiu durante a Pandemia que tivéssemos vacinação em massa. Que conseguiu colocar o Ignominioso Miliciano em seu devido lugar na História – ladrão de joias da Coroa, incentivador da destruição de mundos, simpatizante da tortura, de aniquilação de etnias, reacionário nos costumes que aviltam a dignidade humana, extrator de pústulas como se criasse jardins.

Quando surgiu o Senhor Z, criam que ele fosse perigoso pelo poder de intervenção na vida cotidiana dos cidadãos de todas as latitudes. Porém, ele não chega nem perto do projeto de poder do Senhor X. Dono de 5.000 satélites dos 7.000 em órbita em torno do planeta, ele pode, se quiser, intervir em todo o sistema de comunicação mundial. Localmente, interessado nas riquezas nacionais, como as minas de Lítio, importante para tal estratégia, se associou a um sujeito que venderia a mãe e a entregaria, como faria o antigo residente do Palácio do Alvorada. Para além de suas convicções fora de órbita, o Ignominioso Miliciano, serve muito bem aos seus propósitos.

Angariando simpatia ao estabelecer uma agenda de produção de energia limpa, acena para o retrocesso institucional num planeta que apenas a equanimidade política imposta pelo servilismo social antidemocrático, sem reações a padronização dos costumes, lhe seria útil. Como se a humanidade não tivesse uma riqueza de identidades díspares. O Senhor X, comprador de sonhos, vingativo contra os meninos que um dia o agrediram, tenta superar o seu sentimento de homem pequeno com o peso de sua mão alva e delicada, mas perigosa.

Com a minha saída do X, marco posição. Não acho que deva ser a regra de quem percebe o quanto o Senhor X é pernicioso. Se quiser, que fique e lute de dentro para fora. O X tem como o seu maior problema e vocação, a sua maior atração. Uma terra que se pretende sem lei, fabricante de ódio e desejo de lacração. Eu tinha poucos seguidores, nunca fiz questão de que fossem muitos. O aplicativo era mais uma espécie de depósito de ideias. Muitas, eu nem acredito mais. Não farei e nem sentirei falta, como sinto falta das minhas antigas ilusões. Crescer é isso? Descrer do ser humano?

Foto por Helena Jankoviu em Pexels.com

Participação: Lunna Guedes Mariana Gouveia / Claudia Leonardi Roseli Pedroso / Bob F.