06 / 06 / 2025 / Projeto Fotográfico 6 On 6 / Nossa Casa

A nossa casa está onde estamos, senão pelo fato de habitarmos um corpo, também por nossa estrutura mental, moldada pela memória de onde vivemos e com quem vivemos nesse espaço que além de casa — o lugar físico — uma projeção orgânica chamada de Lar. Ter imagens de onde vivemos muitas vezes marca o nosso olhar expandido pelas emoções e sentimentos envolvidos. “Naquele lugar foi onde tive a última conversa com a minha mãe”. Ali, onde mostrei para a minha filha os volteios de uma borboleta pela primeira vez”. Um Lar carregamos em nossa pele, é a nossa referência de vida. Para o bem ou para o mal.

Eu sou fascinado pelas plantas, suas estruturas, ramos, flores e formas. Gosto de ficar observando o movimento de insetos, alados e não, habitam aquela casa. São estruturas que se sobrepõem — a minha casa, a casa das plantas, a casa dos insetos.

Da varanda da minha casa, eu possuo entardeceres. As suas visões me deslocam para além do horizonte e para perto de mim.

Eu sempre quis ter jardim em minha casa. Temos dois. Um junto à casa, outro, este aqui, na parte da frente, à direita de quem entra. Lá cultivamos plantas frutíferas — bananeiras (prata e nanica), ameixeira, limoeiro, laranjeira e uma cobertura de Ora-Pro-Nobis sobre o caramanchão.

Nossa casa também é habitada por alguns bichos residentes permanentes (ou até deixarem este plano), como a Dominic, a última à direita que passou há uma semana. Eles são nossos amigos-filhos-companheiros. Da esquerda para a direita — Bethânia, Lolla, Bambino (meu neto) que nos visita eventualmente, Arya e Alexandre, à frente. Todos eles foram resgatados, a não ser a Dominic, filha de outra linda criatura resgatada — Domitila.

Esta jabuticabeira fica no jardim central, menor que o da frente. Sonho de infância comum meu e da Tânia, ela ainda está em desenvolvimento. Chegará o dia que carregará tantas jabuticabas que teremos que doar. Outro sonho.

Nossa casa é o lugar onde a família se expressa, vive, come, dorme, sonha, descansa, trabalha, cozinha, brinca, briga, se reconcilia. Lugar de expressão vital, neste registro ainda pudemos reunir todos os componentes da família. Há dez anos. Agora, apenas eventualmente, isso acontece. Tendo Van Gogh como testemunha… além de mim, temos a Tânia, atrás de mim, do seu lado direito, a primogênita, Romy; do seu lado esquerdo, Ingrid e Lívia. Imagem produzida na sala de jantar.

Participam: Lunna Guedes / Cláudia Leonardi / Silvana Lopes / Roseli Pedroso / Mariana Gouveia

06 / 09 / 2025 / Projeto Fotográfico 6 On 6 / Viagens*

Há várias maneiras de viajar. É comum eu viajar mentalmente por lugares que apenas crio em minha imaginação. Esse é um expediente que utilizei muito quando mais novo, impedido por questões típicas de quem mal tinha recursos para me transportar de um bairro a outro. Vivia na Periferia (como ainda vivo), se bem que agora em condições de ir a muitos lugares que somente teria contato por imagens. O que me impede, como acontece com tantos, é a falta de tempo. Ao mesmo tempo, em meu trabalho me locomovo para várias cidades do Estado e até fora, mas ainda próximos em distância. Neste dia 6, estivemos em Votorantim, na região de Sorocaba em que estava em um lindo recanto onde sonorizamos pela Ortega Luz & Som uma festa de casamento.

Na antiga fazenda, transformada em local de evento, encontramos uma Figueira centenária. O local todo é bonito, mas ter contato com essa Figueira foi emocionante. Testemunha de tempos em que a dor dos escravizados sustentava a alegria dos fazendeiros, toquei o seu caule e conversei mentalmente com ela. Fiquei comovido.

A Marineide foi uma irmã reencontrada através do Facebook. Costumamos dizer que fomos deixados aqui neste planeta — ela, na Bahia, eu, em São Paulo — pela Nave-Mãe de nosso planeta original. Além dela, em Brasília, onde ela reside, havia Luiz Coutinho, também “encontrado” pelo Facebook através de seus textos perspicazes e bem escritos. Um veneziano nascido em Minhas Gerais, estivemos todos juntos no chão da Capital Federal em 2016. Na imagem acima, escolhi esta foto do crepúsculo no Planalto Central, diferente das suas referências arquitetônicas. Além de mim e as duas pessoas já citadas, Tânia e Lourival, esposo da Marineide também comparecem.

Em 2012 foi realizado o 1º ENBRATE, um Cruzeiro curto entre Santos e Rio de Janeiro, ida e volta pelo Litoral com a programação tendo como pauta a realização de palestras para atualização de profissionais de enfermagem de nível médio, aliado à diversão à bordo do Costa Fortuna, proporcionado pela ABRATE. A Tânia, profissional de Enfermagem, me levou para esse evento. Foram alguns dias em que relaxei e tive contato com o poder do Mar afastado da costa, além da vastidão do horizonte tendo o Sol durante o dia e a Lua e das Estrelas durante a noite.

Essa imagem foi realizada no passeio de escuna que fizemos — Tânia e eu — no início de outubro de 2021, por ocasião da comemoração dos meus 60 anos. Presente dado por minhas filhas, foram momentos memoráveis que espero um dia renovar em que passei alguns dias em Paraty. Além do mergulho pela história da região, mergulhei nas águas do Mar que banha a cidade que veio a se tornar Patrimônio da Humanidade.

Durante alguns anos, nosso pai, Sr. Ortega, eu e meu irmão, Humberto, fizemos viagens para Posadas, capital da província de Missiones, norte da Argentina, fronteira com o Paraguay. Nesta imagem, realizada em 1985, estávamos em Foz do Iguaçu, local de registro de nascimento do meu pai. Na verdade, ele era de origem paraguaia e seu pai, Sr. Humberto, o registrou em Foz. Essa viagem também é temporal, como quase todas que aqui coloquei.

As viagens mais frequentes que realizo são para encontrar o Mar. Vou ao Litoral Sul, mais especificamente à Praia Grande — que um dia foi chamada de Cidade dos Farofeiros por ser o ponto mais visitado pelos paulistanos em ônibus de excursão. Eles lotavam as ruas com eles e há uma imagem icônica em eles invadiam parte das praias. Atualmente, Praia Grande é uma cidade com grandes empreendimentos imobiliários, escolhidos por pessoas de poder maior aquisitivo. Foi uma grande transformação ao longo dos anos. Apesar da grande mudança da rua de areia ladeada por mangues até se tornar numa apinhada de prédios residenciais, ainda é por ela que volto a ser menino, o mesmo que vivia o dia inteiro vestido apenas com o calção de banho, passando boa parte do tempo na areia, a mergulhar seguidas vezes nas ondas que sempre que adentro, me carregam para os momentos mais felizes da minha vida.

*Texto e fotos postadas um dia depois por estar, justamente, em viagem de trabalho.

Participam:

Claudia Leonardi / Mariana Gouveia / Silvana Lopes / Lunna Guedes

24 / 08 / 2025 / BEDA / Descascando Cebolas*

Desde que acordei hoje, um tanto tarde, levantei meio melancólico, apesar da noite bem dormida. Estava feliz pelo trabalho no dia anterior que, apesar do frio de 11º C, chuva fina constante e correria, foi a contento. Abri a janela e o ar frio persistia em marcar a sua presença desproporcional, ainda que estejamos no inverno. Desci para tomar café — o dia não começa sem que o café me aqueça —, fui ao jardim conversar com as plantas, o que sempre me faz bem. Elas se deixaram fotografar.

Como já era tarde, fui preparar o almoço. Aproveitei que estava descascando cebola e misturei as lágrimas provocadas pelos compostos sulfurados, que se transformam em gases e irritam os olhos, com algumas verdadeiras. Aconteceu sem mais nem menos. Ou, antes, pela a constante falta que sinto de algo indefinível. Ou até que escondo de mim mesmo dar a conhecer. Foram lágrimas que não precisava justificar, enquanto limpava a minha mente de coisas pesadas que repercutem em redes sociais, sem que queiramos ver, mas acabam rebatidas em imagens externas que invadem a nossa existência.

Preferi fazer uma postagem para deixar registrada a simplicidade de um dia de descanso com as minhas próprias imagens. Sempre com a participação de meus companheiros. Não é um descanso comum. O meu tempo não é tão livre, já que com textos a entregar, tenho que produzir. Escrever também é trabalhoso, mas uma “prisão” que é, ao mesmo tempo, prazerosa.

Boa semana, gente!

*Publicado num domingo de Agosto de 2023

06 / 08 / 2025 / BEDA / Projeto Fotográfico 6 On 6 / Seis Meses, Seis Fotos (Mutante)

Ao me debruçar sobre o tema acima, fiquei imaginando quais imagens poderia colocar dentre as muitas que produzi de lugares e pessoas. Mas como estou a me sentir um tanto introspectivo sobre a passagem do tempo, decidi colocar a mim como alvo de elocubrações quanto à passagem do tempo marcado no olhar.

Nesta imagem de Janeiro de 2018 estou no camarim de um clube em Campinas, onde logo mais à noite, haveria um baile de salão. Faria a sonorização da Banda Ópera Show. Formada por Tânia Mayra e João Soares como cantores (dos melhores no estilo), permanecemos por mais dois anos, até o advento do isolamento social para conter a temível Covid-19. O resto é uma triste história, incluindo a passagem de João Sorriso, como o chamava, por causa de um câncer no Pâncreas.

Esta segunda foto ocorreu em Fevereiro de 2016. Usei um aplicativo para criar o tom rubro da imagem que já se destacava pela incidência dos raios solares do crepúsculo. Gosto dela porque prospecta o meu olhar de quem quer enxergar para além do imediato, apesar de tentar viver o agora.

Foto da minha primeira identidade com cara de terrorista. Eu a retirei em Março de 1979, tinha 17 anos e uma nascente barbicha. Logo, por efeito de ter me tornado vegetariano, começaria a emagrecer bastante até ficar um tanto irreconhecível. Depois de me adaptar pouco a pouco à alimentação sem carnes de qualquer tipo, consegui ficar menos magro. Essa fase, durou cerca de dez anos, até me casar, em 1989.

Esta imagem tem três anos. Talvez estivesse tentando me levar mais à sério naquele Abril de 2022. Apesar de ser séria a situação do País em que as ações do então (des)governante estava a progredir para a tentativa de Golpe de Estado colocada em pauta dia sim, dia não. A estratégia então empreendida era a de esticar a corda e agir no sentido de alicerçar a sua continuação no poder, obstada por aquele que hoje é o seu algoz quando estava no TSE. O interessante é que, preocupado com um eventual Golpe de Estado por parte da esquerda, promulgou no ano anterior a Lei 14197 que acabou por levar a ele próprio às barras do tribunal do STF.

Um pouco antes do início do Inverno em Maio de 2023, o País já havia superado uma tentativa de Golpe de Estado em 08 de Janeiro. Os raios do entardecer me aqueciam às primeiras brisas frias. Tanto eu quanto a Bethânia apreciávamos os crepúsculos que espero continuar a usufruir num Futuro mais promissor.

Chegamos a Junho de 2025 e esta é a minha última mutação. Envelheço com certa dignidade, escrevendo planos para o Presente, que é como eu vejo o Futuro. Sinto-me bem, mas algumas dores se fazem evidentes no corpo que são menores que as da alma. Assim como no Passado, nada de novo…. Vamos em frente!

BEDA / Meu Sol Particular

Comecei a reparar que um ponto luminoso surgiu de início pequeno. Depois, feito o Sol que se agiganta pouco a pouco a cada manhã de Verão, se instalou do lado direito de quem vê a tela do televisor. Nesta cena de Fallout, está lá o meu sol particular a fazer parte da paisagem apocalíptica, assim como na Inglaterra nublada de Pobres Criaturas ou em jogos da NBA ou da Premier League do Futebol inglês.

Procurei saber do que se tratava e descobri que é causado por um defeito resultado do descolamento de refletores que são posicionados na frente dos LEDs, criando esses pontos de luz na tela. Esses refletores tiveram algum problema no processo de colagem, caindo sozinhos, resultando nesse problema. Nada poético, portanto, tem a ver com o surgimento de meu solzinho, por enquanto sozinho no firmamento de minhas paisagens irreais ou reais.

Esse buraco branco luminoso acompanhará as minhas imagens televisivas por um bom tempo. Não vejo necessidade premente em trocar de aparelho ou mesmo “consertá-lo”, pois o processo é trabalhoso e nem sempre satisfatória a consequência. Ou mesmo que não fosse. Esse “sol-efeito-defeito” foi me dado inesperadamente e não consigo me desapegar dele, como a me lembrar que esse ponto que irrompe em minha tela talvez exista para manter a minha fé na imperfeição da Vida

Participação: Lunna Guedes Mariana Gouveia / Claudia Leonardi Roseli Pedroso / Bob F.