10 / 10 / 2025 / Luar*

Alta madrugada, mais ou menos 3h da manhã, desliguei as luzes de casa, mas estranhamente, os móveis permaneceram iluminados por uma cintilação tênue que entrava pelas janelas. Curioso, abri uma delas e vi a Lua projetando o seu brilho prateado sobre tudo. Não resisti e saí para vê-la. Como o céu estava limpo, as estrelas também podiam ser vistas a queimar quietamente no firmamento. As Três Marias permaneciam perfeitamente perfiladas uma ao lado da outra, como por todo o sempre. Lembrei de minha infância, em que tendo me mudado para a periferia, tive a oportunidade de começar a apreciá-las de “perto”. Pensei que, nesta vida de momentos fugazes, na quantidade de vezes que deixamos de voltar os nossos olhos para o eterno. Tentei registrar àquele instante. Como se pode (quase) ver, não foi da maneira que queria. Mas talvez a imagem obtida venha a calhar, por sua aparência onírica. Tudo não passa, mesmo, de um sonho…

*Texto de 2014. Hoje, a Lua continua a brilhar, mas a sua luz está obliterada pelas nuvens carregadas que despencam em forma de chuva.

25 / 08 / 2025 / BEDA / Gosto De Infância

Coisa rara, mesmo na Periferia, cultivamos um jardim com plantas frutíferas. Uma delas, para a minha alegria, é a de ameixa (como sempre chamei a minha vida toda), mas também conhecida como nêspera, como me lembrou uma amiga de letras. A minha alegria provém do gosto da fruta que me remeteu diretamente ao tempo em que vivi na Penha. Morávamos no que chamávamos de porão da Tia Raquel que, com o seu esposo, José, eram donos de uma pequena fábrica de flexíveis de borracha usados em carros. Tanto meu pai quanto a minha mãe, trabalhava para eles. Essa dependência suponho que fosse veneno para o meu pai, um homem de esquerda radical.

Não apenas nós, mas outras pessoas da família viviam em outras unidades na grande propriedade dos Gomes. Num terreno ao qual se adentrava por uma portão de ferro, um mundo a ser desbravado. Nele viviam gansos, patos, galinhas e, em chiqueiros mais ao fundo, porcos. Tive experiências radicais nesses tempos entre os 5 e 8 anos, como o abate de porcos. Seus altos roncos feito gritos humanos não saíram até hoje da minha lembrança.

Mas além da fauna, a flora era também bastante variada. Além das mamonas que usávamos para o estilingue, havia cana-de-açúcar, pé de loro, laranja-lima, bananeira e um grande pé de nêsperas, as minhas saudosas ameixas. Vou provar as de casa que viajei para a época que subia na árvore frondosa pelos troncos e galhos até alcançar as adoradas e douradas frutas. Gosto de infância — efeito de coisas simples — mas poderoso.

04 / 02 / 2025 / Coaxar*

Para Marineide e Diovani

Pelos amigos, fui chamado para versar
Sobre a expressão dos bichos no campo
O zumbir dos grilos, dos sapos, o coaxar
Não os vejo mais, tal e qual o pirilampo

Vivo na cidade — duro asfalto, frio cimento
Apenas os busco na terna e fugidía memória
No reencontro da infância, no pensamento
Chego a pensar que são invenção, uma estória

Serão esses seres originários de ficção?
Sonhos de uma vida que tive ou ainda terei?
Como o brilho das estrelas, uma mera ilusão?
Pois mesmo já mortas, as vejo e ainda as verei?

O que me diz Diovani, o bardo cristalino?
O que me conta Marineide, a fada central?
Vivemos todos uma igual fantasia e destino?
Mentimos a mesma verdade universal?

*Versejar de 2015

09 / 01 / 2025 / Mares E Marés

Eu gosto de ir ao mar. No confronto com as ondas, volto à infância. Me revisto de quase nenhuma vestimenta. Vibro com o vento as suas fragrâncias sopradas e sons sugeridos por arvoredos de folhas farfalhadas ao sabor. Mas percebo que são visões do passado, quando menino caminhava pelas ruas de areia, terrenos tomados por mangues e casa de madeira. Se houve uma época em que tive uma convivência mais leve com meu pai foi então… Talvez seja por isso que vivo a retornar para esse oásis no meio do deserto da minha juventude.

BEDA / Brevidades*

Hoje, comi “Brevidade“… Tem gosto de infância, tão fugidia e eterna quanto ela… (2016)

Quantas vezes não olhamos para o céu em busca de respostas? Hoje, eu obtive uma… e o que me disse, então?… “Um risco quer dizer Francisco.”… Oh, charada! Rs… (2016)

Dia de mudança da filha do meio. Come-morando baianamente… — com Tânia Ortega e Ingrid Ortega em Sotero Cozinha Original (2016)

Foto por cottonbro studio em Pexels.com

SOBRE VAMPIROS (2018)

Uma das frases mais poderosas que uma mulher poderá dizer a um homem é: “Quero você dentro de mim…”. Creio que essa mulher não busque sexo, apenas. Quer ser preenchida de amor. É triste quando esse homem entra, faz a sua bagunça, insinua presença constante e a deixa no meio da noite, exangue, feito um vampiro…

Foto por Miguel u00c1. Padriu00f1u00e1n em Pexels.com

SIM E NÃO (2015)

“Sim” e “não” são chaves que abrem ou fecham portas. Estamos por um “sim” ou por um “não” de alcançarmos o que desejamos, se bem que nem sempre o “sim” que queremos ouvir será o melhor que poderá nos suceder, como, muitas vezes, uma benção virá disfarçada de um rotundo “não”! Assim, entre “nãos” e “sins”, nos encaminhamos para outros “sins” e “nãos”. E vivendo de “sins” ao “nãos”, de “nãos” ao “sins”, chegaremos ao fim, que não será um constante “não”, mas um permanente “SIM”!

Participação: Lunna Guedes Mariana Gouveia / Claudia Leonardi Roseli Pedroso / Bob F.