Ontem, no proclamado Dia do Índio (criado pelos brancos) — 19 de abril — postei um texto que busca trazer à luz certas discrepâncias do comportamento dos brasileiros em relação a um dos personagens formadores de nossa nacionalidade, enquanto é promovida sua extinção a olhos vistos sem nenhuma mobilização contrária por boa parte da população. Mesmo porque muitos dos nossos cidadãos botaram olho grande nas terras ocupadas pelos indígenas. Um dia, caso não revertamos o atual processo de destruição de seu lugar de expressão original — o próprio território brasileiro — nós mesmos extinguiremos a nossa identidade como nação.
“Pois, é! Esse sujeito de tez branca aí acima tem sangue dos povos originários de Pindorama (país das palmeiras, nome dado ao Brasil pelos ando-peruanos e pelos indígenas pampianos), mais precisamente Tupi-Guarani. Diz respeito à família linguística (tronco Tupi) com a maior distribuição geográfica no Brasil, estendendo-se por 13 estados e compreendendo cerca de 20 línguas vivas, com pequena diferenciação interna. A língua Tupi também é usada na Guiana Francesa, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina.
O meu pai tinha pele menos clara e os olhos mais puxados. Em uma empresa que trabalhou, tinha o apelido de “japonês”. Isso apenas demonstra que as generalizações englobam características e conceitos pré-concebidos que faz com que sejamos chamados pelos norte-americanos de “latinos”, algo que significaria “origem racial indefinida” (o que muito me orgulha). Tenho igualmente ascendência hispânica, por parte de mãe, portanto de alguma maneira, sou sim, também latino, não apenas por morar no Brasil, um país pertencente à América Latina. Os povos europeus que aportaram nas Américas, entre eles espanhóis, portugueses e franceses, promoveram um dos maiores genocídios da História humana. Nas ilhas caribenhas, por exemplo, dizimaram os habitantes autóctones e as ocuparam com populações inteiras de africanos escravizados. A invasão das Américas ocasionou a morte de pessoas, de culturas, de línguas, de protetores do meio ambiente que dependiam da biodiversidade para sobreviverem.
Ainda hoje sofremos, como brasileiros, com a política desatinada que coloca o ganho de capital financeiro em detrimento do ganho de capital humano e das outras diversas formas de vida. Estamos perdendo a chance de nos tornarmos um país diferenciado em termos de desenvolvimento sustentável, fundamentado no que a ancestralidade, a mitologia e a cultura indígena tem a nos oferecer. Há quem sonhe viajar para outros planetas. Podem ser os mesmos que “descobriram” neste planeta chamado Terra ou Gaia, maravilhosos lugares e os tem destruído paulatinamente. Agimos como um vírus que contamina seu hospedeiro, o mata e contamina corpos outros após outros corpos.
Se há uma lição que a mortandade dos “índios” possa nos deixar é que devemos nos curar do mal de nos colocarmos acima de tudo e de todos. Que sejamos humildes e aceitemos que devemos parar de passar como tratores por cima das áreas reservadas aos povos originários, tratando-as como recursos econômicos à disposição de invasores-destruidores-genocidas modernos patrocinadas por um ignominioso que os representa no poder central do Brasil.
Lunna Guedes / Claudia Leonardi / Adriana Aneli / Roseli Pedroso
/ Alê Helga / Mariana Gouveia / Darlene Regina

