Predadores

Caladas,
mudas
de mangueiras emergem no jardim
expostas a céu aberto.
Entre folhas, restos de caroços
postos ali para fertilizarem o solo,
não se contentam
em apenas terem sido o coração
de belas e apetitosas frutas.
Avidamente consumidas
por seres “superiores”,
querem voltar em vida nova
e função.
Seres em desenvolvimento,
ressuscitados do desprezo,
consubstanciam a ordem natural —
vida-morte-vida —
porém terão interditados os seus trajetos,
serão arrancados daquele retângulo.
Inesperados, não são aspirados
seus crescimentos.
Nem elas teriam condições de sobreviver
e nem nós, que dominamos aquele lugar,
de termos o jardim que desejamos.
Nesses momentos,
em que escolhemos entre a vida e a morte
de todo um ecossistema —
troncos, caules, folhas, flores, frutos, insetos, pássaros —
sinto-me o pior dos predadores…

Não Consigo Falar De Amor

Eu queria falar de amor,
mas meu amor foi embora…
Depois disso,
o meu amor me deixou.
Porque o amor morre antes em nós
e nossos amores,
como flores sem água,
ressecam,
escurecem
e vemos suas pétalas deixarem  
suas hastes e nossos braços.

Nossos abraços
deixam de aquecer o corpo-solo,
as nossas mãos
não fertilizam mais carinhos,
os nossos olhos
não vislumbram mais o sol
na manhã orvalhada.

Quando isso aconteceu?
Foi da noite para o dia?
Ou fui sendo envenenado pouco a pouco,
minha alma a se desertificar
até se tornar terreno pedregoso,
ácido
e impuro?

O que sei é que quando olhei ao redor
só percebi padecimento e ignorância,
violência e ódio,
morte e desdém.
Doenças e falsas crenças,
o mal a grassar de graça —
desgraça e trapaça —
povo contra povo,
o tentacular polvo
do poder a provocar
a confundir,
a maldizer,
a mentir,
a matar…

Antes, eu conseguia proteger
o meu jardim…
Afastava
predadores e pragas,
me abrigava
de palavras negativas,
frequências de indecências
em ultrajantes vagas
dos corruptores do espírito…
Conseguia ultrapassar as nuvens escuras
de tenebrosas ameaças
e ver a luz.
Conseguia pôr a cabeça
e respirar para fora do lamaçal —
esgoto
de merdas,
merdinhas
e merdaças.

Porém a luta insana me esgotou.
Cansado,
submergi sob a influência do homem mau —
mitológico e orgulhoso representante
do Medo
e do Mal-feito.
O meu amor me deixou
e não consigo mais falar de amor —
boca que se calou
em campo de cultivo inóspito-asfaltado,
rumor de lembrança boa,
falta que magoa —
dor fantasma de membro amputado…

O garoto de coração partido…


Projeto Fotográfico 6 On 6 / Meu Canto

Eu não pertenço apenas a um canto. Ainda que minha casa seja um recanto onde gosto de estar. Com certeza, é o meu favorito. De cá, viajo para tantos lugares, sem sair do lugar. Dessa maneira, o meu canto é o mundo todo e além… para dentro e para fora. O meu canto é circular.

Dorô já passou, mas nunca passará, enquanto quem conviveu com ela viver. Reservo sempre um canto do meu pensamento para esse ser que surgiu misteriosamente em nossas vidas, filha de outra querida, a Lua, sua única gestação. Um mistério, já que nunca a vimos ultrapassar o portão de nossa casa. Eu trouxe a Dorô de volta de seu canto eterno para representar todas as outras criaturas de quatro patas que fazem do meu canto um lugar melhor para se viver.

Continuando na mesma toada, trago apenas um dos exemplares dos vários tipos de plantas que temos em nosso canto — a babosa ou aloe vera. Estas estão envasadas, como muitas. Outras, se espalham no chão, por outros cantos. Cuidar do jardim foi um prazer redescoberto de quando era mais moço. Franciscano e com mais espaço, eu deixava que as plantas expressassem livremente a seus gostos ou dos pássaros, que são responsáveis por parte do processo reprodutor desses seres especiais.

O meu canto fica ao centro, também. A região central de Sampa é um lugar que não me canso de visitar. Sempre que posso, observo as construções e juro que consigo ver a História circulando por cada via. Pareço “relembrar” épocas que não vivi. Tento conhecer os contos de cada canto da vida da cidade feita por mulheres e homens de todas as origens. Outras histórias, eu recrio. O meu coração fica no Centrão.

Depois de vários meses, voltei a fazer um evento. Respeito o poder da Pandemia. Não a nego. Mas depois de vários adiamentos, os noivos decidiram fazer o encontro onde festejariam seu enlace. Fomos pagos antes do surgimento da Covid-19 e apenas estávamos cumprindo o compromisso profissional acertado. Tanto o local quanto nós mesmos, equipe técnica e banda, seguimos todos os protocolos de segurança (possíveis). O meu canto também é onde estiver fazendo o que eu amo — meu trabalho. Com cantos.

Na década dos vinte anos, eu flertei com a possibilidade de entrar para Igreja Católica, apesar de não ser católico, ainda que meu pensamento fosse e ainda é intensamente influenciado pelo cristianismo. Haja vista as notícias que pululam por aí, muitos membros da Igreja também não são sequer cristãos. Ao me deparar com essa pequena igreja, me lembrei que o meu objetivo era, como frei, trabalhar para a comunidade e talvez não fosse de todo mal que me fixasse no interior do País, onde já pensei em fazer o meu canto, se não fosse terrivelmente paulistano. Percebam que neste curto parágrafo amealhei diversas contradições. Como no canto do Caetano: sou o avesso do avesso do avesso.

Entre as várias possibilidades de se estar, uma é permanente — a Periferia onde vivo. Completou cinquenta anos em 2019, viver aqui, na Vila Nova CachoeirinhaZN. Nasci no Centro, migramos, a família e eu, para a Zona Leste (Penha) e viemos para cá viver em uma casa bem simples, sem muitas das condições básicas, como esgoto, por exemplo. Para a minha mãe, foi um sofrimento, mas para mim, ainda que tenha passado por situações difíceis, sinto que fui feliz. Um dos meus cantos favoritos da casa é a varanda, ponto acima de todos, onde ainda posso vislumbrar o pôr do Sol, ao qual dedico vários dos meus cantos em homenagem ao seu calor e brilho.

Participam: Darlene Regina e Lunna Guedes

BEDA / Scenarium / Velho E Sorriso – Parte II

Velho estava acostumado a dormir pouco. Ainda que em dias de baile voltasse às 5h, às 8h se punha de pé. Não encontrou Sorriso. Gato pedia para sair para o jardim e foi atendido. Ao abrir a porta, viu Sorriso passando pelo portão com leite, frios e pãezinhos nas mãos. Ao vê-lo, sorriu.

– Bom dia, Velho! Não tinha quase nada, a não ser café. Fiz umas comprinhas.

– Bom dia, Sorriso! Não precisava… Nos últimos tempos, estou habituado a tomar apenas café, pela manhã.

– Também não estou acostumada… Vamos mudar um pouco. Tome um café da manhã completo, comigo, por mim, tá?

Sorriso, ao verbalizar seu pensamento, percebeu então sua ousadia. E se o que estivesse pedindo fosse demais? Será que ele a considerava tanto quanto imaginou?

– Se fosse fazer algo por alguém, seria por você, Sorriso… e pelo Gato, claro…

Seu rosto se iluminou no sorriso mais aberto. Entraram.

Se era uma coisa que Sorriso sabia fazer era café. Desde bem pequena, aprendeu a preparar a bebida para sua mãe. Em casa, mesmo cansada da noite do trabalho pelas esquinas do Centrão, encontrava prazer nesse cuidado de filha. Ao contrário do que acontecia com a maioria das pessoas, bastava Helena tomar a sua dose encorpada de café para se sentir torporizada. Dormia a manhã toda, enquanto Sorriso cuidava dos três irmãos. Sorriso acabou por ficar só quando dois deles morreram de parada respiratória por uso de cola e o terceiro sumiu sem deixar vestígios, todos antes dos dez anos. Sucessivamente, como praga dos deuses, Helena caiu gravemente enferma e morreu. Ainda antes mesmo de completar doze, já oferecia o corpo em troca de subsistência. Seu Zé, dono do cortiço onde morava – que ela via como uma espécie de pai – teve essa ideia para pagar o aluguel. Foi o primeiro a usá-la. Depois, passou a oferecê-la para outros homens. Fugiu. Vez ou outra, algum homem solitário a chamava para morar um tempo consigo. Ficava o tempo até perceber que se tornara uma empregada mal paga: de cama, mesa e limpeza, além dos eventuais espancamentos. Nunca quis ser uma “típica dona de casa”.

Desta vez, foi Sorriso que tomou a iniciativa de ficar com Velho. Percebeu que tinha uma imensa ternura por aquele homem experiente e triste. Queria cuidar dele, se assim permitisse. Alternativa que pareceu ser aceita quando, após o cheiroso café da manhã, Velho disse para Sorriso ficar à vontade e permanecer o tempo que quisesse. Completou que não impediria que ela continuasse o seu trabalho, se assim desejasse. Pela primeira vez, Sorriso desejou que alguém demonstrasse certo sentimento de posse por si…

Com o correr dos dias, semanas, meses, a relação dos dois se transformou em algo bem mais rico do que apenas uma mescla de simpatia e ternura que sempre existiu. E foi essa situação que os dois filhos de Velho – Júlio e Juliano – encontraram quando foram visitá-lo: um casal feliz. Aquela conjuntura os pegou desprevenidos. Mais uma vez, estavam decididos em convencer o pai a deixar a casa e ir para um asilo. Logo a vista do jardim redivivo, com flores novas a brotar nos canteiros, os deixaram desconcertados. Era como se Dona Nina estivesse esperando com suco, café e bolo. A saudade aumentou ao sentirem os mesmos aromas ao chegarem à porta.

Velho não havia lhes alertado sobre a nova situação quando avisaram que iriam encontrá-lo. Entretanto, preveniu Sorriso sobre como eles se comportariam. Experiente no trato com as pessoas, promotor e relações públicas durante cinco décadas, conhecia a natureza humana. Nada e ninguém o surpreendia. Suspeitando da insistência dos filhos em tirá-lo da casa na qual cresceram e onde ele viveu os últimos sessenta anos, procurou se informar e soube que aquela área estava cada vez mais valorizada e o terreno que abrigava a sua residência valia muito dinheiro. Era disso que se tratava. Nada de desvelo ou preocupação com o velho pai, ainda que se enganassem mutuamente que assim fosse. Nada de desejar o melhor para aquele que os sustentou, educou e se esforçou para que chegassem à faculdade. Apenas interesse econômico. Ele valia mais morto do que vivo. Já vira isso acontecer durante seu trabalho com o pessoal da terceira idade. Tornou-se confidente de muitos velhos – homens e mulheres.

– Como vai, papai? – perguntou o mais velho, Júlio, que aliás carregava o nome do pai.

– Bem! Como pode perceber…

Realmente, Velho parecia ter rejuvenescido uns dez anos. Continuou:

– Eu apresento a vocês, Sorriso, minha companheira…

Literalmente, com os queixos caídos, os Jota-Jota, como eram conhecidos, gaguejaram coisas como “pensamos que se tratasse de uma empregada ou cuidadora”; “o senhor nunca foi disso, se envolver com uma garotinha”; “deve ser uma aproveitadora, de olho em sua grana”…

Sorriso fez que não ouviu e mostrou porque carregava aquela alcunha. Disse de maneira bastante suave e até alegre:

– Fiz bolo de cenoura, café e suco. Por que não se sentam?

Como se tivesse lhes dirigido impropérios, os filhos de Velho começaram a gritar:

– Que é isso? Você não é Mamãe! Quem pensa que é? Putinha!

Velho apenas se dirigiu à porta e pediu que saíssem, com o coração apertado, intuindo que os filhos, para atingi-lo, impediriam que visitasse os netos.

– Isso não vai ficar assim, Velho! Vamos interditá-lo!

Quando saíram, Velho desabou no sofá e quase agradeceu por sua Nina não estar viva para presenciar aquela cena. Sorriso se sentou em seu colo e o abraçou afetuosamente.

O encontro com os filhos se deu no início de 2020. Ainda que doloroso, não quebrou a feliz rotina do casal. Velho e Sorriso, meses antes haviam se tornado assíduos frequentadores dos salões da noite paulistana. Velho reviveu as suas melhores noites. Para Sorriso, que com ele aprendeu seus primeiros passos de dança de salão, se descortinou uma vida que sequer imaginara. Em meados de Março, os bailes de casais começaram a ser cancelados com a chegada do novo corona vírus, com a promessa da progressão da Covid-19. Para evitar o seu avanço, a Quarentena foi instaurada. Não era difícil para o casal ficar em casa, com Gato a lhes acompanhar. Quem pudesse vê-los ocasionalmente, logo identificaria a cumplicidade natural daqueles que se amam.

No início de Abril, Velho começou a se sentir cansado e a tossir um pouco. Logo, percebeu que não estava nada bem. Disse a Sorriso que não queria ir para o hospital, nem que avisasse aos filhos. E pediu a ela que o deixasse sozinho para que não se infectasse com a doença que sentia progredir rapidamente. Sorriso o olhou dentro dos olhos, como gostava de fazer para ali encontrar o brilho do homem gentil e amoroso. Percebeu que estavam um tanto embaçados. Disse:

– Eu nunca mais sairei do seu lado…

Velho sorriu um sorriso de velho que era. Sorriso se deu conta que o estava perdendo. Tomou uma decisão, cujo desfecho só foi conhecido dias depois. Gato, que miava incessantemente no jardim frontal, pedindo para entrar, chamou a atenção dos vizinhos que passavam. Ao se aproximarem, sentiram um forte cheiro vindo de dentro da residência. Chamaram os bombeiros, que arrombaram a porta. Encontraram uma jovem de vinte anos e um senhor de oitenta, abraçados na cama de casal. Mortos. Um leve odor de gás evidenciou a causa dos óbitos.

Ao saírem com os corpos, os soldados passaram por Gato, assentado na cômoda da ante sala. Sonolento e indestrutível.

Beda Scenarium

BEDA / Scenarium / Velho E Sorriso – Parte I

O velho homem, entre tantos no salão de baile, não era percebido. Não mais. Antigo promotor de eventos, ainda sorri quando é reconhecido por poucos saudosos de seus bailes. Na maior parte do tempo, observa aos dançarinos, a dançar com os olhos em lugar dos pés cansados. Quase sempre, é um dos últimos a deixar o espaço como se ele mesmo se esvaziasse.

Num desses dias, madrugada alta, a caminhar para casa, o Velho passou mais uma vez pela mocinha sorridente. Costumeiramente, naquela área, ela se oferecia como a alegria passageira de homens e mulheres que pagassem 20, 10 Reais, durante anos-noites seguidas. Por vezes, sumia por semanas outras. Apesar do sorriso fácil, quase um cacoete, como se fosse um cachorro que abanasse o rabo entre as pernas por medo de ser atacado, Sorriso se abria em lábios de forma sincera para o velho. Em troca, recebia sempre um sonoro “boa noite” ainda que a manhã ameaçasse surgir.

Naquela madrugada, ocorreu algo diferente. Velho parou diante da moça que, surpresa, estancou em sorriso-esgar.

– Como vai você?” – ele perguntou.

Desacostumada a falar, a não ser para oferecer serviços e valores, pareceu não entender. Percebeu que a pergunta não havia sido mera formalidade.  Respondeu sinceramente:

– Hoje, não estou bem, Velho… – Ao se ouvir, Sorriso parou de sorrir, denunciando seus olhos tristes.

– Faturou pouco?

– Nem tanto…noite de muitos solitários…

– Quer amainar a solidão de mais um? Mas não quero entrar nesse cubículo escuro. Moro a uma quadra daqui. Sozinho. Gostaria de me acompanhar?

Sorriso não estava habituada a ser bem tratada. Via a Velho, como era conhecido por todos, sair acompanhado cada vez com menos gente ao seu lado. Ultimamente, ninguém. Aceitou o convite. Os dois caminharam sem mais nenhuma palavra. No entanto, pareciam conversar a cada olhar evidenciado pela luz artificial. Velho morava em uma casa baixa, uma das mais antigas da região, quase toda tomada por novas torres de moradia.

Passado o portão, o jardim escuro escondia o roseiral que sobrevivia apesar de não ter mais os cuidados de D. Nina, falecida há três anos. Os dois filhos, desde então, pressionavam pai viúvo a sair de casa para um retiro, já que viviam em apartamentos que não suportariam a presença de mais um, ainda que ele não tivesse problemas de saúde aparentes; ainda que fosse um avô amoroso. Em contrapartida, era pouco visitado.

Restou como único companheiro o gato angorá, tão antigo quanto alguns dos móveis da casa. Portento de resistência e pelos, postado sobre a cômoda que ficava no corredor de entrada, Gato foi a primeira coisa que Sorriso viu ao avançar com seus passos tímidos casa adentro. O miado quase inaudível foi acompanhado do olhar sonolento. Confirmada a presença de seu velho cuidador, Gato fechou os olhos de brilho preguiçoso.

Sorriso tinha diante de si uma casa ampla e de opressora solidão. Tudo cheirava a cortinado e mobiliário antigo. Velho disse para que Sorriso ficasse à vontade. Indicou o banheiro caso quisesse usá-lo e a cozinha, se estivesse com fome. Sorriso já não sabia quando estava com fome. O estômago, porém, o sentia continuamente vazio. Disfarçava com uma pedrinha de vez em quando ou, com sorte, um pó. Não gostava de maconha, por causa da larica. Após lavar as mãos, foi ver o que poderia encontrar na cozinha. Com pão amanhecido e queijo branco um tanto amarelado, fez um sanduíche simples. Perguntou se Velho gostaria que preparasse alguma coisa. Respondeu que poderia ser o mesmo que o dela. Para incrementar, ela esquentou o pão na frigideira e ao queijo acrescentou um tomate perdido na geladeira. Disfarçou a velhice do queijo com orégano e o serviu com a última lata de cerveja.

Aquela ação enterneceu o coração de Velho. O preparo do lanche simples o fez viajar para anos antes, quando Nina ainda conseguia erguer os braços e caminhar. As dores reumáticas começaram a impedir que pudesse fazer o mínimo esforço sem muito sofrimento. Desgostosa em não poder mais servir ao seu companheiro de meio século, definhou até falecer. Quando aconteceu, os filhos não estavam presentes, em férias, o que deixou Velho bastante abatido. Desejou acompanhá-la na viagem sem volta e só não o fez pelo compromisso assumido: cuidar de Gato.

Após o lanche, Sorriso perguntou o que ele queria que fizesse. Velho, franco e jovial, sorriu. Por um instante, ela chegou a vislumbrar o jovem que o velho um dia foi através da luz do tempo emanada de sua boca. Disse que queria que Sorriso tirasse a roupa e se deitasse ao seu lado. Acrescentou o convite para que dormisse ali, naquela noite.

– Atrapalha o seu trabalho?

– Não! Já estou no final do expediente. Há muito tempo, ninguém me espera!

– Ótimo! Não precisa acontecer nada. Estou cansado. Mas também vou tirar a roupa.

Ato contínuo, começou a despir-se do elegante terno preto de anos, mas bastante preservado. Deitou-se logo após. Sorriso pousou uma das pernas sobre o corpo de Velho e, se sentindo realmente segura e confortável, dormiu quase imediatamente.

Velho, comovido, fechou os olhos. Com a pele jovem a lhe tocar pernas e púbis, inesperadamente, teve uma ereção. Sentiu-se homem de novo. Adormeceu.

Beda Scenarium