BEDA / Quem Sou Eu Em Você

eu não gosto muito de mim isoladamente
mas quando estou consigo eu me amo em você
sou tão poderoso sou deus que busco
voltar à intimidade da criação
do início da vida explosão
que átomo a átomo abraço em seus braços
entrego a mim redivivo e me sinto homens
tantos que escapam ao domínio do medo
que teria o poder de amar suas mulheres
noites e dias tardes e alvoreceres
de continentes apartados pelos mares
tornar-me força única uma só ideia
toque particularizado em seu corpo
um planeta unido pantalassa-pangeia
renascido como quando a amei pela primeira vez
imenso e pequeno amado e intocável
diante de tanta infinitesimal grandeza
à luz da vida quando se expressa em choro
o som do universo exteriorizado
para dentro de meu peito inacabável
o fim é buscar o começo à procura do beijo
sugar a mama entranhar-se suar beber o sumo
línguas gemidos grunhidos urros falas e falo
faço vibrar preencho de sangue veias
que se aquecem
em ondas até verterem lágrimas leite e mel
sementes derramadas em solo impermanente
entre lábios nuvens dobras lençóis fronhas águas e areias.

Foto por cottonbro em Pexels.com

Participam do BEDA: Mariana Gouveia / Lunna Guedes / Roseli Pedroso / Suzana Martins / Darlene Regina

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Bonapetito

Nos primórdios de sua existência, os grupamentos humanos colhedores, pescadores e caçadores – encontraram, com a ajuda do fogo e temperos descobertos aqui e ali, maneiras de dar sabor aos seus alimentos. Com o desenvolvimento das civilizações, impérios surgiram e desapareceram baixo os mecanismos da oferta alimentar através da produção ou o controle de territórios que a produziam. A espécie humana cruzou oceanos em busca de especiarias e terras para a agricultura de grãos, legumes e frutas, inaugurando a globalização. Além de sustentar o indivíduo,  o alimento carrega vários outros significados. Em torno dele, as famílias se congregam. Agradecer a comida sobre a mesa tem caído cada vez mais em desuso, porém reverenciar o alimento que nos sustenta pode ser feito sem alarde – uma homenagem a quem trabalha para fornecê-lo e até ao próprio alimento, de origem animal ou vegetal.

Bonapetito (6)

Minha mãe, em época de restrições, complementava minhas mamadeiras de leite com café. Até os seis ou sete anos, usei mamadeira de manhã. Continuaria usando mais tempo, se o querido objeto não tivesse sumido. Ficou o gosto-vício pelo café. Não prescindo de tomá-lo, ainda que acorde tarde, quase na hora do almoço. O que ocorre frequentemente devido às minhas atividades profissionais. Hoje, tomar café virou motivo para encontros sinônimo de prazer dividido por amantes da bebida, como eu. ‘Bora tomar café?

Bonapetito (7)

Às terças, faço a feira da semana com muito prazer. Gosto de apreciar as cores, os cheiros dos legumes, temperos, grãos e frutas. Gosto de ouvir os pregões, sempre criativos, entre outros tantos reprisados, mas sempre engraçados. A festa dos sentidos sempre termina com o tradicional pastel de feira. Um caldo de cana é um complemento doce-ideal desse tradicional petisco. Difícil de dispensar, não deve se considerar um paulistano típico quem não passou por esse rito de passagem.

Bonapetito (4)

Quando a falta de tempo nos impede de prepararmos um almoço ou jantar mais completo, um sanduíche vem sempre a calhar. A depender dos ingredientes, a qualidade alimentar, além da rapidez são fatores que compensam sua feitura. Neste, de pão de forma integral, com atum, alface, filetes de cenoura, beterraba e maionese, além de bonito, estava bastante saboroso.

Bonapetito

Não há como dispensar um tradicional arroz e feijão, mesmo quando estou fora de casa. É o meu prato favorito. Nesta imagem, como acompanhamento, além de farinha de mandioca, banana nanica à milanesa, abadejo, mandioca frita e legumes com maionese. Como sobremesa, sagu feito com vinho, romeu e julieta (queijo e goiabada) doce de banana e pudim de coco diets.

Bonapetito (8)

As minhas filhas me apresentaram a comida japonesa há alguns anos. Por puro preconceito, a evitei por outros tantos. Foi paixão à primeira palitada! Comecei a empunhar os hashis com habilidade insuspeita. Ainda não sei, como elas, os diversos tipos dos sashis, sashimis, as variedades de temakis, guiosas e lámens. Além das variações encontradas em cada casa de comida japonesa. Esta semana, mesmo, pedimos para o jantar.

Bonapetito (3)

Não só de alimentos que colocamos garganta adentro nos carrega de energia. Vistas, sensações físicas proporcionadas pela brisa vinda do oceano ou a água do mar na pele. Os pés na areia, o barulho das ondas a quebrar na praia, o horizonte infinito, a luz do sol a transpassar por barcos, banhistas e pássaros compõem um prato delicioso. Água de coco para refrescar…

_________________________________________________________________________________________________

Alê Helga— Darlene Regina — Lunna Guedes
Isabelle Brum — Mariana Gouveia

Projeto Fotográfico 6 On 6 / Meus Ingredientes – Tortilha De Arroz

Quando executamos uma receita, daquelas que tem cheiro e gosto de saudade, viajamos para os lugares, os tempos, as circunstâncias e as companhias que a tornaram tão especial. É o caso da prosaica tortilha de arroz, que Dona Madalena lançava mão quando não tínhamos alternativas no cardápio, o que era comum acontecer na época de dificuldades financeiras da minha família – mãe lutadora, pai perseguido pela Ditadura e crianças alegremente ignorantes de tudo o que acontecia. Com o passar dos anos, mais do que algo que substituísse a falta, era motivo de alegria termos tortilha para o café da tarde ou almoço acompanhado de feijão.

20190306_213750

Tudo depende da quantidade de arroz – aquele que sobrou de um dia para outro ou até dias. Estando em bom estado, não importa quanto tempo foi feito. Acrescento farinha de trigo. Apenas uma porção, talvez 1/3 da quantidade de arroz. Salpico sal e cebola bem picada, para que possa se misturar na massa. Lembrando que o arroz já tem um pouco de sal, mas que deixa de ser tão efetivo devido ao acréscimo da cebola.

1

A depender do gosto, pode ser acrescido queijo parmesão ralado, muçarela ou qualquer um que estiver à mão. Quanto mais salgados, menos sal deve-se colocar. No caso de hoje, como só havia queijo tipo padrão, o cortei em pequenos pedaços, que ajudam a compor uma textura interessante, em que o queijo fica derretido no meio da tortilha. Logo após, coloco ovos. Começo a misturar até conseguir obter uma massa, ainda um tanto “seca”, esfarelada.

20190306_214628

Acrescento leite aos poucos, o suficiente para deixar a massa homogênea, após a mistura. Na falta de leite, pode ser usado água. Era o que acontecia muitas vezes quando eu era garoto. A massa tem que ficar de tal maneira que possa ser separada por uma colher de sopa, que dará o tamanho ideal ao salgado.

20190306_214219

Esqueçam o regime quando quiserem comer a minha tortilha de arroz – ela é uma fritura. Hoje, uso um tipo de óleo melhor e tento usá-lo apenas uma vez. Menino, quando comecei a comê-las, a minha mãe não tinha alternativa a não ser reutilizar bastante o óleo com duas ou três frituras anteriores. Muitas vezes, isso as deixava com um gosto diferente – com toque de peixe, galinha ou carne bovina – o que era mais raro.

20190306_213643

Ao final de tudo, quando as faço, quase nunca deixo de perceber algo especial. Introduzi a tortilha no cardápio da família que formei com minha companheira. Minhas três meninas aprenderam a gostar delas e a pedir de vez em quando. Com as suas reações, devido às formas inusitadas que as tortilhas apresentavam após a fritura, revisitava meu próprio encantamento sonhador. Quando decidi fazê-las pela primeira vez, simplesmente compreendi como as heranças passam de uma geração para outra – assimilação empírica-emocional. Além dos ingredientes – alguns mágicos-invisíveis-palpáveis – as porções simplesmente não são calculadas em números, mas em “quantum” de amor…

20190306_214810 (1)