B.E.D.A. / Maysa

Maysa (Larissa Maciel) canta Meu Mundo Caiu – Série Quando Fala o Coração

O meu pai tinha vários discos de 78 rotações, que eu comecei a explorar por volta dos 12 anos. Em certa ocasião, caiu em minhas mãos um que tinham de um lado “Meu Mundo Caiu” e, do outro, “Ouça”, com Maysa Matarazzo. Lançados no final dos anos 50, em 1973 eu os ouvi como se fossem hinos da melancolia que já começara a se esboçar em minh’alma juvenil.

Quando a audição de cada uma delas beirava a dúzia, os meus pais pediram para que eu parasse, “pelo amor de Deus!”. Desde então, os olhos verdes de Maysa se tornariam dois dos meus faróis. Por eles, passei a explorar esse lado gostoso da fossa de amores que eu nunca vivera.

O primeiro clipe que postei aqui é da série televisiva “Quando Fala O Coração” (2009), escrita por Manoel Carlos e dirigida pelo próprio filho de Maysa, Jayme Monjardim, que nela decanta os seus dramas pessoais e revela a força de quem ousou desafiar os limites impostos às mulheres à época que vivia. O segundo foi uma participação em um filme de 1958, o que era muito comum acontecer para divulgação de lançamentos dos artistas de então.

Após a sua “descoberta” por mim, acompanhei com sofreguidão todas as vezes que surgia em nossa televisão em preto e branco. Então, já vivia uma fase de decadência em sua voz, cada vez mais rouca devido aos excessos com bebida e cigarro. O que não impedia que continuasse a amá-la, como ainda a amo, mesmo depois de seu passamento, em um acidente em janeiro de 1977, ao perder o controle do Fusca que dirigia em alta velocidade na Ponte Rio-Niterói.

1977 continuou a ser difícil para mim. Em agosto, Elvis Presley morreu (ou não) e Charles Chaplin descerrou as cortinas em dezembro do mesmo ano.

Participam do B.E.D.A.:
Lunna Guedes
Adriana Aneli
Mariana Gouveia
Roseli Pedroso
Darlene Regina
Cláudia Leonardi

Sabor De Veneno*

O ano, 1979. Aos 17 anos, eu era um assíduo telespectador da TV2 Cultura de São Paulo e via programas dos mais variados. De especiais de teledramaturgia, como Teatro 2; de variedades, como Ação Super 8; de entrevistas, como Vox Populi; a musicais, como MPB Especial e iniciativas como o 1° Festival Universitário da Canção, que se transformou num marco do movimento musical chamado Vanguarda Paulista.

Talvez saudoso dos festivais dos anos 60 e 70 da TV Excelsior e da TV Record, busquei assistir todas as apresentações. Quando surgiu no palco a Banda Sabor de Veneno, comandado por Arrigo Barnabé, a sensação de estranhamento, a princípio, deu lugar a um crescente entusiasmo, culminando em uma irresistível impressão de que via o sol nascer de novo, em plena noite, apesar de presenciar tudo por um aparelho televisor em preto e branco. Foram duas apresentações Infortúnio” e “Diversões Eletrônicas que mostraram outra possibilidade de se fazer música brasileira.

Nos vídeos adiante, estão explicitadas as influências que dirigiram as construções dos temas e as repercussões que obtiveram do público presente. Eu, por mim, celebrei essas pérolas musicais como se fossem clássicos instantâneos. Quem tiver a paciência de assistir os vídeos até o final talvez estranhem e se perguntem a razão que leva alguém que cita como exemplos de influências importantes de representantes da MPB Maysa Matarazzo, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Elis Regina a versar sobre algo totalmente diferente dessa matriz de maneira tão entusiasmada. O critério que utilizo é a profundidade da repercussão que causou em minha visão artística.

Foi um verdadeiro marco que percebo como fundamental, independente da altíssima qualidade de várias outras produções que os compositores brasileiros apresentaram ao longo dos últimos cem anos, na linha popular. “Diversões Eletrônicas” remete à popularização dos locais onde havia máquinas de jogos eletrônicos, como o fliperama e outros, além de mecânicos, como pebolim, que eu e meus colegas do colegial frequentávamos com assiduidade e alegria. Talvez, com frequência demais e alegria demais.

Ao final, um adendo sobre Aizita Nascimento, a apresentadora do festival. Tinha voz bonita e postura de rainha. Era a única presença negra na Mídia brasileira de então no setor jornalístico, que eu me lembre. Formada em Enfermagem em 63, participou do concurso de Miss Guanabara, tornou-se vedete, foi uma das Certinhas do Lalau, trabalhou em Teatro e Cinema, além de programas e novelas de TV. No final dos anos 80, deixou a vida artística e voltou a exercer a sua profissão primordial, o que faz até o dia de hoje. Linda, pioneira e corajosa.

Infortúnio
Diversões Eletrônicas

BEDA / Ouça, Meu Mundo Caiu

O meu pai tinha vários discos de 78 rotações, que eu comecei a explorar por volta dos 12 anos ou antes, talvez. Em certa ocasião, caiu em minhas mãos um que apresentava de um lado “Meu Mundo Caiu” e, do outro  “Ouça”, de Maysa Matarazzo. A bolacha  datava de 1961, ano do meu nascimento. No início do anos 70, eu os ouvia como se fossem hinos que traduziam a melancolia que já começara a se esboçar em minh’alma juvenil. Quando a audição de cada uma delas beirava a dúzia, os meus pais pediram para que eu parasse, “pelo amor de Deus!”. Desde então, os olhos verdes de Maysa (mais imaginados do que vistos) se tornariam um dos meus faróis. Por eles, passei a explorar esse lado gostoso da fossa por amores que eu nunca vivera que, por isso mesmo, se tornavam mais reais.

Um dos clipes que estou a indicar aqui são da série televisiva “Quando Fala O Coração” (2009), escrita por Manoel Carlos, com argumento e direção de seu próprio filho, Jayme Monjardim, que a obra decanta os seus dramas pessoais e revela sua relação conturbada com a mãe – mulher forte que ousou desafiar os limites impostos às mulheres da época em que viveu.
Após ser descoberta por mim, acompanhei Maysa com sofreguidão todas as vezes que surgia em minha televisão em preto e branco, quando sua voz já vivia uma fase de decadência, cada vez mais rouca. O que não impedia que continuasse a amá-la, como ainda a amo, mesmo depois de seu passamento, em janeiro de 1977. Foi um ano difícil para mim, que em agosto vi Elvis Presley se despedir da vida (ou não) e Charles Chaplin descerrar as cortinas em dezembro.
Ouça
Meu Mundo Caiu

BEDA | Você Me Fez Chorar

Rádio
Ondas sonoras

… “Você me fez sofrer, você me fez chorar…” – Teria eu levantado bem mais cedo, quando despertei às sete horas da manhã, e poderia ter aberto as minhas janelas, ter sentido o gostoso ar frio matutino deste Agosto e ter ouvido os pássaros retardatários, que ainda não teriam saído de seus galhos hospedeiros para passear, enquanto ainda teria visto as árvores do meu quintal receberem a visita dos vizinhos alados da redondeza. No entanto, voltei a dormir, ainda cansado do trabalho do dia anterior, e acordei com a música urbana, produzida pelos humanos, três horas depois.

Os meus vizinhos, em dois ou três pontos, reproduziam as canções de seus gostos. Que eles acreditem que todos ao seu redor também apreciem o que ouvem, é algo que não consigo entender… “Você me fez sofrer, você me fez chorar…”. Mas, sou daqueles que tentam encontrar sempre um propósito em tudo, além de ter a horrível tendência em construir enredos para análises sociológicas em cada movimento dos seres da minha espécie biológica.

Ainda garoto, pensava em me tornar um asceta, me refugiar em alguma montanha ou vale esquecido e fugir das pessoas, pois convictamente, me sentia um E.T. Atualmente, vivo em um vale, cercado de morros, na periferia de São Paulo, e sei que sou um ser gregário, que estou no mundo e que apenas na convivência entre nós, humanos, poderemos encontrar o meio termo onde resida a paz. É claro que tudo isso em tese, porque há ocasiões que perco facilmente a estribeira.

Enfim, estar equilibrado é um exercício permanente! Na guerra de sonoridades, o tema preferido girava em torno de amores mal realizados… “Você me faz sofrer, você me faz chorar…”. Em uma época passada, o Brasil viveu uma fase de letras riquíssimas, mormente espraiadas em sambas-canções de melodias inesquecíveis (“Meu Mundo Caiu”, de Maysa, é uma delas, por exemplo) e até poderíamos dançar ao ouvi-la, acompanhando o seu compasso lento, de rostos e corpos colados, vivenciando a tristeza de uma maneira libertadora. Hoje, se isso acontece, será sempre através de músicas com andamento acelerado, em que as pessoas dançam alegremente com um sorriso no rosto, volteando em piruetas e saracoteios.

Igualmente, no samba, que inaugurou desde os seus primórdios essa tendência, muitas vezes ouvimos versos destilarem o sofrimento em passos em que os pés respondem com energia e alegria à revolta que sentimos pelo amor que nos feriu. Eu me lembro que, quando menino, virgem de corpo e alma, adorava sofrer os amores que não havia ainda vivido. Lupicínio e Elis me faziam companhia. Hoje em dia, as referências são outras… “Você me fará sofrer, você me fará chorar…”.

Participam do BEDA:  Claudia — Fernanda — Hanna — Lunna — Mari