17 / 10 / 2025 / Os Olhos Dela

como se entrasse num labirinto
dei de me perder nos olhos dela
parece que me tragavam para dentro de um mundo novo
perdido em antigas tramas de atração fatal
embarcado em nau amarrado ao mastro central
ouvia como que um canto de sereia em calmo mar
da boca que movia os lábios como se fossem ondas
de luz das águas profundas de seu olhar
meu coração batia como se montado em corcovo
de indomável cavalo selvagem em campos de pleno sol
bastava ver bater os cílios de seus olhos em miragem de morte
como se buscasse sugar a minha seiva de depauperada árvore
que tomba como se tivesse cortados caule e ramagem
forças naturais que se avultam em poder e vingança
ao mundo que tenta destruir a vida que palpita
no meu peito de homem velho
parte daqueles que sangram o sangue de escuro vermelho
marcando o chão da estrada na caminhada da terra de perdido brilho…

Foto por Ennie Horvath em Pexels.com

12 / 08 / 2025 / BEDA / Veio À Luz

veio à terrena luz…
foi difícil durou horas…
a porta não se abria
criaram um outro caminho
chegou chorou nos fez sorrir
dias depois novas possibilidades
novos olhares
algumas dores
o serzinho de boca pequena
desejante de vida plena
se amamenta da mama da mamãe
conexão com a existência
que será difícil árdua complicada
mas ela é voraz abocanha o mundo
profícua em imaginação luta
se desloca para o antigo mundo
caminha como se lá tivesse nascido
faz amigos sangue antigo
o mesmo que lhe traz perigos
mas não deixa de alcançar abrigos
leoa na estepe do viver
se recusa a morrer
mas se isso acontecer
não deixará de a si mesmo vencer
em conversa com as luzes
percebeu que estará em paz com seu novo corpo
de frequências fugazes
sem consistência e espessura
apenas alma pura
viajante pelo universo
finalmente liberta e aberta
para a Vida desperta…

1º. / 08 / 2025 / BEDA / Estado De Negação

Acima, temos a imagem do monumento de Abraham Lincoln. Foi o 16º presidente dos Estados Unidos da América, liderando o País na sua maior crise interna, a Guerra Civil Americana, preservando a integridade territorial, ainda que tenha suscitado uma certa divisão ideológica entre o Norte (União) e o Sul (Confederação). Ocasionado principalmente pela abolição da escravatura defendida pelo Sul. Desde então, os EUA se tornou o centro da atenção do resto do Mundo. Terra prometida, recebeu imigrantes de todo o planeta que os ajudaram a prosperar e criar expectativas como exemplo de desenvolvimento tecnológico, social e ideal capitalista.

Durante os séculos subsequentes após a Guerra de Secessão, o crescimento do País abarcou possibilidades jamais imaginadas antes, servindo de modelo a ser alcançado. Até que… um suposto homem de negócios infalíveis que, de fato quase chegou à falência sobrevivendo ao cometer uma série de transgressões contábeis, manteve o seu império e, vaidoso, assumiu o desejo de se tornar o homem mais poderoso do Mundo. Conseguiu se eleger uma primeira vez e após um interregno de quatro anos, voltou a se eleger, algo que só não aconteceu por um centímetro.

Hoje, o Agente Laranja, em seis meses, conseguiu transtornar todo o sistema econômico que o próprio EUA ajudou a expandir. Foi uma iniciativa esdrúxula resultante por ter dormido sobre a ideia de que fosse hegemônico. Tendo o maior mercado consumidor mundial, passou a sobretaxar os produtos que chegam aos EUA numa espécie de chantagem comercial. As últimas notícias são mais graves ainda, pois deu ordens que submarinos nucleares se posicionem perto da Rússia após um entrevero verbal com o ex-presidente russo Medeved, um sujeito tão linha dura quanto o Agente Laranja é imprevisível.

Quer dizer que um homem repugnante em quaisquer termos, incluindo o moral, está colocando o planeta em suspensão também no sentido bélico. É tudo tão assombroso que a tentativa de intervir no Brasil com a nítida intenção de auxiliar um aliado ideológico de viés ultradireitista é até leve diante da tentativa de colocar uma outra potência nuclear contra a parede. Fico pensando se Abraham Lincon poderia imaginar que um dia, no futuro, o maior mandatário do País fosse um bucaneiro que brinca de desgovernar uma nação inteira, enquanto fatura, com as suas resoluções, bilhões de dólares ao apostar contra as moedas dos países sobretaxados.

31 / 07 / 2025 / Velho Aos 10

Desde jovem sou apaixonado por Maysa. Quando descobri um disco dela perdido entre outros, tão ou mais antigos quanto, eu simplesmente não parava de ouvi-lo, a ponto de deixar todo mundo em casa maluco. O meu pai tinha um disco de 48 rotações que de um lado tinha “Meu Mundo Caiu” e, do outro, “Ouça”. Eram belíssimos exemplos das chamadas músicas “dor-de-cotovelo”. Eu tinha cerca de dez anos e já sofria por amor não correspondido, vê se pode…

04 / 07 / 2025 / Independência?

A independência dos Estados Unidos foi a separação política das Treze Colônias da América da sua metrópole, a Inglaterra. A Foi declarada em 4 de julho de 1776, quando deputados das Treze Colônias, reunidos no Segundo Congresso Continental, aprovaram a Declaração de Independência. Em 1845, houve a anexação do Texas, que se tornara independente do México. Em seguida criou-se a expressão “compra da Califórnia” referindo-se a dois eventos históricos: o Tratado de Guadalupe Hidalgo e a Compra de Gadsden. O primeiro, assinado em 1848, encerrou a Guerra Mexicano-Americana em que vastos territórios do México foram cedidos aos EUA, incluindo a Alta Califórnia

O segundo, em 1853, envolveu a compra de terras no sul do Arizona e Novo México, adicionando áreas que seriam cruciais para a construção de uma ferrovia transcontinental. Quase cem anos depois da independência, entre 1861 e 1865, a Guerra Civil Americana, também conhecida como Guerra de Secessão, travada entre a União vencida por esta, que defendia a Abolição da Escravatura contra os Confederados, formada por territórios que relutavam conceder tal prerrogativa. Apesar da rivalidade entre os vencedores e os derrotados ao final de tudo a expansão territorial se tornou um consenso comum.

Desde então os Estados Unidos da América do Norte se desenvolveu absorvendo ilhas do Caribe após a Guerra Hispano-Americana, ocorrida em 1898, que resultou na perda das Colônias espanholas após o conflito contra os Estados Unidos, aumentando gradativamente sua influência na região, que passou a se expandir para além do Oceano Atlântico, chegando à Europa.

Com o advento da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos da América do Norte desenvolveu a indústria armamentista para fornecer aos países europeus que se digladiavam numa guerra que foi considerada uma das maiores carnificinas já havidas com a utilização pela primeira vez de gases mortais, bombardeamento por aviões, mesmo que de forma precária, pelas mãos dos próprios pilotos. O cenário dessa guerra foi crucial para o desenvolvimento de armamentos com cada vez maior poder de morticínio. O País para além do Oceano Atlântico foi o maior beneficiário da Primeira Guerra Mundial no Continente Europeu.

O seu crescimento, como se pode observar, se deveu a uma série de conflitos que ajudaram o natural pendor bélico americano, já utilizado na absorção de terras indígenas através da invasão, extermínio de várias tribos e transferência de populações autôcnes inteiras de um ponto a outro do País. De fato, nada diferente da História em várias eras de lutas entre os seres humanos no desenvolvimento de suas várias civilizações. Mas o que acontece atualmente é que vivemos um momento em todos os eventuais avanços civilizatórios já alcançados após tantos conflitos parece ganhar impulso na manipulação da realidade através do poder econômico bélico do Grande Irmão do Norte com a assunção de um sujeito que se autoproclama como Rei do Mundo.

Esse sujeito passa o aniversário da Independência dos Estados Unidos comemorando a inauguração de uma prisão em uma região inóspita, cercada de pântano habitada por enormes jacarés que, segundo a boca do próprio ridículo ser, trabalharão de graça para conter as eventuais fugas. Essa prisão está designada para imigrantes criminosos, segundo a sua ideia. No entanto, para ele qualquer imigrante é criminoso. Ou seja, o País que cresceu absorvendo populações inteiras de imigrantes (incluindo o seu próprio pai) que ajudaram a desenvolver o poderio norte-americano, agora empreende uma política de erradicação de uma influência cultural que gostaria de ver expurgada.

A sua beligerância é respondida com a violência que empreende em suas relações, incluindo as “amigáveis”. O seu trato com a realidade é permeada por uma visão de invasão e conquista, aviltar e validar uma postura que é, em essência, tudo os que odeiam a “América” propagam como um “Mal“. A bandeira em chamas é, de fato, a marca da História desses Estados unidos desde o início na conflagração. E talvez o sujeito que agora está no poder, guindado pela “maioria” da sua população, incluindo aqueles que estão sofrendo a implantação da política que jurou implantar — ataques à seguridade, aos imigrantes, à Classe Média e benefícios aos ricos e aos muito, muitíssimos ricos — represente firmemente a “melhor” característica americana. Sinceramente, não vejo independência num lugar preso a uma História pesada de aniquilação das mais básicas regras civilizatórias, mas que marcam o caminho que trilhamos desde o desenvolvimento do Homo sapiens.